
Ao ler Pinte-me de Azul!, lembrei-me de minha costumeira indagação poética:
“Para onde vai o sonho/quando acordamos”.
Sorrateiramente, os poemas de Gisela Maria Bester indicaram-me o caminho: o sonho navega em outras bocas, em outras mãos para que, ao encontrá-lo, possamos acordar para sonhar outra vez.
Pinte-me de Azul!
Em seu primeiro livro de poesia, Bester nos desperta, sabiamente, com raios poéticos que descortinam tetos de vidro. Aqueles atravessados por Virgínia Woolf, por tantas outras, por cada uma de nós. Outrossim, instrumentalizando uma escrita meticulosamente planejada, a poeta nos prepara um teto ao qual, nós mulheres, possamos regressar.
Dotado de versos livres, tal qual a singular poeta se autointitula, “meus poemas são livres como eu”, Pinte-me de Azul! constrói-se em imagens oníricas inclinadas ao surreal, mas também se ancora naquilo que pode ser factível: a terra do “peso de um anjo morto”, ora consciente, ora fluida.
Recordando-me de Wittgenstein, sobre o qual a experiencia estética urge como jogo de linguagem nascido em determinada cultura e espaço, estão o cerrado de Leodegária; o jardim de Wislawa Szymborska; o sonho de Manoel de Barros; o Rio Grande do Sul de Maria Bester; e o próprio “mar de mim” – todos eles encontram-se nos versos marcadamente reflexivos, dotados de grito e silêncio. A meu ver, é nesse lugar que prolifera a força poética da autora, uma vez que metamorfoses e pausas singularizam as subjetividades humanas e dão força para as suas revoluções.
Por onde andavas, Gisela?
Encontrei teu rosto em tuas criações literárias, e vi tuas pernas caminhando por belíssimos recursos estilísticos. Apanhei tuas metáforas como quem enxerga “a potência/do grito”.
Senti-me livre como tu e tua poesia o são.
E o que mais queremos quando lemos um poema libertário?
Lê-lo outra vez!
[Resenha crítica escrita em 2023, na época do lançamento do livro, na FLIP]
Sarah Munck é doutora em Teoria Literária/UFJF. Leciona no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais.
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José Maria Soares
diz:Eis o milagre feito livro por uma palavra amiga de Sarah Munck. Amiga de livros e de Humanismo. Fisgou-me pela lavra da palavra e da Poesia.
Gisela Maria Bester
diz:Obrigada, equipe desse lindo blog da TAUP (agora também minha Editora), por publicarem com tão bonita edição essa belíssima resenha que a escritora e amiga poeta Sarah Munck Vieira fez do meu livro Pinte-me de Azul! Sarah é Mestra e Doutora em Estudos Literários, por instituição federal, e leciona no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. Escritora talentosa e nos caminhos sólidos da crítica literária, brindou-me com uma das primeiras leituras desse meu livro tão querido, lá na época do seu lançamento, na FLIP de 2023. Prezo a alegria de termos entrado juntas na @mondrueditora (pelo mesmo edital, que nos aproximou e nos fez companheiras, nos mundos da Literatura e da vida).

Há milhares de quilômetros uma da outra e sem ainda nos termos visto pessoalmente, seguidamente fazemos poemas que dialogam, então sabemos que essa ligação vem de longe, vem de antes. Somos passarinhas, poetizando com nossas asas de pousos e partidas, e biquinhos cheios de palavras famintas. Como na canção do Bob Marley. —
Abraços literários,
Gisela Maria Bester
Autora de Pinte-me de Azul (Mondru, 2023), e de Sorrir, esse sacrifício (TAUP, 2024)