Por que o autor ocupa a posição central em nosso trabalho editorial — e por que isso é importante

No selo editorial Toma Aí Um Poema (TAUP), consideramos que cada obra tem origem em um pacto de confiança entre autor e editor. O autor não é encarado como um mero “fornecedor de conteúdo” nem apenas um nome a ser promovido conforme as lógicas de mercado tradicionais. Em vez disso, o autor constitui a origem, o motor propulsor e o destino final de cada livro — a própria razão de ser do nosso fazer editorial. Por essa razão, posicioná-lo no centro de todo o processo não é simplesmente uma escolha afetiva ou política, mas sim uma decisão estratégica, ética e plenamente alinhada com a contemporaneidade.

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Imagem de Ted Erski por Pixabay

Nos anos recentes observa-se, no Brasil e no exterior, um movimento crescente de reformulação das relações entre editoras e autores. Em parte, essa mudança decorre das transformações tecnológicas e culturais que impactaram profundamente o setor editorial. Plataformas digitais ampliaram a voz de novos públicos e o fácil acesso à informação descentralizou as hierarquias de produção do conhecimento, colocando em xeque o papel da editora como curadora exclusiva do que “merece ser lido”. Esse novo cenário confere maior autonomia aos autores, mas lhes impõe também responsabilidades inéditas. Por exemplo, o mercado digital fragmentado atribui ao autor uma parcela maior do trabalho de divulgação e engajamento direto com o público. Ao mesmo tempo, editoras que se mantêm alheias a esses novos modos colaborativos tendem a perder relevância no mercado.

O Modelo Editorial Centrado no Autor (TAUP)

Desde a fundação, a TAUP adota uma estrutura de trabalho horizontal e responsiva. O autor participa ativamente de todas as etapas de decisão editorial, influenciando aspectos como:

  • a concepção da capa e o formato do livro;
  • o planejamento da estratégia de divulgação;
  • as decisões sobre financiamento e distribuição da obra.

Em muitos casos, o próprio autor auxilia na formação da equipe editorial, indicando designers, ilustradores ou revisores de sua preferência, e mantém poder de aprovação em cada etapa da produção. Importa destacar que essa participação não é um “favor” concedido ao autor, mas sim parte essencial do nosso modelo de publicação.

Essa abordagem difere do modelo de muitas editoras tradicionais, frequentemente caracterizadas por processos hierarquizados e pouco flexíveis, que acabam distanciando o autor das decisões. Na TAUP, ao contrário, o fazer editorial é artesanal e relacional, com diálogo próximo entre editor e escritor em todas as fases. Cada livro resulta de um processo singular — reflexo da trajetória única de cada pessoa autora.

Desafios, Benefícios e Resistência na Centralidade do Autor

Reconhecemos que esse modelo de trabalho requer maior disposição para a escuta, negociação constante e um investimento de tempo considerável. Em contrapartida, os resultados são significativamente enriquecedores: obras que de fato carregam a voz autêntica de quem as escreveu, respeitando as particularidades de sua expressão, e que têm maior probabilidade de encontrar os leitores adequados. Colocar o autor no centro do processo é, ademais, uma forma de resistência — contra o apagamento de vozes e contra os filtros sociais e estéticos que ainda fazem do mercado editorial um espaço marcadamente excludente.

É importante notar que uma parcela significativa dos autores que publicamos pertence a grupos historicamente sub-representados na literatura, e muitos deles estão lançando seu primeiro livro. Não basta oferecer “voz” a quem jamais foi ouvido — é preciso também fornecer as ferramentas, o acompanhamento e a autonomia necessários para que essas novas vozes se consolidem. Por isso, dedicamos especial atenção à formação de nossos autores e ao processo colaborativo: organizamos encontros formativos, oficinas de leitura coletiva e cuidamos minuciosamente do design e da linguagem visual de cada publicação. Tudo isso se apoia na crença de que editar é um ato de construção conjunta com o autor, em vez de um exercício de poder sobre a sua criação.

Importante frisar que colocar o autor no centro não significa terceirizar decisões nem atribuir-lhe responsabilidades que não lhe cabem. Significa, isto sim, reconhecer que a publicação de um livro é um ato coletivo — e, enquanto tal, demanda respeito mútuo, escuta ativa e corresponsabilidade entre todos os envolvidos. O papel da editora não é moldar o autor para que se encaixe em um catálogo pré-definido, mas sim moldar o catálogo a partir dos autores que desejamos amplificar.

Singularidade e Liberdade: Nosso Compromisso Editorial

Em um contexto em que a pressa do mercado editorial muitas vezes acaba por converter livros em produtos genéricos e campanhas de marketing em fórmulas previsíveis, reafirmamos nosso compromisso com a singularidade de cada obra. Essa singularidade tem início — e também fim — na vivência de quem escreve. É esse pacto fundamental que nos impulsiona, mantendo-nos deliberadamente pequenos, ágeis e intensamente comprometidos com a preservação da liberdade inerente a cada palavra. Afinal, cada palavra carrega em si liberdade, e toda liberdade, quando respeitada, pode se converter em livro.

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