Ao longo da história da Literatura, é possível reparar que muitos escritores apresentam uma grande e trágica intensidade emocional, a qual, mais frequente do que gostaríamos, termina em suicídio.
Neste post, separamos10 Poetas da Literatura que cometeram suicido.
Ouça a playlist com os poemas!
Ana Cristina Cesar
Ana Cristina Cruz Cesar foi uma poeta, crítica literária, professora e tradutora brasileira, conhecida como Ana Cristina Cesar. É considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo, conhecida também como a poesia marginal da década de 1970. Nasceu em 1952 e se suicidou em 1983, aos 31 anos.
Estou Atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra.
*
Dias Não Menos Dias
Chora-se com a facilidade das nascentes
Nasce-se sem querer, de um jato, como uma dádiva
(às primeiras virações vi corações se entrefugindo todos
ninguém soubera antes o que havia de ser não bater
as pálpebras em monocorde
e a tarde
pendurada ro raminho de um
fogáceo arborescente
deixava-se ir
muda feita uma coisa ultima.
Mário de Sá-Carneiro
Mário de Sá-Carneiro foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu. Nasceu em 1890 e morreu em 1916, aos 25 anos de suicídio.
Álcool
Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo —
Luto, estrebucho… Em vão! Silvo pra além…
*
Campainhada
As duas ou três vezes que me abriram
A porta do salão onde está gente,
Eu entrei, triste de mim, contente —
E à entrada sempre me sorriram…
Torquato Neto
Torquato Pereira de Araújo Neto foi um poeta brasileiro, jornalista, letrista de música popular, experimentador ligado à contracultura. Nasceu em 1944 e morreu em 1972, aos 28 anos, de suicídio.
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim
*
Let’s play that
quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let”s play that
Camilo Castelo Branco
Camillo Ferreira Botelho Castello Branco foi um escritor português, romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Foi ainda o 1.º Visconde de Correia Botelho, título concedido pelo rei D. Luís. Nasceu em 1825 e morreu em 1890, aos 65 anos de suicídio.
Alma Atribulada
O’ alma atribulada, corta o laço
da torva angústia que te cinge à vida!
Vai, foge para Deus, ou para o espaço…
Ou nada ou Deus, que importa? eis-te remida.
Não tiveste na vida um dia escasso
de paz e de alegria! Escurecida
te foi sempre a existência, desvalida,
e cortada de abismos, passo a passo.
Vai! Não leves saudades do que deixas.
Se a fé em melhor mundo te preluz,
alma gemente, por que assim te queixas?
Desprende-te, a sorrir, da horrenda cruz
em que tanto penaste! Os olhos fechas?
Abre os d’alma, e verás que infinda luz.
*
A Maior Dor Humana
Que imensas agonias se formaram
sob os olhos de Deus! Sinistra hora
em que o homem surgiu! Que negra aurora,
que amargas condições o escravizaram!
As mãos, que um filho amado amortalharam,
erguidas buscam Deus. A Fé implora…
E o céu, que respondeu? As mãos baixaram
para abraçar a filha morta agora.
Depois um pai em trevas vai sonhando,
e apalpa as sombras deles onde os viu
nascer, florir, morrer! Desastre infando!
Ao teu abismo, pai, não vão confortos…
És coração que a dor empederniu,
sepulcro vivo de dois filhos mortos.
Florbela Espanca
Florbela Espanca, batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, foi uma das mais importantes poetas portuguesas. Nasceu em 1894 e faleceu em 1930, aos 36 anos de suicido.
Sem Remédio
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou…
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!.
*
Languidez
Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar…
E a minha boca tem uns beijos mudos…
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar…
Sylvia Plath
Sylvia Plath foi uma poeta, romancista e contista norte-americana. Reconhecida principalmente por sua obra poética, Sylvia Plath escreveu também um romance semi-autobiográfico, Brasil: A Redoma de Vidro. Nasceu em 1932 e suicidou-se em 1963, aos 30 anos.
