“Quem não aparece não é lembrado”: como autores independentes podem aproveitar a FLIP

Networking e visibilidade: por que vender livros é efeito secundário em eventos literários

No cenário literário atual, muitos autores independentes descobrem que eventos como a FLIP – a Festa Literária Internacional de Paraty – oferecem mais do que espaço para vendas: são verdadeiras vitrines profissionais. Como destaca reportagem d’O Globo, “Autores independentes utilizam a Flip para divulgar seus trabalhos, fazer contatos e se consolidar no mercado editorial”. De fato, o festival oficializou essa tendência: na 22ª edição, foi criado um espaço dedicado a “editoras independentes, escritores e artistas gráficos”, que visa “fortalecer o diálogo entre escritores, artistas, moradores e visitantes”. Isso reflete a diversidade da FLIP e o fato de que a presença maciça de autores independentes na feira se tornou uma janela de oportunidade para chamar atenção e construir networking no mercado.

Em Paraty, essa dinâmica já é perceptível na prática. O escritor independente Wesley Barbosa conta que participou da FLIP pela primeira vez em 2019 e percebeu que “marcar presença na Flip era estratégico para se consolidar como um escritor profissional”. Na visão de Barbosa, a FLIP “não é só uma vitrine para as apostas das principais editoras, mas se tornou um espaço disputado também por autores independentes, que circulam na programação paralela, levam seus livros ao público e buscam contatos”. Ou seja, o evento ganha força à medida que tantos escritores autônomos exibem suas obras – mas a vantagem real está em ser visto pelo público certo. Como ele mesmo resume: “a programação paralela fortalece os independentes e democratiza a Flip”, permitindo que o autor seja lembrado sem precisar “se esforçar tanto para mostrar seu trabalho” após o festival.

Por esse motivo, vender livros na FLIP – embora útil – torna-se uma meta secundária. Mais importante é usar o evento para construir relacionamentos duradouros. A escritora Luciana de Gnone exemplifica bem essa estratégia: ela participou da programação paralela da FLIP em 2022 e conheceu por acaso a editora Martha Ribas, a quem ofereceu seu livro. Anos depois, esse contato virou contrato editorial – Luciana deixaria de ser autora indie para ter obra publicada em editora tradicional. Em seguida, ela encontrou em Paraty executivos de uma plataforma de streaming interessados em projetos, formalizou parcerias e até trabalha hoje em um projeto iniciado ali. Como ela enfatiza, “o autor independente tem que ter consciência de que ele é um empreendedor. Nesse mercado é muito importante se conectar com pessoas que vão nos auxiliar no caminho”. Em outras palavras, quem não aparece não é lembrado – ou seja, os ganhos de longo prazo vêm das conexões, e não apenas das vendas pontuais.

Especialistas em autopublicação concordam com essa visão. Guias para escritores independentes ressaltam que participar de eventos literários e feiras do livro é essencial para conhecer outros autores, editores, agentes e leitores potenciais. Esse encontro de atores diferentes “pode abrir portas para colaborações, resenhas e promoção mútua”. Outra análise aponta que estar presente em eventos e interagir com o público “pode ajudar o autor a criar uma rede de contatos”. Em suma, a rede profissional gerada nesses dias de festival tende a render frutos maiores no médio e longo prazo.

Estratégias práticas nos eventos literários

  • Planejamento antecipado: antes do evento, defina quais palestras, workshops ou encontros quer participar. Marque na agenda os horários mais importantes (lançamentos, sessões de perguntas, reuniões de autores), para não perder oportunidades de contato.
  • Material promocional: leve cartões de visita, marcadores de página e folhetos dos seus livros. Prepare um material de divulgação claro e profissional, incluindo sinopses rápidas e links para suas redes. Assim, cada pessoa com quem você conversar sai sabendo como encontrar suas obras.
  • Atuação ativa: participe de debates, rodas de conversa, festas literárias e atividades paralelas. Como lembra o próprio Wesley Barbosa, a “programação paralela fortalece os independentes”. Em outras palavras, ser visto em mesas menores ou casas literárias auxilia a chamar atenção de quem está no meio editorial.
  • Conexões estratégicas: aproxime-se de curadores, editores, distribuidores e outros agentes do mercado. Converse com produtores culturais, livreiros, blogueiros e até com colegas autores. Lembre-se de que autor independente é empreendedor: segundo Luciana de Gnone, é vital “se conectar com pessoas que vão nos auxiliar no caminho”. Estabeleça diálogos curtos mas memoráveis, troque contatos e, se possível, ofereça uma cópia do seu livro como cortesia.
  • Visibilidade digital: use as redes sociais para amplificar sua presença durante o evento. Anuncie sua participação e compartilhe impressões em tempo real (fotos no Instagram, posts no Twitter, Lives). Uma presença online ativa é “ferramenta poderosa” para engajar leitores e pode atrair pessoas para o seu estande ou lançamento, aumentando o alcance dos contatos feitos pessoalmente.

Em suma, autores independentes que enxergam eventos como a FLIP além de vitrines de venda colhem frutos duradouros. Em vez de focar apenas em negociar exemplares, recomenda-se ver cada festival como um hub de visibilidade. Participar da FLIP estrategicamente — criando uma rede de contatos ampla e qualificada — rende ganhos maiores no longo prazo. Dessa forma, autores que se articulam e permanecem “na memória” dos profissionais de cultura tendem a se destacar mais do que aqueles que tentam apenas empilhar livros nas bancas. Como reforçam as experiências citadas, ao final “quem não aparece não é lembrado”, tornando essencial aproveitar cada oportunidade de fazer networking em eventos literários.


Fontes: Relatos e análises de jornalistas e especialistas destacam a importância de feiras literárias para networking oglobo.globo.com | oglobo.globo.com | blog.ipressnet.com.br | istoedinheiro.com.br | flip.org.br. Esses estudos mostram que participação ativa e conexões estratégicas são mais vantajosas para autores independentes do que vendas pontuais, alinhando-se às recomendações de mercado.

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