
Publicado em 2025 pela Garoupa Editora, Punk de penacho é um livro de poesia que se destaca por sua força crítica, humor ácido e linguagem híbrida entre a crônica urbana e o manifesto existencial. J. C. Pacheco constrói uma obra que é, ao mesmo tempo, uma narrativa de si e uma radiografia do mundo contemporâneo, de um Brasil atravessado por contradições sociais, memórias coloniais e ironias políticas.
O livro começa com uma cena metalinguística: o próprio autor no lançamento de seu livro, refletindo sobre o lugar da poesia num tempo em que “dizem que gostam, poucos leem, ninguém compra”. A partir daí, a obra se abre para uma coletânea de poemas que transitam entre o deboche e a melancolia, com títulos que já anunciam o tom anárquico e inventivo da escrita, como “Serve pra nada”, “Antônimo de higidez”, “Carcará”, “Sobrinho de Gengis Khan”, “Para Carolina de Jesus”.
Um dos aspectos mais marcantes é a fusão entre poesia e comentário social. O autor mistura referências históricas, mitológicas e pop, sem hierarquias: Leminski encontra Ginsberg; o sertão cruza com a Suíça; o meme convive com o verso clássico. Essa justaposição cria um ritmo punk: direto, raivoso, mas também consciente de sua própria precariedade. O poeta se coloca como um anarcoparnasiano, um cronista do caos que prefere o sarcasmo à elegia.
Formalmente, Punk de penacho é inventivo: alterna versos longos e fragmentados, jogos tipográficos, poemas visuais, experimentos gráficos e referências multilíngues. Há momentos em que o texto se aproxima da prosa poética e outros em que assume a estrutura do manifesto. O título, por sua vez, sintetiza a tensão central do livro — entre a rebeldia punk e o ornamento indígena, entre o grito e o penacho, o urbano e o ancestral.
A poesia de Pacheco é intensa, espirituosa e não tem medo de ser contraditória. O autor transforma a raiva em reflexão estética, o riso em denúncia, e a melancolia em gesto político. Punk de penacho é, enfim, um livro que reafirma a vitalidade da poesia brasileira contemporânea ao mostrar que o verso ainda pode ser um ato de resistência, mesmo (ou sobretudo) quando “serve pra nada”.