10 poemas com temática Favela/Periferia, selecionados pelo podcast Toma Aí Um Poema para o projeto #DiVersos: novos autores pela diversidade, poesia contemporânea brasileira.
#DiVersos é uma ação do Toma Aí Um Poema para incentivar e popularizar o fazer poético dentro de temáticas que são vistas como fora da norma social vigente como padrão.
Os temas abordados pela iniciativa contemplam questões da LGBTQIA+, da Negritude!, da Favela/Periferia e dos Padrões de Beleza/Estereótipos de Corpos.
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Por um mundo com mais poesia!
Jonas de Paula – Municiado
A luz de vela
só mais um
num barraco da favela
Quase carente
armado até o dente
de boa poesia
Venâncio Grosso – Soneto de Um Vencido
Não quero sofrer, não quero chorar,
Não quero a paz que você me roubou.
Não me peça perdão, não se arraste no chão,
Deixe-me viver, não quero morrer.
Não devolva as flores que dei a você,
Não quero ficar com o seu coração.
Deixe-me sozinho preciso pensar
Se a cor da pele pode me deformar.
Não existe mais nenhum rancor
De toda a vergonha que me fez passar.
Leve contigo a tua maldade.
Não sentirei nenhuma saudade,
Depois que você sair de uma vez
De perto do meu coração.
Planaltina-DF, 27/07/21.
Fagmota – Não Há Sonho Pobre
Nos becos de terra batida,
as balas desfilam.
Nossa esquiva mantém digna a vida.
Carregamos nos bolsos os sonhos embrulhados em papéis de memória
Pois na infância se nasce os sonhos e traçamos nosso curto trajeto enfrentado o medo de ter medo.
Mas nosso espírito livre, dança em nossa consciência, uma felicidade consciente e escondida entre os muros que nos cercam.
Olhamos o sol morrer todos dias do alto do morro’, morre como nós quanto não estamos a sonhar.
Mas a vida se estende como uma semente sempre prestes a se plantar, regada por nossa esperança de um dia termos a chance de viver na plenitude do nosso ser.
Toda nossa batalha do pão de cada dia ocultada pela mídia, não nos deixam sem pretensão de viver e só somos lembrados quando mal vem acontecer.
E tudo o que fazemos é resistir nesse jogo de poder, onde a roleta não para e as fichas foram todas apostadas estamos sempre na expectativa de vencer.
Ivo Santos – Coca Retornável
Os escolhidos dizem não
Escolhem com cuidado
O território semeado
E plantam pro povão
Tiram o gosto pelo prazer
Elitizam o lazer
E fornecem pra favela
O próprio mal que fez nascer
Brancos que nem só
Matam pretos sem dó
Em operações que se desculpam
Pela busca de um pó
Só que uma pergunta
Não quer calar
Porquê buscam algo
Que eles mesmos colocaram lá?
O helicóptero sobrevoa
Extremamente carregado
Do produto embalado
E também do branco armado
Mas quem morre é o preto e pobre
O final destinatário
Desse plano de governo
Esse ciclo viciado
Eles dão a corda e depois enforcam
Plantam tudo e depois embalam
Dizem que é o refrigerante que dá lucro
Mas é o vício que é rentável.
Rafael Simplicio – Rupturas
O tolo segue
Seu ídolo fascista
A ignorância cega
Que seu fanatismo limita.
O agoz
Emergido de rupturas
Em sua voz
Proclama injúrias.
A cultura é refém
Através do medo
De um passado ela vem
Como um leite amargo e azedo.
Dentre as florestas
Gaia não chove mais
Incêndios se alastram
Gaia sufoca-se demais.
Sistemático
O ar esvai-se
E a indiferença grita
Sistema asmático.
Salve a bandeira
-Que bandeira essa?
Não a vermelha, a bandeira do progresso.
-Mas a bandeira sempre foi vermelha
Do sangue ela vem. Ao progresso em regresso.
Hilton Nogueira – As Favelas do Futuro
Nas favelas futuro as crianças brincam na rua, sem se quer ser atingida por uma bala perdida.
As mães ficam tranquilas, pois sabem que seus filhos chegarão em casa com vida.
Os jovens estudam nas escolas públicas com os melhores ensino de qualidade.
Emprego de carteira assinada, com todos seus direitos para não precisar passar necessidade.
