Escritora Sofia Lopes: poesia como escuta do entremeio

A poeta Sofia Lopes, nascida e residente em Brasília (DF), está em processo de criação de seu livro de estreia, fenda, fresta, fio da espada. A obra, ainda em gestação, nasce do encontro entre introspecção e presença, entre o silêncio e a palavra — um espaço onde a poesia se torna gesto de escuta e tradução do indizível.

Sua escrita, delicada e intuitiva, habita os limiares da existência. Sofia explora o que há nas brechas: o intervalo entre o que se sente e o que se pode dizer.

A escrita como forma de habitar o mundo

Desde a infância, a escrita acompanhou Sofia como uma forma de sobrevivência. Escrevia para escapar de uma realidade em que não se encaixava e para dar forma a sentimentos que ainda não tinham nome. Com o tempo, esse impulso se transformou: o que era refúgio passou a ser presença.

Hoje, ela escreve para habitar o mundo de maneira mais sensível. A escrita, diz, a ajuda a perceber o que está por trás das aparências — “o que não se percebe à primeira vista”.

Em seus textos, a poeta encontra também um eco inconsciente: há uma espécie de intuição premonitória naquilo que escreve. “Às vezes releio poemas antigos e percebo fragmentos de sentimentos que eu nem sabia que existiam em mim na época”, revela. “Acho bonito quando um poema me revela algo que eu não sabia sobre mim mesma.”


Entre influências e ecos

A voz literária de Sofia se nutre de Anaïs Nin, Hilda Hilst, Clarice Lispector, Sylvia Plath e Emily Dickinson — autoras que exploram profundezas emocionais, o feminino e o mistério da linguagem.

A influência delas aparece tanto na temática quanto na estrutura dos poemas, em um equilíbrio entre introspecção e intensidade. Em cada verso, há o traço de uma busca: pela palavra exata, pela pausa certa, pelo instante em que o indizível se aproxima.


Temas que atravessam a escrita

Os poemas de Sofia percorrem temas como amor, morte, ausência e transição. Suas imagens revelam uma insistência nas fronteiras e nos espaços intermediários — fendas, frestas, limiares.

Há também um misticismo sutil que perpassa sua escrita: uma busca por epifanias e conexões com a natureza, por momentos que escapam ao tempo. Sua poesia convida o leitor a permanecer no intervalo, entre o visível e o invisível, o nomeado e o silêncio.


O nascimento de fenda, fresta, fio da espada

O livro está surgindo de forma natural, a partir de poemas recentes que começaram a dialogar entre si, criando um tecido interno, uma narrativa implícita. “Muitos textos pareciam conversar”, explica Sofia, “como se estivessem costurados por uma mesma respiração.”

O título — fenda, fresta, fio da espada — reflete justamente esse movimento entre transições, incertezas e estados liminares. Cada palavra do título é um portal para o entremeio: o corte, o vão, o fio que separa e une ao mesmo tempo.

Durante o processo de criação, a autora se surpreende com as ligações invisíveis entre os poemas. Mesmo sem seguir uma história linear, percebe que há fios que se entrelaçam silenciosamente, formando uma unidade viva.


A beleza do inacabado

Para Sofia, o leitor tende a se reconhecer nos espaços de dúvida, na oscilação entre o que se revela e o que permanece oculto. “Essas sensações de transição são comuns a todos nós”, reflete. “Mesmo que cada um as viva de um jeito, estamos sempre entre algo que termina e algo que começa.”

Seu livro, portanto, é também um convite ao não saber — a permanecer no meio do caminho, sem pressa de resolver o mistério.

Fenda, fresta, fio da espada propõe uma leitura para quem se permite habitar o intervalo entre uma palavra e outra, escutando o que existe no silêncio.


Escuta e entrega

Mais do que uma provocação, Sofia oferece um gesto: o da escuta. “Acredito que todo poema pede uma escuta silenciosa do que reverbera dentro de quem o recebe”, diz. “Entregar um poema é um ato de confiança — a confiança de que cada leitor encontrará sua própria chave nas entrelinhas.”

Para ela, a poesia é esse espaço de entrega e multiplicidade. “Apesar desse livro nascer de uma necessidade pessoal, ele não se encerra em mim. Cada obra existe plenamente quando encontra o olhar do outro.”


Entre o desconhecido e o encontro

Ao final, Sofia Lopes deixa uma reflexão que sintetiza o espírito de sua poesia:

“Nem sempre é possível nomear o que sentimos, mas há uma beleza em permanecer nesse território indefinido. Talvez o mais importante não seja chegar a uma resposta, mas se permitir sentir o percurso.”


Acompanhe o trabalho da autora e o nascimento do livro em suas futuras publicações e eventos literários.

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