
Dizem que publicar um autor novo é uma aposta.
Mas eu discordo.
Publicar gente nova é missão. É escolha política. É compromisso com o futuro.
Em um mercado editorial que valoriza nomes já validados, que reproduz listas de prêmios, rankings e celebridades, abrir espaço para quem nunca publicou é tratado como risco — quando, na verdade, deveria ser tratado como uma das tarefas mais importantes de qualquer editora séria.
Porque todo autor publicado pela primeira vez precisa de alguém que diga “sim” antes que todo o resto do mundo acredite. Alguém que leia o que ainda é rascunho com os olhos de quem já vê potência. Alguém que escute a insegurança, que traduza a vontade de dizer, que cuide dos detalhes e que ofereça estrutura para que aquele primeiro livro exista — não como favor, mas como projeto.
Na Toma Aí Um Poema, isso é o que fazemos desde o começo. E com muito orgulho.
Somos responsáveis pela estreia de mais de mil autores — muitos dos quais jamais teriam chegado ao mercado editorial se dependessem de validação institucional ou de recursos próprios.
São mulheres negras que nunca foram chamadas de escritoras.
São travestis que ouviram a vida inteira que suas histórias “não interessam a ninguém”.
São homens que escreveram escondido por vergonha.
São jovens que vieram de escolas públicas e sonharam em ter o próprio nome num livro.
São idosas que publicaram aos 70, 80, 90.
São poetas que escreveram em papel de pão e agora estão nas estantes.
Isso não é acaso. É missão.
Missão de não deixar que o sonho da publicação seja um privilégio.
Missão de democratizar o acesso à palavra impressa.
Missão de devolver à literatura o seu caráter coletivo, popular e diverso.
A primeira publicação tem um valor que não se mede em números de vendas. Ela inaugura uma nova forma de pertencimento. Um autor estreante não quer apenas lançar um livro — ele quer ser visto, reconhecido, validado enquanto sujeito criador. E quando isso acontece com respeito, com afeto e com escuta, algo muda para sempre.
Publicar gente nova é plantar futuro.
Mas é também um trabalho silencioso, artesanal, invisível aos grandes prêmios.
É feito por quem acredita mais na transformação do que no lucro.
Por quem publica mesmo sem garantias.
Por quem sabe que a literatura não precisa de mais do mesmo — precisa de vozes inéditas.
Se o mercado não quer correr o “risco”, nós corremos.
Se ninguém quer abrir a porta, nós criamos outra entrada.
E seguiremos fazendo isso — não por ousadia, mas por convicção.
Porque para nós, publicar gente nova não é aposta.
É missão.
É ofício.
É revolução.
Jéssica Iancoski
Jéssica Iancoski (1996) é editora, poeta e articuladora cultural. Presidente da Associação Privada Sem Fins Lucrativos Toma Aí Um Poema, a primeira editora no modelo ONG do Brasil, já faturou mais de R$ 1 milhão no mercado editorial, consolidando-se como referência em inovação e impacto social. Graduada em Letras (UFPR) e Psicologia (PUCPR), com especializações em Gestão de Projetos e Negócios, é autora de mais de 10 livros, incluindo A pele da pitanga (finalista do Prêmio Jabuti). Reconhecida por sua atuação inclusiva, publicou mais de 2 mil autores e produziu mais de 1.500 poemas audiovisuais, alcançando 1 milhão de acessos. Jéssica também recebeu prêmios como o Candango de Literatura (GDF) e Sérgio Mamberti (MinC) e, atualmente, é curadora do Prêmio Literário da Cidade de Curitiba.