Polícia naquela favela nem existe mais, por conta da criminalidade que acabou há tempos.
Desigualdade ali não se encontra, todos detém seu lugar na sociedade que tanto lhe foi negado.
Pretos andando com o carro do ano, a roupa da moda, sem olhares estranhos e pensamentos preconceituosos.
Nessa favela se deu a criação por tantas lutas contra um sistema de opressão.
Ângela Silva – Sangue Derramado
Na mão do estado a pistola armada aponta para
uma cor,
os tiros de fuzil, quem foi? Quem viu?
Um corpo estendido…
estendido no chão.
Menino preto só pode ser ladrão
e seu destino são as grades da prisão.
O ódio levanta a mão, aponta a pistola sem perdão,
é só um corpo preto no chão,
Na favela preto é bandido,
na rua é perseguido,
Menino preto em casa é recebido com tiros de fuzil
no chão a vida se despediu,
Na mão do estado racista a pistola aponta para
uma cor,
no chão a vida se esvaiu,
o sangue derramado
João Pedro executado,
As noites frias são vazias
a dor de vinte e oito famílias,
Jacarezinho para sempre será lembrada,
e sua dor em semente de luta se multiplicou.
Weinne Neves – Kamikaze
Dentro das manchas de sangue
de mais um colega
escorrendo pela viela
aniquilado pelo tráfico
ignorado pelos porcos
esquecido pelo Estado
vejo as manchas roxas
de jamelão
na blusa branca;
as mãos calejadas
da escalada
da força feita
pela união;
o pique-esconde há muito deixou
de ser brincadeira
virou treinamento
o crack, sinônimo de talento
ter dinheiro no bolso
não era privilegio, mas alento;
nem chegaram a tocar o verde
que tanto sonhavam
mal decolaram e já
se espatifaram.
Na guerra,
aviões nem chegam a ver
o crepúsculo
são derrubados em pleno voo
e perecem cedo demais
pouco antes das dezoito.
Mateus Lima Veloso – Contradição Tropical
Os burgueses nos negaram tudo
Cultura, emprego, CEP e estudo
Tentaram nos exterminar
Nos deixando a Deus dará,com esgoto a céu aberto, sem luz elétrica
Sem Estado, nas mãos de um governo paralelo
Mas nós somos resistentes, e nos erguemos
Não por vontade, mas por necessidade
Afinal, a favela não devia existir
Mas como tudo isso existe, nós fizemos dar certo
E assim crescemos
Meio sem controle, um em cima do outro
Até que fossemos soberanos na paisagem
E com muita luta, alguns superaram essa realidade, mas muitos também ficaram
E esses desenvolveram os nossos trejeitos
As gírias, a ginga, uma nova economia
Tudo isso longe de quem fingia que a gente não existia
Até que um dia
Alguém notou nosso barulho
Um monte de gringo cheio de dólares
E assim
Da noite para o dia
O que devia não existir
Virou coluna de revista, atração turística
Pra gingo ver e aplaudir
Ganhamos prêmios, ficamos chiques, a favela nos programas de TV
Quanta hipocrisia, até por que, ainda sim, a ordem é nos destruir
Os tiros nunca pararam
Nossa existência ainda é criminalizada, nossa cultura tão exaltada pelos de fora
Ainda causa repulsos na burguesia que nos quer mortos.
Bruno Black – Preciso Seguir
Reage
Dê as suas palavras à força que deve
Limpe da mente o medo
E siga
Toque em seus sonhos
Sinta sua alma
Mova seus pensamentos
E transcenda…
Têm limites?
Ultrapasse-os!
Têm medos?
Desengasgue-se!
Têm sede?
Beba-se!
Entende onde mora sua alma?
Sentiu que você é chave?
Então encontre a seu caminho e pegue a estrada dos seus sonhos
Que no mais…
O destino arruma a sua melhor roupa
E te dará oportunidade de ser livre como uma águia no céu.
Se eu fosse você repetiria incansavelmente:
Preciso seguir!
David Oliveira
diz:Muitos boa as poesias, vou utilizá-las pra que eu possa obter inspiração tô precisando! Obgd
Jailda Galvão Aires
diz:Poemas que falam do cotidiano esbravejando a verdade cruel que a mídia oculta ou tenta ocultar. Amei
Sandra
diz:Amei os poemas. Parabéns aos organizadores/as e aos poetas e poetisas.