Poema de Gabriela Lages Veloso: A Grande Ilha

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Gabriela Lages Veloso é contista, cronista, poetisa e ensaísta. Atualmente é colunista das Revistas Sucuru e Literatura Errante. Em 2020, estreou no mundo das letras com a publicação do conto O Relicário na Revista Intransitiva (UFRJ). E, em 2021, tem colaborado com revistas nacionais e internacionais, bem como participado de antologias e coletâneas.

A grande ilha

Ao atravessar o exato ponto entre céu e mar,
a tênue linha do horizonte
envolta no ir e vir das ondas,
se pode avistar a grande ilha.

Assim, ao longe, sendo constantemente
ofuscado pelos raios solares,
não se consegue ter uma imagem nítida,
somente os esboços de uma cidade.

Pouco a pouco, a ilha se mostra.
Ao chegar em terra firme,
já com os pés calcados na areia,
se pode ter um vislumbre do lugar.

O vento sopra forte e a praia parece deserta,
há somente alguns transeuntes na calçada
e, vez por outra, algum automóvel.

Muitos prédios de luxo compõem a paisagem,
imponentes e frios,
indiferentes à natureza que os cerca,
ou o que dela restou.

Na faixa de areia, o esgoto segue o seu caminho para o mar
sempre em frente,
esse é o preço do progresso.

Mas o coração dessa cidade não se encontra aqui,
é preciso ir além, até as ruínas sobreviventes ao tempo.
Há uma beleza única nessas ruas de cantaria
e nesses antigos casarões, com seus azulejos partidos.

A cidade conta a sua história
em cada pedra, rosto e som.

Na ânsia de viver permanentemente no presente,
o passado está sendo apagado.
Muitas construções foram jogadas às traças.
Algumas foram demolidas,
Outras se tornaram estacionamentos,
pois as ruas estreitas já não comportam
tamanho fluxo de pessoas, insetos e veículos.

O esgoto segue seu caminho para o mar.
Aqui se pode vê-lo por toda a parte,
em poças nas praças,
escorrendo pelas ladeiras

e disputando as calçadas com os mendigos.
Há muitos deles por toda a parte,
mas ninguém parece notá-los,
são deixados ali, para depois,
mas esse tempo nunca chega.

Após atravessar a ponte
e deixar a cidade velha para trás,
surgem novas construções,
cada vez mais altas e luxuosas.
Curiosamente os construtores desses prédios
jamais poderão, ao menos, visitá-los.
Esse mundo não os comporta.

A grande ilha continua se expandindo,
ocupando novos espaços,
poluindo os olhos d´água remanescentes,
desmatando e destruindo a natureza,
repetindo os mesmos erros de seus exploradores.

Agora, o que nos resta ver nessa cidade
são as suas margens,
os lugares negligenciados por todos.


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