A Cassandra surgiu da ideia de reunir mulheres artistas de diversos lugares e com diversas vozes para promover as artes e a literatura feitas por, de e para mulheres.
A Revista de Arte e Literatura reuniu autoras de variadas esferas artísticas, com o objetivo de abrir cada vez mais espaço para as vozes femininas na arte.
Neste post, separamos 8 Poemas da Revista Literária Cassandra que foram declamados no Podcast Toma Aí Um Poema!
#528 Cecília Lobo – Quero Um Poeta
CECÍLIA LOBO é poeta, escritora e mãe. Trabalha com tradução e revisão, é editora da cassandra e integra a equipe de poetas do portal Fazia Poesia. É autora dos livros Inflamáveis (2019, Editora Crivo) e Labiríntica (2021, edição da autora).
Quero Um Poeta
Quero um poeta
Que me olhe
Pelada
Quero um poeta
Que me conte
Como eu a tu
Você calado
Esfinge de barro
Quero um poeta
Pra me morder
As palavras
Que gaste versos
Como gastas dias
E noites
Quero um olhar
Pra me morder
Poeta
#529 Mell Renault – Sólido
MELL RENAULT é escritora. Mineira de Belo Horizonte, tem 36 anos, quatro filhos e é casada com o fotógrafo e escritor Carlos Figueiredo — que mantém e organiza sua obra artística. Lançou seus livros Patuá, em 2019, Flor de Sal, em 2020, Cortejo, em 2021 e produz vários livros artesanais. Ministra oficinas de escrita literária e faz mentoria para criação de livros pela LUME.
Sólido
Saber da pedra
sua inscrição
sua saliência.
Da pedra saber
sua ranhura
sua mística.
Saber da pedra
sua crueza,
sua concretude.
Da pedra saber
sua manifestação
rocha
moinho
lama.
Saber da pedra
destino
sua sina rupestre
marcando
o tempo
do caminho.
*Do livro Patuá (2019)
Re#319 Milena Martins Moura – Evangelho segundo o pecador
MILENA MARTINS MOURA é mestre em literatura brasileira e tradutora. É autora dos livros Promessa Vazia (2011), Os Oráculos dos meus Óculos (2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021, no prelo). Além de editora da cassandra, integra a equipe de poetas do portal Fazia Poesia e de colunistas da revista Tamarina Literária.
Evangelho segundo o pecador
me quero aberta em cálice e vinho e pão
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀fenda rasgada de ritos
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀
hábito deitado à fogueira
onde abrasam as peles recém-expostas
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀
a carne viva pulsa porque viva
porque crua porque fera e primeira mulher
serpente e desfrute
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀
me quero imersa corpo inteiro no indevido
lambendo o caminho desviado
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀com a mesma língua
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀dos cânticos
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀
o sacro e o santo
molhados da espera
com a sede dos abstêmios
e dos crédulos em desgraça
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀e eu graal sacrílego
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀estou nua e disso não me envergonho
#548 Beatriz Rocha – O Frio Na Espinha
BEATRIZ ROCHA é historiadora formada pela UNICAMP e poeta em trânsito entre São Paulo e Minas Gerais. Tem experiências em educação popular, pesquisa, curadoria em artes visuais e consultoria cultural. Já publicou poemas e contos na Revista Desvario e Revista toró, respectivamente. Nasceu com a alma virada do avesso, sempre se perdendo atrás do que é bonito. A Mulher Grande (Editora Urutau, 2021) é seu primeiro livro.