(Tradução Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
Ovelha na névoa
Colinas mergulham na brancura.
Estrelas ou pessoas
Me olham com tristeza, desapontadas comigo.
Um fio de hálito fica no caminho.
Ó, lento
Cavalo cor de ferrugem,
Cascos, sinos doendo –
A manhã toda
Manhã ainda escurecendo,
Essa flor ao relento.
Meus ossos sentem um sossego, os campos
Distantes dissolvem meu coração.
Eles ameaçam
Me abandonar por um céu
Sem estrelas e órfã, água escura.
*
Papoulas em julho
Pequenas papoulas, pequenas chamas do inferno,
Vocês fazem mal?
Vocês se mexem. Não posso tocá-las.
Meto as mãos entre as chamas. Nada me queima.
E me cansa ficar aqui olhando
Vocês se mexendo assim, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.
Uma boca sangrando.
Pequenas franjas sangrentas!
Há fumos que não posso tocar.
Onde estão seus ópios, suas cápsulas que enjoam?
Se eu pudesse sangrar, ou dormir! –
Se minha boca se unisse a essa ferida!
Ou se seus licores me sedassem, nessa cápsula de vidro.
Entorpecendo e acalmando.
Mas sem cor. Incolor.
Paul Celan
Pseudônimo de Paul Pessakh Antschel ou Paul Pessakh Ancel foi um poeta, tradutor e ensaísta romeno radicado na França. Sobrevivente do Holocausto, Celan é considerado um dos mais importantes poetas modernos de língua alemã. Nos últimos anos de sua vida, apresentava tendências autodestrutivas, delírio persecutório e episódios de amnésia. Nasceu em 1920. Suicidou-se por afogamento, no rio Sena, em abril de 1970, aos 49 anos.
Elogio
da distância
Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.
Aqui,coração
que andou entre os homens,arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:
Mais negro no negro,estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.
Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.
Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.
Na fonte dos teus olhos
um enforcado estragula o baraço.
*
Estou Só
Estou só, arrumo a flor de cinzas
no vaso cheio de maduro negrume. Boca-irmã,
falas uma palavra que sobrevive diante das janelas,
e escala muda o que sonhei, em mim.
Eis-me na flor da hora murcha
e poupo uma resina para um pássaro tardio:
ele traz o floco de neve na pluma vermelha-vida;
o grãozinho de gelo no bico, e atravessa o verão.
(Tradução Claudia Cavalcante)
Serguei Iessienin
Serguei Iessienin foi um poeta e o maior expoente do chamado Imagismo russo, sendo da mesma geração de Vladimir Maiakóvski. Considerado um dos maiores poetas russos do início do século XX, foi casado com a bailarina Isadora Duncan. Nasceu em 1895 e suicidou-se num quarto do Hotel Inglaterra, em 1925 aos 30 anos.
(Tradução Augusto de Campos)
De Transfiguração
Ei, russos!
Pescadores do universo,
Na rede da aurora colhendo o céu —
Troai as trompas!
Sob a charrua do raio
Ruge a terra.
Rompe os penhascos a auridente
Relha.
Novo semeador
Erra pelos campos.
Novas sementes
Arroja aos sulcos.
Um hóspede-luz
Vem num coche.
Corre entre as nuvens
Uma égua.
Sela da égua —
Estrelas.
*
Até Logo Companheiro
Até logo, até logo, companheiro
guardo-te no meu peito e te asseguro:
o nosso afastamento passageiro
é sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
tampouco há novidade em estar vivo.
Anne Sexton
Anne Sexton foi uma escritora estadunidense conhecida por sua poesia confessional bastante pessoal. Ela venceu o Prémio Pulitzer de Poesia em 1967. Nasceu em 1928 e morreu em 1974, aos 45 anos, de suicídio.
(Tradução Mariana Basílio)
A Fúria dos Poentes
Alguma coisa
fria está no ar,
uma aura de gelo
e catarro.
Todo dia eu construí
uma vida inteira e agora
o sol afunda para
desfazê-la.
