Quando criamos personagens, criamos também novas possibilidades de existir

Já tentei caber inteira dentro de uma só personalidade, mas nunca consegui.
Não foi por falta de esforço — já tentei ser uma, ser outra, às vezes nenhuma das duas. Mas, na verdade, sou um pouco daquelas que inventei nas minhas histórias. Ou talvez elas é que tenham me inventado.
Atravesso minhas próprias fronteiras como quem passeia pela casa alheia e, no meio do caminho, descubro que o lugar é meu também. Habito personagens que talvez só existam porque eu, por dentro, não caibo inteira em uma só pele.
Escrever, para mim, é viver um pouco outras vidas. É experimentar o que não seria possível numa existência só. Quando crio minhas personagens, abro portas para lugares que não conhecia e passo a habitá-los com naturalidade, como quem chega em casa.
As histórias que inventamos são mundos possíveis. Sonhos que sonhamos acordados, de olhos abertos para o que poderia ser. São territórios onde testamos nossos medos e desejos, onde damos forma às perguntas que nos atravessam. Construimos essas imagens com as mãos, arquitetando aquilo que desejamos viver, temer ou entender.
Eu escrevo porque sou muitas.
E talvez, se você também escreve, entenda bem do que estou falando.
Pra continuar escrevendo
Exercício de Escrita: Criar com o Coração Selvagem
“É preciso não ter medo de criar…”
Clarice, com sua sensibilidade, nos ensina que a criação só é verdadeira quando se liberta do medo e se entrega à autenticidade. Ela nos convida a nos aproximarmos da nossa essência mais selvagem, sem reservas.
Agora, vamos nos permitir esse exercício:
- Pense na seguinte frase: “É preciso não ter medo de criar.”
- Agora, pense em algo que você gostaria de criar, mas tem receio de fazer. Pode ser uma história, uma poesia, uma ideia artística, um projeto pessoal.
Descreva o que é e por que você ainda não se atreveu a criar isso. - Por fim, escreva uma frase ou parágrafo final, onde você “libera” sua criação do medo e a deixa fluir sem restrições. O que aconteceria se você deixasse de lado todos os receios e se entregasse ao processo criativo sem julgar?
Esse exercício é para libertar o impulso criativo, deixando de lado o medo e as autocríticas. É uma forma de escrever sem as amarras do “certo” ou “errado”, explorando seu coração selvagem na escrita.
Mabelly Venson é uma matemática que se apaixonou pela escrita. É parteira de livros na Editora Toma Aí Um Poema e autora de “Tudo Que Queima”, “apenas mãe” e “GELO”, obras que focam nas complexidades do ser mulher.