Um aspirante a filósofo, compositor, letrista e escritor em busca de crescer no ramo. Corintiano de posicionamentos extremamente contrários à hierarquias e dominação.

O CORAÇÃO DA AMÉRICA

Após longas horas de sono em uma praça, ele acordou com os corvos bicando seus
olhos. Percebendo que a realidade se transformara e que todas as pessoas se
encontravam como alimentos vivos para moscas e bicheiras, decide voltar para
casa após mais uma sexta-feira de ressaca.
No caminho, ele decide comprar um caderno semi-novo para presentear seu filho
e quiçá fugir da bronca da esposa, revoltada pelo fato do marido ter cortado as
palmeiras do seu quintal sem a devida autorização de Gonçalves Dias.
Chegando em casa, se revolta ao perceber que as bicheiras haviam esqueletizado
seu filho e que gastara dinheiro naquela porcaria de caderno semi-novo em vão.

METASONETO

Eis aqui no meu soneto
Feito alá canção do exílio
Quatro pés, tamanho ímpar
Meta língua não’estribilho

Nesta estrofe mudo a rima
Tudo muda e vê tanger
Como rios, dize Heráclito
Mudei pés mesmo sem ver

Estes versos soltos cantam
Belos fluxos pés decantam
Uma estrofe reta e aguda

Pés troqueus farão cantigas
Presas numa redondilha
Pra dizeres: tudo muda

BARATA JESUS

Essa noite eu matei uma barata
Barata terrível, exaurível
Barata morta, torta, rente à porta

Fui não sei pra onde o quê
Peguei meu ukulelê
Sem nada prá fazê
A escada fui descê

Chegando na sala era tudo um caos
A paz reinando sob meu status social
Era efêmero, gênero
Felicidade, esperança

Alimentado e quase em paz eu subí
Num acredito que eu ví
Ou não ví
Cadê a barata alí?

Ela sumiu, não é mais
Ou terá sido e agora é?
A morte foi uma ilusão
Eu resolvi reclamar
Esteticamente inviável
Uma baratá no meu quarto
Quarto episódio inamável
Cara de quem está farto
Ela sumiu e agora é
Ou nunca tera-ei-sido
Será que termina assim?
Que episódio esquisito
Dama de honra mais cara
Ou será que é barata?
Será que é ou será?