O horizonte sangra
e chupa seu dedo.
O pequeno dedo vermelho
sai da vista.
E eu penso sobre
esta vida inteira comigo mesma,
esse sonho que estou vivendo.
Eu poderia comer o céu
como uma maçã
mas eu prefiro
perguntar à primeira estrela:
por que estou aqui?
por que moro nesta casa?
quem é o responsável?
hein?
*
Velha
Estou com medo de agulhas.
Estou cansada de lençóis de borracha e tubos.
Estou cansada de rostos que eu não conheço
e agora penso que a morte está começando.
A morte começa como um sonho,
repleto de objetos e do riso da minha irmã.
Nós estamos jovens e nós caminhamos
e colhemos mirtilos selvagens.
em todo o caminho para Damariscotta.
Ó Susan, ela gritou.
você manchou o seu corpete novo.
Gosto doce –
minha boca tão cheia
e o doce azul se esgotando
em todo o caminho para Damariscotta.
O que você está fazendo? Me deixe em paz!
Você não vê que estou sonhando?
Em um sonho você nunca tem oitenta.
Alejandra Pizarnik
Alejandra Pizarnik foi uma escritora e poetisa argentina. É um dos nomes mais relevantes da poesia argentina contemporânea. A apreciação, traduções e estudos sobre sua obra cresce paulatinamente, com edições completas de sua prosa, poesia e diários em alguns países. Nasceu em 1936 e faleceu em 1972, aos 36 anos, devido a dose excessiva de soníferos.
(Tradução Mariana Basílio)
A Dança Imóvel
Mensageiros na noite anunciaram o que não ouvimos.
Buscaram debaixo do uivo da luz.
Quiseram deter o avanço das mãos enluvadas
que estrangulavam a inocência.
E se esconderam-se na casa do meu sangue,
como não me arrasto até o amado
que morre atrás de minha ternura?
Por que não fujo
e me persigo com facas
e deliro?
De morte foi tecido cada instante.
Eu devoro a fúria como um anjo idiota
invadido por malezas
que o impedem de recordar a cor do céu.
Mas eles e eu sabemos
que o céu tem a cor da infância morta.
*
As Jaulas
Lá fora há sol.
Não é mais que um sol
mas os homens o olham
e depois cantam.
Eu não sei do sol.
Eu sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até o amanhecer
quando a morte pousa nua
em minha sombra.
Eu choro debaixo do meu nome.
Eu agito lenços pela noite
e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Eu oculto pregos
para escarnecer meus sonhos enfermos.
Lá fora há sol.
Eu me visto de cinzas.
Em favor da vida e da prevenção do suicídio. Falar é a melhor solução. Você não está sozinho. Procure ajuda. Ligue 188.
Alguém que sente esse vazio e sozinho
diz:Eu consigo compreender cada um e suas dores.
Ninguém sabe como é se sentir um nada, sem relevância para tudo na vida.
Acham que nós exageramos nas coisas, nas falas, mas só alguém como nós, entenderiam bem cada palavra dita por todos esses jovens.
Carlos Roriz Silva
diz:Suicida não tem dor, pelo menos como a que conhecemos, ele sente vazio, não vê sentido na sua existência neste mundo, ou nào vê sentido na própria existência deste mundo. O que podemos fazer é ocupar sua mente, seu tempo
Gylbertho
diz:Um anjo
Uma legião
Anjos ou demônios?
Ou não será nada disso.
A vida sendo escalada em sua tenuidade.
Paula
diz:Triste , muito triste . Muito jovens e talentosos . Cada qual com seu motivo. Sei a dor de quem perde para o suicidio .
Lulu
diz:Cada palabra suenan sus voces de gritos que no quisieron ser escuchados!!
Lulu
diz:Cada palabra suenan sus voces de vidas pasajeras y que nos dejan agrandes enseñanzas.
Andreia da Silva Lopes
diz:Emocionada que tristeza desconte. Q perdas tão jovens e forte. Obrigada pela pág.