Sofia Lopes é escritora, tradutora e doutoranda em Literatura. Suas publicações incluem dois livros e participações em antologias e revistas. Seus trabalhos podem ser encontrados no Instagram @literartemis.

Sobre você e sua relação com a escrita
1. Para começar, pode nos contar um pouco sobre você e sua trajetória como escritor(a)? Como a escrita entrou na sua vida e o que a mantém presente no seu dia a dia?
A escrita é minha constante. Quando criança, comecei a escrever para escapar de uma realidade em que não me encaixava bem e para explorar sentimentos que eu não sabia nomear. Acho que, hoje em dia, a relação que tenho com o ato de escrever ainda tem muito em comum com essa origem, na infância.
Com frequência, a escrita me permite entender coisas que nem estavam claras dentro da minha cabeça. E também tem uma intuição quase premonitória sobre escrever: às vezes leio textos antigos e percebo fragmentos de sentimentos dos quais eu nem tinha consciência na época. Acho bonito quando um poema me revela algo que eu não sabia sobre mim mesma.
Mas se, na infância, eu escrevia como forma de escape, ao longo da vida a escrita foi se transformando na minha forma de habitar a realidade. É algo que me faz sentir mais presente no mundo e me ajuda a percebê-lo com olhos diferentes: vendo o que há por trás, o que não se percebe à primeira vista.
2. Quais autores, autoras ou obras foram referências importantes para você ao longo da sua vida e da sua carreira?
Algumas das minhas principais referências são Anaïs Nin, Hilda Hilst, Clarice Lispector, Sylvia Plath e Emily Dickinson. Com frequência sinto a influência delas ao escrever, seja pela temática ou por escolhas estéticas e estruturais.
3. Que experiências, temas ou questões pessoais costumam aparecer na sua escrita?
Coisas que costumam aparecer muito nos meus textos são amor, morte, ausências, limiares… Também noto repetidamente na minha escrita a ideia de uma busca por algo nunca nomeado. Uma epifania, uma conexão profunda com a natureza, um momento perdido no tempo… Acho que também tem uma curiosidade e um misticismo bem fortes aí.
Sobre o livro
4. Como nasceu a ideia do seu livro e por que você escolheu exatamente esse título?
A ideia desse livro se desenvolveu de forma bem natural. Muitos dos poemas que tenho escrito recentemente conversam entre si de um jeito que me fez querer compilá-los e transformá-los em algo maior; algo coeso e com uma espécie de narrativa interna.
A ideia de adotar fenda, fresta, fio da espada como título veio justamente do que esses poemas têm em comum: falar de transições, limiares, incertezas.
5. Se tivesse que resumir esse livro em uma palavra, qual seria e por quê?
“Liminaridades” foi uma opção de título que descartei cedo, mas acho que serviria bem pra resumir meu livro, porque reflete bem a temática subjacente dos poemas.
6. Durante o processo de criação deste livro, houve algum momento que te surpreendeu ou que mudou a forma como você via a história?
Sim! Como meu livro ainda está em processo de produção, eu sigo me surpreendendo às vezes. Uma coletânea de poemas pode não ser uma história no sentido tradicional, mas tem fios ali dentro que se enredam de uma forma muito bonita. É sempre uma descoberta perceber como cada pedaço se relaciona com os demais e ver o conjunto se formando.
7. Que parte da sua obra você acredita que os leitores costumam se identificar mais? E por quê?
Acho que muitos leitores podem se reconhecer justamente nos espaços de incerteza. Nos meus poemas, há uma constante oscilação entre desejo e perda, entre presença e ausência, entre o que se revela e o que permanece escondido. Essas sensações de transição são algo comum a todos nós, mesmo que sejam vividas de maneiras diferentes.
8. Que convite de leitura sua obra oferece a quem se dispõe a atravessá-la?
Meu livro é um convite a habitar o entremeio: fendas, frestas, espaços de passagem. Ao ler, espero que a pessoa se permita estar diante da incerteza, dos limiares, sem pressa de resolvê-los. É uma leitura para quem deseja escutar o que existe no intervalo entre uma palavra e outra, e talvez se reconhecer nesse espaço.
9. Onde os leitores podem encontrar ou adquirir seu livro?
Meu livro ainda está sendo produzido, mas será um prazer compartilhá-lo com vocês quando ele for lançado!
Mensagem final
10. Que reflexão ou provocação você gostaria de deixar aos leitores que se aproximem do seu livro?
Gostaria de sugerir uma abertura ao desconhecido. Nem sempre é possível nomear o que sentimos ou entender de imediato o que vivemos, mas há uma beleza em permanecer nesse território indefinido. Talvez o mais importante não seja chegar a uma resposta clara, mas se permitir sentir o percurso.
11. Se pudesse deixar uma última palavra ou gesto aos leitores do seu livro, qual seria?
O gesto da escuta. Porque acredito que todo poema pede uma escuta silenciosa do que reverbera dentro de quem o recebe. “Entregar” um poema ao leitor é, de certa forma, um gesto de confiança: de que cada um é capaz de encontrar sua própria chave nas entrelinhas.
12. Gostaria de acrescentar algo que não tenha sido perguntado e que considere importante compartilhar com os leitores? O que não pode faltar quando falamos de você e do seu livro?
Talvez o que não possa faltar seja dizer que, apesar desse livro nascer de uma necessidade pessoal, ele não se encerra em mim. Cada livro existe na sua forma mais plena quando encontra o olhar do outro. E é nesse encontro, imprevisível e múltiplo, que ele se completa.
Fico muito feliz por compartilhar um pouquinho do processo de criação do meu livro com vocês. Já faz com que ele pareça mais real!