Resenha do Livro Concreto Imaginário, de Surian dos Santos

Concreto Imaginário é um livro que renova a tradição da poesia visual e concreta brasileira, mas com um olhar contemporâneo, afetuoso e sensorial. Surian dos Santos constrói uma obra que é tanto leitura quanto experiência: o texto se move na página, cria pausas, desdobra sentidos e convida o leitor a ver a palavra como corpo, som e gesto.

O título já anuncia o jogo central do livro: a tensão entre o concreto, a materialidade da linguagem e da forma, e o imaginário, o espaço interior em que o sentido se expande. Essa dialética percorre todo o volume, em poemas que brincam com a disposição gráfica: palavras que se esticam, se espelham, se repetem até o limite, dissolvendo fronteiras entre o visual e o verbal.

O autor propõe, em vez de sumário, um menu poético que orienta a leitura: Concreto Imaginário, Provérbios antigos de tempos futuros e Haikais  e Poemas curtos no seu próprio tempo. Essa escolha não é apenas formal: é também uma declaração de princípios. O livro se oferece como um banquete de linguagens, onde cada seção experimenta uma textura diferente da palavra, ora visual, ora sonora, ora mínima.

Há também uma dimensão filosófica e meditativa: versos como “a vida é o laboratório da natureza” ou “quem conta os dias / sofre mais” revelam uma poética da atenção — uma tentativa de pensar o tempo, o corpo e a existência por meio de formas simples, mas de alto impacto visual e sonoro.

O projeto gráfico, assinado por Jéssica Iancoski e pelo próprio autor, acompanha esse espírito: limpo, pulsante e preciso, faz da página um campo de invenção, onde o olhar é tão importante quanto a leitura.

Publicado em 2024 pela Toma Aí Um Poema, o livro confirma o compromisso da editora com a experimentação poética e com autores que buscam expandir os limites da linguagem.

Concreto Imaginário é, em essência, um convite a reaprender a ler. Surian dos Santos cria uma poesia que se faz e se desfaz diante dos olhos: concreta o bastante para tocar, imaginária o suficiente para nos mover.

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