#670 Du Fortes – É Assim Que Se Ilude A Humanidade | Poesia Contemporânea: Na Voz do Poeta

Eduardo Fortes é nascido e criado na cidade de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais. É formado em Direito pela FDSM. Eduardo Fortes começou sua caminhada com a poesia escrevendo para jornais impressos da cidade e uma dessas publicações, a coluna semanal “Onde é que eu me encaixo?”, futuramente se tornaria o título do seu primeiro livro, lançado em 2010. Após dezenas de textos publicados, o músico, compositor e empresário entra para a Academia Pouso-alegrense de Letras. Eduardo se prepara para lançar seu segundo livro de poesias no primeiro semestre do ano de 2022. O poeta busca, novamente, atingir o público jovem e adulto, com seus textos que caminham entre a poesia, a prosa e o verso, dotados de musicalidade nas palavras e efeitos metafóricos. A intenção é de compartilhar e estimular reflexões sobre a vida e a existência nesse mundo de contrastes e paradoxos.

 

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Du Fortes – É Assim Que Se Ilude A Humanidade

 

A felicidade é uma sombra,

apenas mais uma sombra

que assombra os mais iludidos, 

os mais fodidos, que ainda acreditam

no conto do vigário, como se fossem o corsário de um velho navio imaginário, 

navegando pelo corpo de uma deusa faminta e psicodélica, 

que tanto nos instiga com seus feitiços e magias, para querermos sempre mais e nunca estarmos satisfeitos com o que nos é de direito, aqui no nosso cais.



A felicidade não tem meio, fim, nem começo,

ela é apenas o suspiro que existe no vão entre a sanidade e a perturbação que faz a gente querer preencher o tudo que tanto insiste, ainda, em querer fazer qualquer sentido, 

em querer qualquer explicação, qualquer falsa encenação da nossa triste encarnação, 

na difícil missão de conseguir sobreviver.

 

A felicidade é uma cidade, toda iluminada, configurada, padronizada

pelos eretos postes de concreto, sempre quietos, eletricamente calados, 

fincados em cada esquina, com suas cápsulas de gelatina, poderosamente brilhantes, 

os representantes dessa nossa luz tão artificial que exalam nossos desejos mais banais, carnais, nossos sentimentos tão interpessoais, 

advindos de comportamentos humanos, tão irracionais 

que nós ainda insistimos em chamar de “iluminação”.

 

Desorientados e desfigurados, 

empossados de uma vontade insana, 

[quase desumana]

buscam encontrar a luz no fim de qualquer rolo vazio de papel higiênico.

 

A felicidade também é uma penumbra,

é um querer, um disfarce barato 

só pra gente poder esconder tudo aquilo que foge e aflige, que bate e atinge 

o consciente da nossa mente e de quem mais odeia sofrer. 

A felicidade não é uma feliz cidade, nem a feliz idade, em idade e lugar qualquer.

A felicidade é a crença, sem que haja desavenças, é a falsa paz de um momento repetidamente único, repentinamente brusco. É  a fé sem nenhum questionamento, 

são os breves relacionamentos, presos em cada momento do que tiver que ser.

 

Mas eles não entendem o risco que existe, 

o raio que incide e o detalhe que imprimi 

a sutil diferença que distingue 

a flor do espinho, 

a água do vinho, 

o inverno do frio que faz dentro de um coração 

quando a gente se engana em meio a emoção. 

 

Traídos pelo racional,

abandonados pela moral,

aqueles que foram deixados, que foram marcados pela crueldade da triste realidade brutal, desse mundo imundo e tão banal, ordenado pelo ouro, pelo aço, pelo óleo ou qualquer outro material, seguem sonhando, mesmo sem um par de asas, eles seguem sonhando, seguem imaginando o amanhã que parece nunca chegar. 

 

Traídos pelo racional, abandonados pela moral, aqueles que foram deixados, de lado, seguem cheios de esperança, seguem dançando a dança conforme a música que toca a banda, seguem roubando do próprio tempo, burlando o sofrimento, mutilando seus pensamentos, acreditando nos mandamentos do tão temido criador.

 

Mas eles não são felizes enxergando poesia em tudo, recitando poemas de amor, 

poemas sobre a vida e todo o seu torpor.

 

Viver de alegria, nessa vida, seria uma agonia de pura melancolia da mais fina classe e sabor. 

 

Acreditem!

A poesia não é felicidade.

A poesia não é feliz. Nunca foi.

A poesia é apenas mais uma das inúmeras formas que os vagabundos da madrugada,

infiéis e hostis, condecoradamente intitulados poetas, sempre encontram para trazer o desencanto e a desordem ritmada de sentimentos cruéis para serem gravados nos papéis ou nos muros dos quartéis, 

ilustrando a vida dos camponeses tão sofridos e abusados pelos senhores coronéis, 

tapando a ferida com suas idiossincrasias em cores tão fingidas, apáticas, 

camufladas com as harmonias dos modernos menestréis, tão pasteis.

Nesse mundo tão ordenado e afável dos Deuses ditadores de suas próprias ordens, rabiscadas em meio a tanta desgraça, em seus códigos penal, civil e falso moralista, 

nós vivemos o hoje com um pé calçado no passado

e o outro descalço, a tatear e experimentar o futuro todo desprogramado que os nossos filhos, tão amados, terão o infortúnio desprivilegio de ter que viver também.

 

Homens e mulheres dizem e desdizem tudo aquilo que fingem acreditar ao acordar de cada manhã, ainda sonolentos de desespero.

 

[Voltemos a dormir].

 

É quase o fim.

 

Perdidos por aí, 

falam como se fossem os maiores oradores dos tempos; 

escrevem como verdadeiros reis da literatura, encenando como globais de quinta categoria, mal pagos pela ingratidão desse jogo de vaidade inútil. 

Ideologia virou moda e caiu em desuso por aqui.

 

São tantos imbecis a procura da razão;

infelizes seres tentando fugir de suas próprias emoções. 

 

São tantos minutos dentro de apenas uma hora, regrados por mais e mais segundos dentro de frações tão furiosas e cheias de mistérios desse mundo.

 

Tic-tac infinito do soberano da selva de pedras.

Ponteiros afiados que cortam qualquer exceção, concessão, [diversão].

Eles rasgam os panos e todos os nossos planos. Eles rasgam a pele, os nossos sonhos, 

eles vão conseguir desmentir os milagres e todos os santos. 

Tenham piedade. 

 

Piedade senhor!

 

Pois, assim, fica difícil acreditar em um tempo moderno, que rasteja em um ritmo tão lento, tão tenso e vazio. 

 

Estamos no meio de uma revolução de migalhas, esfarrapadas.

É a mais pura falsa intenção de mãos dadas com essa falta de noção, 

querendo nos mostrar que precisamos ter mais calma, mais alma e menos ódio no coração. 

 

As nossas crianças não vão se lembrar das nuvens de algodão, 

das músicas de ninar, dos tempos de outrora…

 

Acordemos. Abramos os olhos e cantemos. 

Oremos. Façamos alguma coisa para que sejamos felizes, de verdade. 

Que seja por um segundo,

que seja pela vida toda,

que seja para você não se perder,

dentro daquele único ser, em quem ainda é possível de se acreditar:

Você mesmo. 

 

[E assim se ilude a humanidade].

 

 

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Poema: É Assim Que Se Ilude A Humanidade

Poeta: Du Fortes


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