Poesia também é protesto. Também é denúncia. Também é resposta.
E, cada vez mais, também é trincheira.
Num país como o Brasil, escrever poesia é, por si só, um ato político — ainda mais quando essa escrita nasce das bordas, dos silêncios impostos, das feridas abertas. Por isso, muitos autores e autoras têm reivindicado o termo escrita insurgente: aquela que não se encaixa, não se curva, não finge neutralidade. Aquela que resiste com palavras.
Mas afinal, o que faz de um poema uma insurgência?

📣 Escrever contra as estruturas
Uma escrita insurgente é aquela que nomeia o que os centros tentam apagar: o racismo estrutural, a violência policial, a desigualdade de classe, a exclusão de corpos dissidentes, a marginalização das vivências periféricas, indígenas, negras, trans, gordas, neurodivergentes.
Ela se recusa a “suavizar” a própria existência para caber nas estantes que não a querem.
Ela escreve para permanecer — mas também para incomodar.
“Meu poema não quer ser bonitinho. Quer ser grito. Quer ser corpo. Quer ser faixa em passeata”.
🔥 A palavra como desobediência
Poetas insurgentes entendem que o texto pode ser um ato de desobediência civil.
Recusar a norma culta, usar gíria, misturar línguas, rimar o que quiser. Falar da favela como quem ama e não como quem observa. Desmontar o padrão estético de quem sempre teve o microfone.
Esses poetas não escrevem para “virar clássicos”. Escrevem porque precisam.
Escrevem pra não enlouquecer. Pra deixar rastro. Pra furar a lógica do esquecimento.
🧠 E não é só sobre o tema: é sobre o lugar de fala
A insurgência não está apenas no assunto — mas em quem escreve.
Um poema sobre racismo escrito por alguém que nunca sofreu racismo é outro tipo de texto. Pode ser bem-intencionado, mas não é insurgente. Porque a escrita insurgente vem do dentro.
Do corpo que carrega a vivência. Da pele que tem memória.
É por isso que tantos poetas defendem que publicar poesia não é só estética — é também reparação histórica e justiça simbólica. Publicar é ocupar.
💥 Insurgência é também amor
Sim, a poesia insurgente fala de dor. Mas ela também é celebração, gozo, memória afetiva, abraço entre iguais. Escrever sobre o corpo trans que ama. Sobre a avó preta que cozinhava para dez. Sobre a dança da quebrada. Sobre a língua que a escola tentou apagar.
Isso também é insurgir. Porque quando a vida é cerceada, viver bem é resistir.
🖋️ Poetas insurgentes que nos atravessam
Autores como Jéssica Iancoski, Ryane Leão, Mabelly Venson, Bruna Mitrano, Cidinha da Silva, Márcia Kambeba e muitos outros escrevem desde o lugar do grito, mas com estética, cuidado e impacto. Suas campanhas de pré-venda, zines, livros independentes e saraus mostram que a insurgência literária está viva — e sendo lida.
✊ Conclusão: escrever é tomar posição
Escrita insurgente não é tendência.
É urgência.
É poesia que não cabe nos moldes, mas cabe em quem precisa.
É verso que não rima com elite, mas ressoa com quem já foi calado.
É escrita que não se explica: se impõe.
E não pede licença pra existir.
Se você também escreve do avesso do mapa, do lado de fora do cânone,
saiba: seu poema é resistência.
E sua palavra é necessária.