Professora de Língua Portuguesa e Literaturas, doutora em Literatura Comparada, Sílvia Barbalho Brito – ou simplesmente Sílvia B – se mostra uma poeta contundente em seu livro de estreia.
Com uma aura rock n’ roll e dividido em duas partes, “Bestiárias” traz poemas que versam sobre as impressões da autora acerca da mulher/fêmea revolucionária – e suas múltiplas facetas. Denunciando o machismo, rememorando lembranças da infância, dedicando um belo poema a Albert Camus (1913-1960) e muitas outras coisas, a poeta cativa pelo repertório e sagacidade.
Por exemplo, não faz muito tempo desde que descobri que a cena mais icônica de “Cantando na Chuva” (1952) foi filmada durante um episódio febril de Gene Kelly (1912-1996). E que pena que eu tenha descoberto esse fato fora das páginas de “Bestiárias“, de Sílvia B, onde ele certamente encontraria um contexto ainda mais significativo e poético nos versos: “Tenho tido aquelas visões cinematográficas/de quem canta ensopado/segurando feliz um guarda-chuva (…)/Mas eu sei da febre do ator.”
Com quase dez anos de experiência na escrita literária, incluindo publicações em zines e revistas, Sílvia se mostra segura ao criar um espaço para quem ama a literatura e está sempre discutindo sobre um livro na mesa de um café, no auditório de uma universidade ou na solitude de uma biblioteca caseira. Regina Azevedo foi muito perspicaz ao escrever, na orelha do livro, que “ao escrever um poema, a mulher se faz fera”.
O poema apresentado ilustra bem essa afirmação: “Quando ouço um grito de homem/Imagino ser/Uma partida de futebol/Uma topada/Um cocô de cachorro/Um dinheiro achado/Uma faca amolada/(…)/Queria pensar o mesmo quando ouço um grito de mulher.”
Esse texto foi escrito ao som de Janis Joplin – “Maybe”.
📌 Resenha escrita por Ramon Felipe. Publicado com autorização do autor.
Ramon Felipe nasceu em Natal, capital do Rio Grande do Norte, no final do século XX. Graduado em Letras e pós-graduado em Docência no Ensino Superior, o professor dedica-se à poesia enquanto poiesis, isto é, ao processo de criação e ao exercício metalinguístico/intertextual. Em 2021, recebeu certificado por trabalho em destaque no Festival Literário de São Miguel do Gostoso.
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