O Frio Na Espinho
O frio na espinha
percorre o insone estranho urbano homem
Entre a soma de um sem número de ruas que aparecem num sonho
labirinto numa cidade esquecida
Pompeia qualquer perdida entre sinapses
Se perde nas ruelas
nas casas antigas
O que há é a noite
(mais uma vez)
as vielas estreitas
o som dos bares de um mundo que não mais existe
O mistério do medo do desconhecido do prazer
dos olhares furtivos
dos segundos mágicos entre tirar as roupas e deitar-se sobre alguém
do breve instante em que as mulheres abrem e fecham suas pernas
O que há é a noite
sempre
e mais uma vez
#561 Luzia Rohr – Quarentena Diurna
LUZIA ROHR é Cantora Lírica (CUM LAUDE-UFRJ), Pianista, Educadora Musical, Fisioterapeuta e Neurocientista, formada pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB-UFRJ). Mestranda em Artes Cênicas (UNIRIO-CAPES), realiza pesquisas sobre a voz e o canto no teatro musical e atua como pesquisadora colaboradora nos Grupos de Pesquisa LEV (Laboratório de Estu.dos Vocais, Cênicos e Musicais) e Tecnologias Digitais da Voz nas Artes e na Filosofia, ambos CNPQ-UNIRIO.
Quarentena Diurna
Nuvens cinzas passeiam em minha janela
A luz fria ilumina minha tela
Linhas tortas surgem no espaço
Penso
Reflito
Anseio
Construo ideias e escrevo:
O que virá pela frente?
O que o futuro espera da gente?
Respiro fundo, alto e penso:
O céu azul virá novamente!
#560 Andreza Andrade – BR381
ANDREZA ANDRADE é paulista e escreve desde a infância. É mestra em Literatura e Vida Social e graduada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Tem artigos publicados em Anais de Congressos e nos Cadernos de Literatura em Tradução, da USP. Atualmente, cursa pós-graduação em Educação em Direitos Humanos pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Já traduziu dois livros, um deles com bolsa FAPESP. E, enquanto você lê esta pequena biografia, ela continua escrevendo poesia, que acredita ser o luxo da palavra.
BR381
Cozinhei um verso a viagem toda;
quando chegar eu escrevo,
quando chegar eu esqueço.
Levei as palavras que me orbitam para a estrada,
não sei mais se estou indo ou vindo.
Buracos e lama, parece ter chovido muitas águas.
Avisto uma Sumaúma rosa,
Lembro do batom que o Buco Maxilo recomendou que eu usasse, o gloss não a cor.
Assim você para de morder os lábios, ele disse, alivia a ATM.
Droga, esqueci a placa de mordida!
Engulo ansiedade como quem come veneno e sabe,
devo ser amiga da sorte.
#573 Gabriele Marques – Não Sei Por Quanto Tempo
GABRIELE MARQUES é paulistana, redatora, roteirista, da comunicação e do teatro, mas é a poesia que faz pulsar os seus dias.
Não Sei Por Quanto Tempo
Não sei por quanto tempo
Doeu
E ainda dói
Por quantos dias morri
E de que forma renasci
Não sei
Não sei especificar
Cada linha escrita
Cada página rasgada
Neste não-viver
De manhãs sem café
E pausas amargas
Não sei dizer
Quantos foram os discos
Não ouvidos
Para não cutucar
A própria dor
Que não diz muito
Mas que possui
Os ouvidos aguçados
E aqui estou
Colocando pra tocar
Mais um que me inspira
Porque
Viver é correr os riscos
De a dor te ouvir
E ainda assim
Você dançar.
Re#367 Ana Yanca – Espero Na Sombra
ANA YANCA (Porto Velho-RO) é graduada em Letras, mestra em Estudos Literários e pós-graduanda em Filosofia Contemporânea. Provoca tertúlia e rútilo com as curandeusas da palavra no Dossiê LiterAmazônicas e no Circuito literArtístico serpente d’aura cósmica. Poeta e colagista multimídia.
Espero Na Sombra
Espero na sombra
uma palavra que
se despregue
das paredes
do poema
e me atinja
como sol
dinamitado
espero a vida ávida
da palavra-lâmina-lamparina
lacerando a carne
bifurcando a língua
e fotografe o tempo
esse agoraprolongado
daqui da sombra
vejo a fosforescência:
germina um corsário
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