Escrever como estrangeir@

A inspiração não precisa vir de lugares distantes, mas do olhar renovado sobre o que sempre esteve por perto.

Janeiro chegou, e basta uma olhadinha rápida nas redes sociais para sentir o vento das férias soprando. São fotos de pés na areia, relatos de estradas percorridas, sorrisos que aconteceram há muitos quilometros daquele lugar que chamamos de casa.

Estamos em um período do ano que nos lembra da alegria de explorar o mundo, seja ele uma praia escondida, uma cidade com sotaques diferentes ou um simples passeio pela vizinhança ainda pouco explorada.

Há algo mágico em viajar: os olhos se arregalam diante do novo, os ouvidos se afinam para sons que não reconhecem, e o coração bate diferente ao atravessar ruas desconhecidas. Em férias, mesmo o trivial — o mercado, o transporte público, o café da manhã — se reveste de uma curiosidade inquieta. É o estado de ser estrangeir@.

É nesse estado que descobrimos como o mundo pode ser maior, mais complexo e, ao mesmo tempo, mais simples do que imaginávamos. E, por que não, é nesse estado que também nos tornamos mais abertos, atentos e inspirados para contar histórias. Lugares novos oferecem não só cenários, mas também personagens, cheiros e ritmos. Tudo isso pulsa e pede para ser traduzido em palavras.

Mas não é preciso viajar para escrever

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Ser escritor@ é, de certo modo, ser um eterno viajante. Como diz a escritora Anaïs Nin: “Nós viajamos, alguns de nós para sempre, para buscar outros estados, outras vidas, outras almas”.

Para a pessoa escritora, viajar não é apenas uma questão de deslocamento físico, mas uma travessia interna, uma busca por novas perspectivas, por novas formas de ver o mundo. Cada lugar, cada situação, é uma oportunidade de explorar e capturar o que antes parecia invisível. Viajar é também um convite para um olhar mais atento, mais curioso, mais sensível.

Infelizmente, a maioria de nós, mesmo com toda a vontade, não consegue viajar tanto quanto gostaria. Por isso, é possível adotar uma nova perspectiva, enxergar o (aparentemente) comum com olhos renovados. Escrever como estrangeir@, então, passa a ser um exercício do olhar. Um esforço de desautomatizar o cotidiano, de encontrar poesia na esquina já tantas vezes dobrada, de enchergar o som de uma rua conhecida.

Convite à escrita

Te convido a fazer esse exercício: ele nos desafia a sermos estrangeir@s em nossas próprias vidas. A entrar em nossos bairros como se fosse a primeira vez, a enxergar os detalhes de um rosto familiar como se nunca o tivéssemos visto antes, a sentir a textura de uma rotina que, tantas vezes, escapa pelos dedos.

Primeiramente, olhe ao seu redor com a curiosidade de quem explora um território desconhecido, absorvendo cada detalhe como se fosse a primeira vez. Preste atenção nas cores ao seu redor, nos sons que parecem distantes, nas texturas que passam despercebidas no cotidiano. Observe os gestos das pessoas, os objetos simples que costumam ser ignorados, e até o silêncio que preenche os espaços.

Escolha o que mais chamou sua atenção, seja um detalhe pequeno ou algo que, de repente, se destacou. Descreva-o com riqueza de detalhes: as cores, as formas, as texturas. Como esse detalhe se encaixa no cenário ao seu redor? Como ele se conecta com suas sensações ou com suas memórias? Vá além do que está visível e busque o que está por trás, o que é imperceptível a um olhar mais apressado.

Para deixar que as nuances e profundidades se revelem, afine o olhar e o vocabulário. Pergunte-se: como essa cena me afeta? O que ela me faz lembrar? Quais emoções ela desperta? Explore o contexto e busque metáforas ou comparações que ampliem o significado do que está sendo descrito. Não tenha medo de ser preciso nos detalhes, mas também aberto às interpretações que surgem conforme as palavras fluem. Através do que você escrever, outras pessoas poderão enxergar o que antes era só seu.

Quando uma mulher brasileira brilha, todas as outras brilham também!

E, claro, que essa newsletter tem a obrigação moral de celebrar uma conquista tão histórica.

A premiação de Fernanda Torres no Globo de Ouro é também de cada mulher brasileira que sonha, luta e transforma. Quando uma de nós rompe barreiras, pavimenta o caminho para todas. É mais que um prêmio, é um lembrete de que juntas brilhamos mais forte.💫

Aliás, você sabia que Fernanda Torres também é escritora?

É isso mesmo: não bastasse ser brilhante como atriz, ela também é escritora, cronista e roteirista.

Seu primeiro livro FIM foi lançado em 2013, e posteriormente adaptado para a minissérie homônima. Impossível ler o primeiro parágrafo e não querer continuar até o fim.

Conheça o livro Fim

Ela ainda é autora dos livros Sete Anos (2014) e A Glória e Seu Cortejo de Horrores (2017).

Assim como Fernanda Torres nos inspira a explorar novos horizontes e a nos reinventarmos, a escrita também nos convida a olhar o mundo com olhos curiosos e a compartilhar o que há de mais profundo em nossa percepção. Ao escrever, você não só revela o que vê, mas também convida os outros a descobrirem novas histórias. Que tal aproveitar esse momento para dar o primeiro passo nessa jornada criativa?

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mabelly.substack.com/


Mabelly Venson é uma matemática que se apaixonou pela escrita. É parteira de livros na Editora Toma Aí Um Poema e autora de “Tudo Que Queima”, “apenas mãe” e “GELO”, obras que focam nas complexidades do ser mulher.

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