Cinco poemas de Lua Pinkhasovna, para o Toma Aí Um Poema.
>>> Apoie o Toma Aí Um Poema e cresça junto <3
Por um mundo com mais poesia!
Lua Pinkhasovna , 23 anos, gaúcha atualmente morando em Santa Catarina. Apaixonada por todos os tipos de artes, mas principalmente as que envolvem letras. Possui dois livros ainda não finalizados e o sonho de ser uma grande escritora. Escreve contos, poesias e crônicas com o pseudônimo Lua Pinkhasovna. Acredita fortemente que a arte pode mudar a vida das pessoas.
Fim dos Dígrafos
O meu som não é lembrado
Os meus fonemas
Lado a lado
Foram separados
Fiquei sem as estrofes
Mas que linhas!
Só queria eu
Te ter como na poesia
Me vejo solitária em prosa
E o tempo que nessas palavras transcorre
Não fala ao silêncio
Fala aos corações partidos
Transbordando em solilóquios
Restam os verbos perdidos
Aqueles versos brancos
De sentidos impositivos
Mas o meu peito ainda exclama
Acredita naquelas últimas reticências da chama
Que aqui dentro ainda vive em hiatos de sentimentos insignes
O fim dos dígrafos nasce com as estrelas
Não somos mais um fonema
E mesmo com sons retumbantes
Na minha mente ainda guarda a solidão de ser o sentido de uma só consoante.
Verborragia
É nos confins das mentes silenciosas
Que adormecem os verbos pungentes
Inflamados por salivas raivosas
São ricos em sentimentos latentes
Os sons que os ouvidos guardam
Reverberam pelos séculos encerrados
Emergem em meio a noites nubladas
E transbordam nos travesseiros
As noites longínquas agonizam em meio às luzes oscilantes da lua cheia
Solitária e flutuante
Despede-se no raiar do dia enquanto deixa seus apaixonados carentes
No embalar da melancolia
Em meio aos minutos escorridos
Com a cabeça latejando o vácuo
O grito se torna inaudível
O peito refreia todas aquelas emoções
Adormecidas
Mas os ouvidos inocentes
Não possuem proteção contra os sentimentos penetrados
E no epílogo do corpo
Eles são apenas a porta de entrada das emoções
Não são eles que sentem
Os sons são carregados pela veias que os levam até o coração
Esse quieto e dormente
Sente mesmo com sua derme grossa
Roupa que o veste
E sua clava de ossos na frente
Sua eclosão se dá para o corpo inteiro
Da ponta dos dedos
Percorrendo pela pele
Passa pelo rosto
Chega até a cabeça
Assim seus circuitos são acionados
Suas sinapses erram os trajetos corriqueiros
Uma tropa de pensamentos de berço
Voltam a sibilar raivosas na mente
As letras liquidificam-se
Perdem-se entre as vísceras
Preenchem os espaços
Até não mais caber e sair pelas chuvas torrenciais do corpo
A alma não escuta, não fala,
Pois quem sente é a carne
Que se desmancha em gotas pela face
Quando as palavras perversas,
Deveras diretas, a fazem pingar.
Léxico dos Sentidos
Cansei de regras
Teoremas
Cansei das ênclises
Próclises
E sempre detestei as mesóclises
Querer-te-ei?
Como poderia querer-te no futuro?
Ter você agora seria o único presente mais que perfeito aceito pelas minhas linhas
Preciso criar um novo tempo pro pretérito
Um que eu possa usar em qualquer texto
E sirva para todos os momentos com você
Eu quero rasgar o verbo
Expulsar todas as minhas hipérboles
Como alforria
Quero gritar interjeições
Sem analogias
Quero a palavra nua
E sentir todos os paradoxos da minha existência saindo pela boca
Não quero o uso correto do idioma
Quero gaguejar
Me lambuzar nos erros
E delirar entre as palavras tão livres expressadas
Quero cuspir palavrões
Buscar o sentido pejorativo
Escrever fora das linhas
Rabiscar tudo escrito
E quem sabe rasgar a folha
Quero me libertar da minha forma humana
Amar outras espécies
Afiar minhas presas
Usar minha prosopopeia
E me transformar em quem
talvez seja quem de fato sou
Eu quero a sinestesia
Aprender
Prender
A tua língua em mim
E jamais usar amar no verbo oculto
Eu quero abusar dos neologismos
E encontrar a palavra exata que sirva como palíndromo
Que mesmo que você leia de outras direções, o sentido será o mesmo
Mas antes, não se esqueça de respeitar meus parágrafos
Pois são eles que definem o começo
das minhas histórias
Então, engula minhas reticências
Não pause nas vírgulas
Saboreie cada silêncio
E você estará sentido o verdadeiro gosto do meu léxico
E o que vem depois serão palavras sinceras
sem pontos finais.
Timbre Catártico
Escorre pelas paredes frias
Permeia por entre as mentes
Em um canto uníssono bíblico
De mil homens devotos
Anáguas descem escorregando pelas cinturas finas
Antes, cerradas em corpos puros
Agora, distantes de peles quentes
Poros embebidos em ardentes salivas
Mentes esquecidas de antigas feridas
Tão distantes de sentidos
Ontem, presas em agruras
Agora, detentas de instintos
Os sons confessos são jogados no vácuo
Não se sabe ser de dor
De prazer
Ou cansaço
Voam no ar os minutos
Na cama deixados
Após os choros
E durante os pecados
Sinfonia é ouvida
De longe arrogante ela grita
É o sentido que se encontra
O chamado sentido da vida
Desperta e audaz
Entra sem deixar rastros
Penetra as feridas cicatrizadas
Rasgando por entre os tecidos
Se despede deixando colapsos
Visto minha pele profana
Enquanto a verdade brada desesperada
por confissões jogadas nos lençóis emaranhados
Os sentimentos saem sem máculas
Retornei à minha forma humana.
Visão Embaçada
As lágrimas que doem
De perto tão quentes
Cristalinas e ansiosas
Não abraçam quem as sentem
O rio que hoje viceja
Me pega pelo peito
Abatendo a ternura da vida
Devagar adoeço
O coração que de fora descarrega
Usa a pele como cama
Os olhos como janela de partida
E no corpo os líquidos flamam
Anos atrás a vida era doce
Os pássaros ainda cantavam
As nuvens eram azuis
E as árvores leves balançavam
Hoje me cega a miopia
E o medo de sentir a vida
Que tanto almejei
E por vezes desencontrei
As paisagens são outras
Tão ocres e duplicadas
Carentes de serem vistas
Apenas servem como cenário de uma obra já finda.
A Poesia irá dominar o mundo!
Siga O Toma Aí Um Poema no Instagram
Pela vida, nos ajude a espalhar mais poesia!
FAÇA UM PIX DE QUALQUER VALOR <3
tomaaiumpoema@gmail.com
Até mesmo um real nos ajuda a manter o projeto.