Novos formatos de escrita coletiva estão reinventando a literatura
Escrever já foi — e ainda é — um ato solitário. Mas nem sempre precisa ser. Em 2025, cada vez mais poetas e escritores têm explorado oficinas literárias como espaço de encontro, invenção e experimentação coletiva. E essas oficinas estão se expandindo além das salas fechadas, dos editais burocráticos e dos moldes tradicionais. Algumas acontecem em bibliotecas. Outras, em calçadas. E outras, literalmente, com o céu como teto.
Foi o caso da oficina conduzida por Luiza Leite no Rio de Janeiro: uma experiência literária a céu aberto, onde a proposta era escrever com as nuvens — e não é metáfora. A dinâmica propunha escutar o entorno, observar o movimento do céu, sentir o tempo, respirar junto, escrever a partir de estímulos ambientais. E, com isso, construir textos que carregassem o peso do momento e a leveza da brisa.

🖋️ Escrever como quem caminha
Essas oficinas experimentais rompem com a ideia de que literatura só nasce de inspiração isolada ou de fórmulas estruturadas. Elas apostam em dispositivos sensoriais, práticas corporais e criação em fluxo livre. Muitas vezes, o exercício não parte de um tema, mas de um gesto: deitar no chão, observar o tempo passar, ouvir sons urbanos, inventar palavras com o vento.
Na oficina de Luiza, a escrita era quase coreografia. Poetas escreviam em cadernos, nos celulares, em folhas soltas levadas pelo vento — e tudo isso era parte do processo. Não havia correção, apenas troca. Não havia julgamento, apenas escuta.
💭 Por que isso importa?
Porque estamos vivendo uma revolução nos modos de fazer literatura. E ela vem da rua, da praça, da praia, da calçada, do gramado molhado.
Ela vem de quem entende que escrever junto é tão político quanto escrever bem.
Essas oficinas a céu aberto:
- democratizam o acesso à criação literária
- dissolvem a hierarquia entre “oficineiro” e “facilitador”
- permitem que a escrita seja vivida — e não apenas pensada
- valorizam o corpo, o tempo, o clima, o afeto
E mais: resgatam a oralidade e o improviso, elementos fundamentais da nossa tradição literária e cultural.
🌍 Um movimento maior
Oficinas de escrita em espaços públicos não são novidade, mas estão ganhando nova força. De São Paulo a Manaus, passando por comunidades, ocupações, praças e festivais, a escrita tem ocupado espaços urbanos de forma viva e insurgente.
Essas práticas se conectam com movimentos como a poesia falada, os slams, os saraus periféricos e a literatura de performance. E mostram que a escrita é também uma forma de estar no mundo — e não só no papel.
✨ Conclusão: escrever com as nuvens é possível (e necessário)
Na oficina com Luiza Leite, ninguém saiu com um poema perfeito. Mas todos saíram com algo novo: um verso atravessado pelo sol, um fragmento soprado pelo vento, um texto escrito de olhos fechados.
E isso, no fim, é tudo que a poesia precisa.
Se a literatura quer continuar viva, ela precisa sair da página e tocar o mundo.
Se quiser respirar, vai ter que se permitir ser lida em voz alta, escrita em voz baixa, partilhada entre estranhos, escrita deitada na grama.
Porque às vezes, o melhor lugar para escrever…
é exatamente onde o poema ainda não foi lido.