Dá até para escrever uma crônica
Ser mulher e artista tem seus privilégios – e que privilégios, meu bem! Você tem a liberdade de criar o que quiser, de seguir sua intuição, de dar vida às ideias mais íntimas. Pode explorar sua arte de forma genuína, sem seguir regras pré-estabelecidas. Tem a oportunidade de sacudir o mundo ao seu redor, até quando a vida não é tão gentil.
E, sim, você faz isso tudo enquanto lida com as ironias da vida.

Mas, fique tranquila. Quando os desafios aparecerem, quando ninguém comprar sua arte, quando você estiver bem desanimada, alguém vai te dizer que nada realmente importante vem fácil, não é? Então, não se assuste. Já está implícito que a vida da artista não é um mar de rosas.
Você também acaba ganhando um pacote exclusivo de dificuldades, surpresas e pequenas humilhações diárias. Mas veja pelo lado bom: tudo isso vem acompanhado de grandes oportunidades – como ter sua genialidade subestimada em tempo real.
Vamos aos benefícios? Se a sorte sorrir para você, talvez não precise trabalhar com homens. Mas, caso precise, pelo menos terá a dádiva de equilibrar sua carreira de artista com outro trabalho que paga as contas – uma habilidade valiosa para quem quer manter o luxo de continuar criando. Melhor ainda: existe a quase certeza de que sua carreira pode decolar…depois da sua morte. Então, pra que a pressa?
A liberdade criativa é outro grande presente. Você pode criar qualquer coisa, e essa qualquer coisa será considerada feminista (mesmo que você só tenha pintado só um gato). E, se sua ideia for realmente boa, não se preocupe: alguém importante pode te plagiar.
Os elogios também são impagáveis. Que honra ouvir que você é mulher e, ainda assim, faz uma arte tão boa! Isso sem contar o alívio de nunca precisar lidar com o constrangimento de ser chamada de gênio. Imagine só a vergonha?
Sua vida pessoal também colabora. Você pode ter ideias brilhantes enquanto lava a louça, e provavelmente elas vão desaparecer no exato instante em que você fechar a torneira. Mas, o que importa é que elas surgiram, e quem sabe, uma hora, resolvem voltar. Ainda, se seu homem te trocar por uma mulher quinze anos mais nova…parabéns: agora você tem mais tempo e energia para criar.
E claro, quem sabe você não recebe aquele convite para um evento sobre “a mulher na arte”? Sim, aquele que acontece em paralelo à grande exposição. Sinta-se lisonjeada.
Há a posteridade. Pode ser que sua obra seja ignorada por um tempo, mas, eventualmente, alguém a redescobre e a transforma em tendência. Talvez com uma nova assinatura, talvez uma releitura – mas veja pelo lado bom: você finalmente será reconhecida.
Mas, claro, no fim, o maior benefício de ser mulher e artista é saber que tudo o que você fez e faz, provavelmente vai ser reduzidos a um comentário sobre sua sensibilidade feminina. E quem não ama ser reduzida a um estereótipo para que a verdadeira genialidade de sua obra seja apreciada… anos depois? Com sorte, as futuras gerações vão lembrar de você com um sorriso forçado e um “ela foi importante, mas ninguém imaginava”. E tudo bem, porque, afinal, isso nunca foi sobre você, não é mesmo?
Para continuar escrevendo
Que tal escrever uma crônica recheada de ironia?
A crônica é um gênero literário que se caracteriza por retratar acontecimentos do cotidiano. Geralmente, ela possui um tom pessoal e uma abordagem intimista, podendo ser engraçada, reflexiva ou até crítica. Apesar de seu tom geralmente mais informal, a crônica pode abordar temas profundos, mas sempre com uma linguagem acessível e envolvente.
O mais interessante de uma crônica é a forma como ela consegue transformar um momento simples do dia a dia em algo interessante ou até irônico, como se o autor estivesse compartilhando uma experiência divertida ou curiosa com o leitor.
Você pode ler outra crônica aqui.
Agora, para esse exercício, que tal escrever uma crônica, usando um dos temas abaixo? O objetivo é criar um olhar irônico e divertido sobre um momento comum, como só uma boa crônica pode fazer!
Temas sugeridos para sua crônica irônica:
- Pessoas que mexem no celular quando estão no cinema.
- Sempre que você sai de casa sem sombrinha, chove.
- Ter gatos e viver com a roupa cheia de pelos.
- Abrir a geladeira só para ver o que tem dentro.Se você escrever essa crônica, compartilha ela comigo?Deixe um comentário
O que estou lendo?

Cartas Perto do Coração é um daqueles livros que, ao abrir, nos faz sentir como se estivéssemos espiando algo muito íntimo, mas ao mesmo tempo completamente necessário. A correspondência entre Fernando Sabino e Clarice Lispector não é só uma troca de cartas, mas uma verdadeira conversa que atravessa o tempo, e, para quem é fã desses dois, a experiência é quase como estar ali, na sala com eles, ouvindo tudo.
Leu e lembrou de alguém? É só cliar nesse botãozinho aqui para compartilhar.
Por (entre)linhas dessa semana fica por aqui. Eu espero que você se divirta enquanto escreve. Até a próxima!
Mabelly Venson é uma matemática que se apaixonou pela escrita. É parteira de livros na Editora Toma Aí Um Poema e autora de “Tudo Que Queima”, “apenas mãe” e “GELO”, obras que focam nas complexidades do ser mulher.