6 Poemas de Priscilla Cler

Seis Poemas de Priscilla Cler para o Toma Aí Um Poema.

>>> Apoie o Toma Aí Um Poema e cresça junto <3

Por um mundo com mais poesia!


Priscilla Cler é mineira, radicada em João Pessoa – PB. É atriz , cantora e professora. É autora do livro ‘Poesia Cretina – poemas escritos com lágrimas, sangue de menstruação, ácidos estomacais, saliva, merda, amor e ódio’, publicado pela Editora Urutau. Em 2020 ficou em terceiro lugar no Concurso de Poesia Augusto dos Anjos, de Sapé – PB; já teve poemas publicados em antologias.

A Música Que Eu Sou

 

Chego invariavelmente pontual

Na hora do meu fim

Atrasada no ceder

E adiantada no se dar

 

O momento exato de me perder é sempre o agora

 

Confundo velocidade e ritmo

Porque ainda não compreendi 

Os fundamentos básicos

Das subdivisões dos meus tempos

 

[Eles são pequenos lapsos de existência

Que habitam o vão entre os meus pulsos]

 

Por trás das minhas grades torácicas

Tenho, aprisionado,

Este velho metrônomo quebrado

Que, revoltado, 

Vai parando aos poucos

Me ralentando consigo

Pro mais profundo dos adágios

 

Mas a vida é ad libitum

E sou a única intérprete

Desta composição livre chamada eu

 

O momento exato de me (re)compor é sempre o agora

 

Senti voltar a pulsação do meu peito allegro

E me vi capaz 

De recuperar cada um dos tempos 

Que um dia me foram rubatos

 

Desde então

Não fui mais música no tempo;

Me tornei música no espaço.


Passaralha

 

Manhã em tempestade de sol

Passarinhos que gorjeiam palavrões

Mar sereno e calmo, bom pra afogar-se

E o livro engraçado de poemas que dá vontade de morrer

Isso tudo parece bem doído e dramático e triste e pesadão

Mas tá tudo certo

É só uma segunda-feira pós feriado

E todos 

– salvo os que não sobreviverão – 

seremos atravessados por ela

 

Eu sou um desses passarinhos

Acordada e pousada no fio de mais alta tensão

Uma espécie de bem-te-vi do mal

Cantando linda aguda afinadamente:

 

– Vai tomar no cu! Vai tomar no cu!


movimento

 

Amar, desamar

Sentir coisas de tantas naturezas

E deixar de senti-las

Sentir as entranhas se revirarem

E senti-las se reorganizando

 

O corpo sempre nesse movimento 

 

Em que o coração e o cu se confundem

 

>> Leia A Revista Toma Aí Um Poema!


a música bate no tímpano

 

a música bate no tímpano

do tímpano explode o choque

chega no pé, pula pro peito

faz craquelar a capa do coração;

eu fico muda

(coisa que nunca acontece)

e minha cara congela:

dois olhos fritos

profundamente mexidos

os cantos da boca

apontando pra baixo

o balanço da cabeça 

(as)sentindo

sem saída.

 

numa hora dessas

eu não sei fazer mais nada


corpovoz

 

braço prolongado no espaço

varador de kinesfera

a parte do meu corpo que me projeta mais longe

 

mão tem voz

peito tem voz

olho tem voz

 

voz é arma

faca revólver bomba

voz é imagem

metáfora sólida e lombra

 

EU ME DEFENDO COM VOZ E VERDADE

voz é jeito fortíssimo

de chicotear o opressor

 

voz não esconde nada

é tímida nudez

 

voz se engole

voz se revolve

voz se lê

 

voz 

mesmo em silêncio

revela

voz é oráculo

da alma 

a tela


não sabia como extrair os sumos da língua

 

por tempos pensei

que pra extrair os sumos da língua

era necessário

luxuosamente literalizá-la

 

tentei 

rebolando o léxico

e foi língua raspada com lixa

lavada com sapólio

lustrada com lava e lavagem

 

mas uma língua

ladrilhada de brilhantes

uma língua esfoliada 

e esfoliante

não se alerta

não se alaga

não soluciona

não soluça

não revela

 

língua é feita de laço e papila

 

o dia em que minha língua sangrou

foi porque tinha um olho nascendo nela

 

desse delírio sublingual

extraí dela 

elixir 

plasma 

lágrima

e linfa

 

gatilho gatilho

 

nada disso era o sumo da língua

 

o único sumo da língua é saliva

concluí já enlouquecida

e o único jeito de extraí-la

é aquela 

boa e velha

lambida.


Poesia irá dominar o mundo!

Siga O Toma Aí Um Poema no Instagram

@tomaaiumpoema

Pela vida, nos ajude a espalhar mais poesia!

FAÇA UM PIX DE QUALQUER VALOR <3

tomaaiumpoema@gmail.com

ou CNPJ 33.066.546/0001-02

Até mesmo um real nos ajuda a manter o projeto.

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *