Poesia Contemporânea: 10 Poemas LGBTQIA+ | #DiVersos

10 poemas com temática LGBTQIA+, selecionados pelo podcast Toma Aí Um Poema para o projeto #DiVersos: novos autores pela diversidade, poesia contemporânea brasileira!

#DiVersos é uma ação do Toma Aí Um Poema para incentivar e popularizar o fazer poético dentro de temáticas que são vistas como fora da norma social vigente como padrão.

Leia de Graça #DiVersos

Os temas abordados pela iniciativa contemplam questões da LGBTQIA+, da Negritude!, da Favela/Periferia e dos Padrões de Beleza/Estereótipos de Corpos.

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Por um mundo com mais poesia!

Confira 10 poemas LGBTQIA+!

Editor: Jéssica Iancoski

ISBN 978-65-81362-09-6

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Viva a poesia contemporânea!

10 poemas LGBTQIA

1. Léo Ottesen – Carnaval

Pierrô e Colombina,

dois amantes tão perfeitos.

Ela linda, ele sem jeito,

feito festa e purpurina.

Arlequim vem doutro lado,

todo enfeite e prosa e pruma.

Sem querer coisa nenhuma,

viu-se inteiro enamorado.

Da festa, partiram assim,

como um par recém-casado

da igreja, de braços dados.

Se antes, Pierrô cansado

de festas que não têm fim,

hoje é feliz e amado,

amante de Arlequim.

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2. Clareanna Santana – A Língua

a boca em tom de barro 

as mãos perdidas no tempo

um par de seios tão lindos

que um dia eu esbarrei 

não sei e não saberei

o que poderia ter sido 

se não ouvisse o gemido 

que um dia eu provoquei.

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3. Denis Scaramussa – Saraivada

Com sorte, concerto, conceito, sessão.

Por morte, consorte, casado, paixão.

Recorte, transborde, Romeu, Julião,

Transmote, anedote, sorrir, perversão.

Não é brincadeira, distrato nem treta.

Aqui, nessa casa, um gênio porreta.

O verso encenado, obsceno, xereta.

Até foi trocada, pobre, Julieta!

Quiçá foi por príncipe, quiçá um plebeu.

Faltou no meu verso, repito Romeu.

Concreto a tragédia, que faça careta!

Tropico a musa, por hora é Tieta.

Recanto a obra, assaz altaneira.

Não teve uma eira, segura na beira.

Foi recompensado, à sua maneira.

Começa, solene, quase picadeira.

Termino esses versos insanos, em vão.

Por eles, retrato, restos, coração.

No belo horizonte, arresto no chão.

Nas mentes, teatro, apareço: galpão.

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4. Leticia Negretti – Fast Food

Entre paus e aranhas

Um paladar vasto

Mas não chego fácil

Ao jantar

Normalmente me jantam

E tiram meus restos do prato

Pois não estou no cardápio

De gente pra amar

Ilusão daquelas

Que descontentes confundem

Orientação com mera opção

Transar com mulher

Não vai aliviar a dor do macho

Que te deu solidão

Quem dera eu

Esbanjar a vantagem

De gostar de tudo um pouco

E lotar o prato num rodízio safado

Cheio de opção

Mas não adianta

A variação do sabor

Se vivemos na era

Da liquidez eterna

Só sopa de pedra

Que só se tempera

Com o que está entre

As pernas

Pois o que tem pra cima

Não encharca nada

Não gera ereção

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5. Oluwa Seyi – Deusa-Átomo

ela me amou e o mundo se fez

o olhar dela incidindo sobre mim

foi o início da criação

de tudo

foi a fagulha da vida como conhecemos

desde o dia em que ela me amou,

desse primeiro segundo em que ela me olhou

e também me enxergou

eu me tornei sagrada

central

flamejante

nossa casa,

todas as galáxias comprimidas

em 60 metros quadrados,

é um altar

recebo flores, promessas e cafuné:

tudo que uma deusa pequena como eu precisa

sendo tão amada,

vivendo tão segura,

desconfiei

e seus olhos refletiram, confirmando:

tornei-me mais negra.

minha pele reavivou a cor

que gera

e alimenta

todas as cores

melanina universal:

matéria escura de tudo que já foi criado

ou, um dia,

ainda será.

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6. Ailson Lovato – Das Opções Que O Mundo Me Dá, Amar

Talvez eu tenha te escolhido ao acaso.

E eu digo: que sorte a minha.

Porque o amor tem dessas manias de querer nos desafiar,

de nos surpreender,

de se envolver numa troca de olhares.

Amor não é chocolate que se pode escolher o sabor.

Amar é coisa de alma, de intimidade.

De desejar o outro como um ser único.

