Na Fe no Grito, Na Palavra Persistimos é uma antologia de poesia composta por 33 mulheres, organizada por Toma Aí Um Poema.
![](https://tomaaiumpoema.com.br/wp-content/uploads/2021/08/na-forca-no-grito-antologia.jpg)
Número de páginas: 140
Idioma: português
ISBN: 978-65-81362-06-5
Autoras
Flavia Ferrari
Raquel Machado
Adriana Teixeira Simoni
Géssica Menino
Neusa Doretto
Ema Melo
Lilly Magaflor
Agnes Izumi Nagashima
Brisa Araújo de Souza
Jeniffer Pereira
Letícia Moreira
Giulia Rink Pires
Nicole Micaldi
Solange Soares
Mariana Xavier
Flavia Redman
Nirlei Maria Oliveira
Maria Magdala
Perpétua Amorim
Belise Campos
Rafaela Souza Leão
Vanessa Slupko
L.NÊS
Mariana Godoy
Maria de Fátima Fonseca
Roberta F.S. Gonçalves
Laura Lam
Soraia Torres
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Rosa Acassia Luizari
Susan G.
Marta Cortezão
Jéssica Iancoski
Sobre
O que querem as mulheres?
Quantas vezes ouvimos esta pergunta. Em forma de piada, pergunta sem resposta, filme de comédia. Quanto não saber caberia em qualquer consideração.
O que nós, mulheres, temos em comum? Temos coletivos, adjetivos, desejos e ódios que podemos expressar. Mas há um tanto que não é dito, silenciado, adormecido, experiências muitas que não encontram imagens ou palavras. E eis que a arte nos atravessa e nos torna autoras, vivas e sobreviventes, para além do tempo e de qualquer espaço que insistimos em não caber.
Como humanidade, convivemos com as faltas, as lacunas, as frestas estruturais que nos machucam, mas não conseguem nos fazer parar de insistir em nossos caminhos. Muitos desses ainda fechados e restritos a nós, mulheres que somos. Sentimos fortemente os vetos, embora velados.
Mas seja na força, no grito ou na palavra, persistimos. Há muitos mundos possíveis, referenciados em cada palavra poética, em cada manifestação artística. Quanto mais pudermos viver e celebrar os nossos nós através da arte, mais enraizadas estaremos. E assim, entre nós, formamos nossa teia.
Mulheres trans, cis, mulheres com ou sem útero, mulheres que menstruam ou não, mulheres com ou sem vulva. Quanta arte faz uma mulher! Somos muitas, múltiplas, uma imensidão. E aqui, nesta antologia, apresentamos algumas de nossas vozes.
Flavia Ferrarri
5 Poemas da Antologia
Flavia Ferrari – Interrogações
O que diria
A cena ainda não vista
De improviso
No ato da estreia
O que nos caberia
Espectadores que somos
Sem as expectativas que perdemos
Apenas plateia silenciosa
O que nos resta
No espetáculo de horror
Figurantes na dor alheia
Atingidos em cheio
Todos alvos
No momento oportuno
Marta Cortezão – Santuário
Há ratos em meu porão
Eu sei
Não nego
Mas são eles
Que, do barco,
Aprumam o timão
Há pulcros conventos
em meu porão
guardado por cães infernais
mas sagradamente devassos
eu sei
Meu barco
singra fios líquidos e abissais
na imensidão
Há desertos
córregos de doces águas
plenos de ilusão
Há ratos, cães
estreitos caminhos
:santuário
onde me recolho
oráculo e solidão.
Adriana Teixeira Simoni – Descobrimento e Luta
A culpa é do espelho
Ou então do fogo
Muita gente só se revela
Quando chegada ao poder
Esquece à volta
Ignora a revolta
Mata a sede da vida com fome
Apaga a importância do que educa e alimenta
Incita o ódio, a matança e a queimada
Só pra encher as burras de dinheiro
Ninguém pede pra nascer
Muita gente morre sem saber
Democracia não é o prato principal
Quando o país tem genocida no poder.
Quebra esse espelho, essa arma
Queima esse voto engodo, temperado no ódio
Pensa, antes de botar no poder qualquer Joça
Não dê asas alimentando traça
Tá na hora, tá na veia
Tem no hino e na bandeira
Tira logo essa desgraça
Que de golpe quer ficar
Pra com a vaidade e fanfarrice
Um país desmoralizar
Tu que é povo te acorda
Sai da rede pega tua garra
Mostra a tua cara e tua gana
Derruba agora essa porra!
Lilly Magaflor – Noite de Névoa
Eu gosto da leveza de
uma noite de névoa.
Do riso soltado.
Da mente vazia e o
corpo flutuante.
Gosto da leveza de uma noite
de névoa.
Memória embranquecida.
Controle abandonado.
Consciência entregue.
Que haja a lua,
que venham estrelas.
Que até brilhe a lagoa…
Eu gosto mesmo
é da leveza de uma noite de névoa.
Nirlei Maria Oliveira – Fazeres
dias iguais e iguais dias
sem a cavalaria
para salvar
panelas pratos e copos
à beira
do precipício
na segunda-feira
com restos
de domingo e insônia
quase inverno
frio demais
para molhar as mãos
volto a dormir e cubro a cabeça
bom senso ou fuga?
as duas opções
me agradam