Ep.578 Hortência Siebra – Encantado | Antologia Poética Infâncias

Poema de Hortência Siebra – Encantado, presente na nossa antologia poética Infâncias. Leia de Graça.

 

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Hortência Siebra – Encantado

 

Meu avô morreu cedo, 

Não me esperou chegar. 

Não importa. 

De tanto ouvir, recriei o meu avô. 

Ele, com a mala de couro, 

Saindo de casa, sem se despedir, 

Para morar na Lua. 

 

Toda noite, 

Eu virava a menina de olhos presos à Lua. 

Ficava tentando ver o meu avô. 

Ficava imaginando como ele vivia

Naquele lugar tão pequeno e claro. 

Como é que ele conseguia viver ali 

Cercado de solidão?

 

Será que ele não dormia?

Será que ele precisava ficar acordado, 

Esperando o dia começar, 

Para que a Lua se apagasse? 

Ou será que era ele mesmo quem, 

Pela manhã, apagava a Lua? 

 

Naquela época, 

Ouvi a história de São Jorge,

Que matava um dragão. 

Logo, passei a acreditar que a luta 

Tinha sido também na Lua. 

Primeiro, me angustiei, 

Achando que o dragão, 

Antes de morrer, 

Pudesse ter ferido meu avô.

Depois, fiquei feliz. 

Se São Jorge foi até lá matar um dragão, 

Deve ainda estar lá lhe fazendo companhia. 

 

Passei a olhar para a Lua sem tanta apreensão. 

Agora, meu avô morava com São Jorge

E lá já não existia mais solidão.

 

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Poema: Encantado

Poeta: Hortência Siebra


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