É se dar a chance de conhecer e vivenciar novas experiências.

E a gente nasce assim,

cresce assim

e assim se transforma.

Transforma o medo em luta.

Levanta bandeira.

Grita.

A gente supera (ou ao menos tenta) todo e qualquer obstáculo.

Porque de todas as formas de amor do mundo

única e exclusivamente aquela em que a gente se entrega,

em corpo e sentimento.

A gente vai pra rua e fala.

E fala tão alto quanto o pulsar de um coração partido.

E a gente sofre também.

Para mil mãos que lhe afagam, mil e uma lhe apedrejam.

Por que?

Eu sou homem, tu é mulher, nós somos pluralidade.

Se queres me conjugar, precisas ao menos me conhecer.

Ame tal como um verbo transitivo,

passível de todo e qualquer sujeito,

resumido a um substantivo: respeito.

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7. Bernardo Gonçalves – Aos Que Morreram Por Amar Como Eu.

A minha voz é o eco dos sonhos mais ousados de meus antepassados

É a esperança que morreu com eles

Para renascer em mim

É a libertação que eles me proporcionaram

Todos meus ancestrais, eu lhes digo,

Obrigado por me darem um mundo no qual vocês queriam viver

Ele não é perfeito, temos ainda muito a sonhar

Só consigo imaginar, contudo

O tamanho de vossos sorrisos ao se depararem

Com este mundo transcendental.

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8. Lua Pinkhasovna – Ser Aquarela

Desde cedo a vida torna-se preto e branco para quem nasce destoando da tradicional paleta de cores imposta a todos por quem julga-se no direito de definir por quais nuances o rubor de um coração deve pulsar

Só, observando a todos pelas frestas empoeiradas, eu já sabia que havia vindo ao mundo com o peito iridescente 

carregando o enorme fardo numa sociedade limitada 

que era amar todas as cores

Em segredo, uma explosão de tons proibidos luziam em minha mente contrastando com o silêncio gris das outras tantas pessoas coloridas da cidade também fadadas à escuridão taciturna dos armários

Por vezes, tentei transmutar-me, regulei minha gradação, simulei ser como me pintavam e acabei tornando-me disforme e sem tonalidade, 

expressa em inexata furta-cor

Chorava entre a dicotomia, como poderia ser preto ou branco se em meu âmago possuía uma vibrante gama de cores traduzida em aquarela?
Rendendo-me aos gostos alheios, por anos, tornei-me a cor mais ausente nas paisagens do meu mundo, que aos poucos, tornara-se inexistente

Ao redor, arco-íris apagados davam espaço ao céu cinza-nublado, e a cada estalar de beijos, gritos tempestuosos vociferavam, enquanto tantas outras tonalidades eram diariamente silenciadas para a eternidade apenas por estarem amando fora do tom ordenado

Em meio a sórdidas guerras, cruéis injustiças sociais e rotineira criminalidade vistas de forma superficial e translúcida

todos os esforços estavam focados em nós que estávamos apenas nos  misturando a outra cor


Mas no fim, o preconceito sempre será incolor, mas amar é soberano, é aquarela!

Pois todas as pessoas são cores de diversas matizes, mas só o amor é a arte criadora de obras nas molduras que são a vida,

misturar-se é a única ordem imperativa!

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9. Priscilla Cler – –Bibi!

— Bibi!

buzinaram pra ela

nove motos

oito carros

sete vans

seis caminhonetes

cinco mobiletes

quatro caminhões

enquanto

três ciclistas e dois pedestres

a comiam com os olhos

nos dez minutos em que esperou

um

ônibus

— Bibi!

buzinou a viatura

acendeu o giroflex

os policiais gritaram

“delícia!”

para as duas meninas

que se beijavam na rua

à noite

sozinhas

— Bibi!

eita

ela é bissexual

ela é indecisa

ela é curiosa

ela é hetero-flex

ela é uma putinha fogosa

ela é bissexual porra nenhuma

isso é só putaria

eita!

bora fazer um menàge?

— Bibi!

disparou o meu alarme

essa mana aí é bi

essa mana é sapatênis

e se me trocar por um macho

e se não puder me assumir

e se ela tiver doença?

— Bibi!

esse bê é de biscoito

esse bê é de bolacha

esse bê é de Beyoncè

muitas vezes nem se sabe

o que que esse bê faz

e onde é que ele se encaixa

em LGBTQIA+

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10. Victor Coimbra – Luto

O luto

Que refuto…

Marca mil abismos

Transportando mil açoites. 

Em líricos aforismos.

Aqui jaz em felicitações

Transvivendo em dores

Convivendo em luta por amores

Abarcando apenas em sofismos 

O desejar de todas as noites 

Refletidos em realismos.

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