#501 Julie Dorrico – Vô Madeira | Literatura Indígena

Poema de Julie Dorrico – Vô Madeira.

Julie Dorrico é macuxi. Doutoranda em Teoria da Literatura na PUCRS. Autora de “Eu sou macuxi e outras histórias” (Caos e Letras, 2019). 1º Lugar no concurso FNLIJ/Tamoios de novos escritores indígenas. Tem contribuído imensamente para a divulgação da literatura indígena brasileira através de Lives com autores e artistas indígenas nas redes sociais e da rede de difusão Leia Mulheres Indígenas, do qual é integrante.

 

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Julie Dorrico – Vô Madeira

 

O vô correu correu

Com as piranhas e os botos,

Com as jatuaranas e os tambaquis,

Com as cobras e os jacarés,

Com todas as gentes não-humanas do rio;

O vô era um encantado

E por vezes trocava de pele pra ver como andava o mundo

Às vezes vinha de gente, outras de mangueira, algumas vezes perdida, de jaguatirica;

Um dia, num de seus passeios, o vô viu alguns de seus netos em cima de dragas no meio do rio:

Bêbados!

Jogando prato, prata, pano, plástico

Parem.

O vô chorou.

O dinheiro é o veneno da alma.

O vô achou que ia parar

Ouro, correntes, pulseirinhas, anéis, casamentos, filhos, netos, bisnetos, tataranetos,

Sem água.

O vô podia ser eterno

Mas fez a travessia jovem.

Só que ninguém sabia que quando ele se fosse

Todas as gentes iam também.

E foi assim que nós desaparecemos.

Feito fome

Feito sede

Feito noite

Feito morte.

 

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Poema: Vô Madeira

Poeta: Julie Dorrico

Voz: Jéssica Iancoski | @euiancoski


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