3 Poemas de Geraldo Ramiere

Três Poemas de Geraldo Ramiere, para o Toma Aí Um Poema.

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É poeta, contista, professor de História e produtor cultural de Planaltina-DF. Escreve desde adolescente, possuindo diversas obras em antologias/periódicos e o blog literário Céus Subterrâneos. Participou de inúmeras produções artísticas, principalmente saraus. Em 2021 está publicando seu primeiro livro, Desencantares Para O Esquecimento (poemas), pela editora Viseu. Acredita numa literatura que liberta.

PRIMEIRA CANÇÃO

                    Repara bem

                   No que não digo

                   Paulo Leminski

Sequestraram meu silêncio

Arrancaram-no de casa, encapuzado

E exigiram que confessasse seus crimes

Mas ele se recusou

Agrediram-no com socos e pontapés

Seu sangue escorrendo

Pela boca, nariz e ouvidos

E aos berros exigiram que confessasse

Mesmo assim, ele se recusou

Então o torturaram: choques elétricos

Agulhas nas unhas, queimaduras de cigarros

Furaram seus olhos, quebraram os dentes

Pela última vez exigiram: “confesse!”

E ele esboçando um sorriso

Novamente se recusou

Por isso o aprisionaram

Durante anos sozinho

E quando do cárcere o trouxeram

Nada mais perguntaram

Condenado à morte, foi enforcado

E seu corpo cortado em pedaços

Espalhados por todos os lugares

Porém, passado algum tempo

Houve o imprevisto

De diversos lugares, dos campos a cidades

Começaram a surgir sussurros e risos

Arredias canções desacorrentadas

Que logo se transformaram

Em palavras sem controle

Foi quando eles enfim perceberam

Que haviam feito apenas

O que meu silêncio desejou


LIBERTÁRIA

A poesia quer é estar nas ruas

Manifestar, gritar sem ordem

Sair dançando pelas avenidas

Rir pelos bares, ébria em bocas

Intensa, livre e libertária

Controversa e aversa às doutrinas

Versada em línguas soltas

E palavras desregradas

A poesia a ninguém pertence

Sendo somente dela mesma

É feminina, feminista e forte

Sabendo sangrar ao renascer


COM O DEDO NA GARGANTA

Eu queria que minha poesia

Se transformasse em pão
Para alimentar a todos que têm fome
Eu queria que minha poesia 

Se transformasse em cobertor
Para agasalhar quem sente frio
Eu queria que minha poesia 

Se transformasse em coragem
Para libertar os aprisionados pelo medo
Eu queria que minha poesia

Fosse algo real, palpável, concreto
Algo maior do que rimas e palavras
Contudo, o que a poesia poderia fazer 

Para um trabalhador exausto?
Ou para quem chora a morte do filho?
Que espera em filas, que aguarda vagas
Que dorme em viadutos, que não dorme
Para quem não tem para onde ir

Ou quem não tem por que continuar
Para tantos e tantas que são diariamente 

Roubados, violentados, esquecidos
Pra que lhes serviriam a poesia? 

Se um poema não enche barriga 

Não aumenta salários, não ameniza calos

Não acaba com o câncer ou com a tortura
Queria que minha poesia aliviasse a dor

Derrubando cercas com um riso
Fechando feridas com seu toque
Fazendo de cada verso um barco

E de todo poema um porto
Transformando palavras em leito
Onde alheios sonhos descansariam 

Até se tornarem realidades

Que a náusea seja espelho cego 

Para os glorificadores de reflexos
Ao invés de outro escudo dos que

Residem nas alcovas do silêncio

Retiremos da dúvida a verdade

Que o nojo esconde por vaidade
Para que quando estivermos libertos 

Destas correntes de temor e culpa
Com os tijolos do quem eram 

Nossos castelos de mediocridade
Possamos reconstruir caminhos 

De volta para onde nunca estivemos
Trago nas minhas mãos ocas

Estes vários desejos surdos
Que como um feixe de sol 

Que surge por entre grades
São flores que insistem em brotar

Na terra mais árida e estéril
Trago em minha voz rouca 

Um grito mudo, gestos no escuro

Anunciando a luz da manhã 

De um dia que ainda não vem
Trago dentro de mim uma lágrima 

Que é calma e agonia, vento e chama
Que nada promete ou espera de ninguém

Deixo aqui apenas meu testemunho
Minha canção


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Um comentário “3 Poemas de Geraldo Ramiere”

  • Mais uma vez muito obrigado a Jéssica Ianconski e a toda equipe do Toma Aí Um Poema pela oportunidade divulgar meu trabalho. Que a poesia nos salve de tudo sempre!

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