Publicado em 2025 pela editora Toma Aí Um Poema, Na Estranha Imagem Entre Nós é um livro de contos que se lê como uma travessia psicológica entre o espelho e o abismo. Leonardo Menegatto cria uma narrativa densa, simbólica e inquietante, em que o leitor é levado a acompanhar um narrador em crise — um homem que, diante do reflexo, já não se reconhece, remetendo ao estranhamento e violência contida. 

O livro de Menegatto também propõe um mergulho nas zonas sombrias da mente humana: a obsessão pela pureza, o controle do corpo e o delírio moral que nasce da culpa, com seu olhar fixo e quase hipnótico, sintetiza essa tensão — entre o humano e o monstruoso, entre a máscara social e a explosão interior.

Os contos se articulam como capítulos de uma mesma deterioração e exploram temas como masculinidade tóxica, amizade, culpa e metamorfose. Há ecos de Kafka, Wilde e Dostoiévski, mas filtrados por uma linguagem contemporânea, fluida e vertiginosa. Menegatto constrói um protagonista que tenta se afirmar como “homem com H”, mas cuja racionalidade desmorona à medida que o espelho devolve não um rosto, mas o vazio, ou a barata.

A prosa é elegante e violenta, filosófica e sensorial. O texto transita entre o delírio e a lucidez com rara precisão, e cada conto parece funcionar como uma camada a mais na decomposição da identidade. O resultado são narrativas que desafiam o leitor a olhar para dentro  e a suportar o que vê.

Na Estranha Imagem Entre Nós fala sobre o horror de ser humano, mas também sobre a possibilidade de reconhecer, nas ruínas, alguma forma de beleza. A capa perturbadora de Carina Mello não apenas dialoga com o livro; ela o antecipa que nos obriga a encarar o que há de mecânico, brutal e sensível entre nós.