Jonedsun é baiano do interior e poeta do sol. Escreve torto em linhas tênues e gosta de unir elementos visuais a seus poemas, produzindo poesia visual, videopoesia, declamação, colagem e cordel. Tem dois e-books publicados: “sol de sábado: uma antologia poética” e “O Terno Azul: Cordel de Natal”, disponíveis na Amazon. Além disso, faz parte do coletivo OXE LGBT+ NE e da equipe de poetas do portal Fazia Poesia.

bixa

as bixa também anda de busão,
tem religião,
vende picolé.

ninguém aqui nasceu pro sigilo,
alívio cômico do casamento.

as bixa também lê,
acorda cinco da matina,
tem pão na mesa.

tem da gente em todo canto,
cê quer ver?

viado que vira noite
bebendo letras em corpus.
nós bixa de cabeça erguida,
jogando sal na ferida,
resistindo o ser.

cê quer ver?

o mundo desvirado,
papéis a equilibrar.
nós sendo patrão,
e cê indo pro RH.

e aí, cê quer ver
ou já nos viu?
as bixa vive, pô
vamo remontar o Brazil!

interação social de uma bixa

o riso na rua.
o riso na escola.
o riso na casa.

o torto olhar da janela.
o “não é dessa vez” da vida.

essa cidade me olha como se dissesse “desculpa
se eu não fui feita pra você”

o riso do amigo.
o riso do primo.
o riso do enfermeiro.

o “e daí?” da diretora.
o “fala direito!” do professor.
os viadinho bixa viadinho nojento bixa…

o riso indo comprar pão.
o riso indo estudar.
o riso indo na praça.
o riso indo com ela em todo e qualquer lugar.

o riso.

e depois perguntam
“por que será que ele só anda sozinho?”

o visitante

se eu não fosse gente,

seria passarinho

com penas coloridas

a voar sozinho.

se eu tivesse asas,

como as tem um passarinho,

dançaria com o vento

e pousaria em um ninho.

toda vez que eu enjoasse

dos ares dessa cidade,

mudaria pra um canto

que soprasse felicidade.

e então,

sendo eu passarinho,

voaria até tua janela

pra te ver mais um pouquinho.

>> Leia A Revista Toma Aí Um Poema!

explicação

quero encontrar motivo em tudo que existe

a comida do dia

a partida doída

para onde?

eu vim com defeito

não sei lidar com o desporquê

descobri que a vida é mesmo uma ruma de coisas que apertam

sem razão alguma.

respiro

estou sem ar afogando submerso
sem ar ofegante afogando submerso mas
estico meus braços um atrás do outro e

respiro
um pouco
de poesia