Publicar um livro de poesia no Brasil, especialmente de forma independente, é um ato de resistência. Mas também pode — e deve — ser um projeto viável, financiado com recursos públicos. O problema é que, muitas vezes, poetas sequer sabem que existem editais, leis de incentivo e fundos culturais que podem apoiar seus trabalhos.
Neste artigo, vamos te mostrar como sair da gaveta e entrar no edital.
Sem juridiquês. Sem mistério. Com poesia e estratégia.

📚 Por que falar de política pública quando o assunto é poesia?
Porque a arte é um direito. E políticas públicas culturais existem justamente para garantir que a produção literária não dependa apenas de investimento pessoal ou sorte editorial. Se o mercado não acolhe, o Estado pode — e deve — ser um caminho.
Diversos autores e autoras relataram ter viabilizado livros, oficinas, saraus e até podcasts por meio de programas como:
- Lei Rouanet
- Lei Paulo Gustavo
- Lei Aldir Blanc
- Programas estaduais e municipais de fomento à cultura (ProAC, Funcultura, FMIC etc.)
E não estamos falando só de “gente grande”. Poetas que publicam por conta própria, que vendem via Pix, que fazem zines e organizam saraus nas quebradas também podem (e devem) acessar esses recursos.
📌 Por onde começar?
- Tenha um projeto claro:
Qual é o livro? Qual o público? Qual o objetivo? Você vai imprimir quantos? Vai distribuir onde? Vai fazer ações educativas junto? - Escolha o edital certo:
Cada lei tem critérios específicos. Alguns são voltados para livros físicos, outros para ações formativas, outros para circulação em comunidades. Leia os editais com atenção. - Formalize-se (se puder):
Ter um CNPJ (como MEI ou associação cultural) facilita o acesso a alguns editais. Mas muitos também aceitam pessoa física. - Monte um bom orçamento:
Inclua tudo que você precisa: revisão, design, impressão, transporte, divulgação. Valorize seu trabalho e o das pessoas envolvidas. - Seja realista e poético:
Um bom projeto é técnico, mas também tem alma. Mostre por que seu livro importa, qual lacuna ele preenche, por que ele merece existir com apoio público.
✊ Poesia é projeto, sim!
Muita gente ainda pensa que poesia não “encaixa” em edital. Que é abstrata demais, subjetiva demais, “não dá retorno”. Mas isso é mito. Poesia também forma leitor. Também cria comunidade. Também muda o mundo.
Você pode inscrever projetos como:
- publicação e lançamento de livro
- oficinas literárias
- rodas de leitura
- podcasts poéticos
- livros com acessibilidade (audiolivro, braile, Libras)
- exposições poéticas
- ações em escolas e periferias
O segredo é conectar a arte com impacto social, educativo ou cultural.
💬 “Mas não sei escrever projeto…”
No grupo de autores, essa insegurança é comum. E tá tudo bem. Existem cursos gratuitos, editais que oferecem mentorias e gente disposta a ajudar. Você não precisa saber tudo — só precisa saber que tem direito.
E mais: hoje já existem editais voltados exclusivamente para poesia, para autores estreantes, para pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, periféricas. E editoras como a TAUP, por exemplo, têm ajudado autores a entrarem nesse circuito com propostas potentes e viáveis.
📌 Conclusão: escrever é ato criativo — e político
Buscar financiamento para seu livro não diminui sua arte.
Pelo contrário: é afirmar que sua escrita tem valor, impacto e merece existir com dignidade.
Acesse as políticas públicas.
Inscreva seu projeto.
Não ache que edital é só pra “quem já chegou lá”.
A poesia precisa de recurso pra circular — e você, poeta, merece apoio pra continuar escrevendo.