Reflexões e exercícios para se conectar com o tempo e a literatura produzida por mulheres
Na semana passada, levei um grande susto. Quando comecei a criar o nosso planner, a ideia era simples: compô-lo com escritoras que mais me inspiram, aquelas que têm um lugar especial na minha estante e no meu coração. Fui escolhendo nomes de forma quase aleatória, guiada pela admiração que sinto por suas obras.
Acontece que no meio do processo, tive uma nova ideia: e se eu procurasse as datas de nascimento dessas autoras e organizasse o planner1 de forma que cada mês celebrasse uma escritora nascida naquele período? Parecia uma maneira ainda mais especial de conectar literatura e tempo.
E foi aí que o susto aconteceu. Ao pesquisar por “escritora que nasceu em abril”, por exemplo, o que apareceu na tela foi uma avalanche de nomes masculinos. Cerca de trinta homens para cada mulher. Mesmo com a palavra “escritora” bem clara na busca, os resultados insistiam em mostrar uma soberania de escritores do sexo masculino.

Esse choque abriu caminho para uma reflexão que quero compartilhar nesta segunda edição da Por (entre)linhas: onde (ou por que) escondem nossas escritoras? Por que seus nomes parecem tão difíceis de encontrar, mesmo quando pedimos por elas diretamente? Será que estão sendo ofuscadas por uma tradição que, por séculos, priorizou a literatura produzida por homens? Ou será que nos acostumamos a buscar literatura como se ela tivesse sido escrita penas por eles?
A verdade é que não basta digitar o nome certo ou procurar nos “lugares certos”. As escritoras estão lá, mas escondidas sob camadas de esquecimento, de descaso, de um sistema que ainda trata suas histórias como secundárias. Essa invisibilidade cultural não é só um desserviço às autoras; ela também nos priva, enquanto leitores, de um universo imenso de perspectivas, emoções e experiências que só elas podem oferecer.
Veja, não se trata de rebaixar os escritores homens, mas de elevar as escritoras mulheres, pois elas têm o direito de ocupar os mesmos espaços. Por isso, estou aqui propondo um desafio: vamos falar sobre a importância de lermos, pesquisarmos e, principalmente, destacarmos a literatura produzida por mulheres!
Que tal você postar sobre sua escritora favorita? Ou compartilhar o livro que está lendo agora, escrito por uma mulher? Vou pedir ainda que você deixe aqui nos comentários o nome de uma escritora que você admira e que acredita que mais pessoas deveriam conhecer. Vamos insistir em buscá-las, celebrá-las, recomendá-las, até que seus nomes sejam tão frequentes quanto os deles.
Te incentivo também, a não só ler mulheres, mas a conversar sobre essas leituras. Discuta as histórias, recomende os livros, celebre as autoras. Como sugestão, deixo aqui o Clube do Livr(ar), organizado pela Tati Sabatini, que é uma excelente iniciativa para quem quer explorar e dialogar sobre obras escritas por mulheres (não é publi, é uma recomendação do coração mesmo!)

Já que estamos falando sobre ler mulheres…
…vou começar recomendando um livro que tive a honra de trabalhar recentemente e que me marcou muito: “O nome dela não importa“, de Sabrina Dalbello.
Neste livro, Sabrina transforma a maternidade em poesia: um espaço de vínculos, rupturas, amor e dor. Com uma escrita visceral, ela explora as cicatrizes que nos formam, os laços que nos sustentam e as ausências que também nos definem. É uma narrativa que transita entre gerações, capturando a força e a fragilidade de quem dá e recebe a vida. Sem dúvidas, é uma leitura indispensável para quem busca profundidade e emoção na poesia contemporânea.

Escrever o Tempo

Com a chegada de um novo ano, nos deparamos com a oportunidade de rever nossa relação com o tempo: o que passou, o que fica, o que desejamos que venha. Assim, te convido a escrever uma Carta ao Tempo — uma carta que seja ao mesmo tempo uma despedida e um convite.
Imagine que você tem a chance de conversar diretamente com o tempo. O que você diria? Quais momentos você gostaria de agradecer, liberar ou transformar? Quais experiências, emoções ou aprendizados você deseja que o tempo carregue consigo, como se fossem bagagens a serem guardadas ou deixadas para trás? E, ao mesmo tempo, que novos momentos você gostaria de pedir ao tempo, como um presente, um caminho a ser aberto ou uma nova oportunidade?
Para inspirar sua escrita, sugiro que leia a Oração ao Tempo da Cris Guerra, um texto muito delicado sobre despedidas e novos começos.

Além disso, para embalar sua escrita, recomendo ouvir Carta ao Tempo, na voz de Maria Bethânia. A música traz uma melancolia suave e uma reflexão poética que pode ajudar a criar o clima perfeito para se conectar com o tempo e seus próprios sentimentos.
Aqui vão algumas sugestões de reflexão para guiar sua escrita:
- Agradecimentos ao Tempo: Quais momentos do ano que passou você gostaria de agradecer? Talvez um aprendizado, uma conquista, uma experiência que, mesmo difícil, te fez crescer.
- Despedidas: O que você quer deixar para trás? O que precisa ser liberado para que o novo ano possa começar com mais leveza?
- Pedidos ao Tempo: O que você espera do novo ano? Que desejos ou intenções você quer fazer ao tempo? O que você gostaria de trazer para a sua vida, de que forma quer usá-lo para crescer, para ser mais você?
Escreva sua carta com honestidade, sem pressa, sem censura. Deixe que o tempo te guie, e ao final, perceba o que ele te deixou e o que ele te trouxe. Talvez seja uma maneira simbólica de fechar um ciclo e se abrir para o que está por vir.
Espero que esse exercício ajude você a escrever e se conectar com as transições do tempo, a refletir sobre o que foi e a se preparar para o que está por vir, com mais presença. ✨
E antes terminar…
… não se esqueça de deixar seu comentário! Qual escritora te inspira? Compartilhe com a gente o nome da sua autora favorita ou até mesmo um livro que marcou seu ano. Vamos celebrar a literatura produzida por mulheres e seguir ressoando esses nomes por aí.
Nos vemos na próxima semana, com mais leituras, descobertas e histórias para contar.
Mabelly Venson é uma matemática que se apaixonou pela escrita. É parteira de livros na Editora Toma Aí Um Poema e autora de “Tudo Que Queima”, “apenas mãe” e “GELO”, obras que focam nas complexidades do ser mulher.