Natural de Ituaçu-Ba, graduando de Medicina pela UESB, contista, cordelista e poeta. No meio literário, lançou seu primeiro livro, “Ovos de Jabuti em Latas de Ferro”, de caráter incentivo e multigênero, e também é fundador do Concurso Literário Baianidades Interioranas.

Sobre você e sua relação com a escrita
1. Para começar, pode nos contar um pouco sobre você e sua trajetória como escritor(a)? Como a escrita entrou na sua vida e o que a mantém presente no seu dia a dia?
Minha vivência como escritor se iniciou como a da maioria das outros escritores: lendo, e lendo muito. Amava ler sobre lendas e mitos de diversas culturas e povos quando era criança, de escutar histórias da minha cidade e da minha família. Ouvia essas histórias e criava pequenos filmes em minha cabeça, imaginando as situações e acrescentando detalhes a mais. Então surgiu disso, dessa mistura fortuita entre tradição oral, imaginação e minhas vivências infantis aprazíveis.
O engraçado é que a minha primeira história foi sobre uma renovação da história de “Alice no País das Maravilhas” e “O Mágico de Oz”: daí surgiu o conto infantil “Isabela na Ilha Encantada”, a história de uma garotinha que viaja para uma ilha com golfinhos que cospem fogo para terminar uma tarefa de escola. Sim, a história é bem birutinha, mas tem sua graça.
Na adolescência, passei a escrever FanFiction’s, mas nada tão realmente proveitoso. Até já escrevi um livro de terror, mas esse tá nas catacumbas esperando pelo bom-senso para torná-lo mais palatável. Com o tempo, minha escrita começou a passear pela poesia e pela literatura mais sombria, principalmente após aulas maravilhosas com minha professora de Português e Literatura do Ensino Médio. Com tudo isso, as peças da minha escrita se encaixaram e firmaram na minha consciência: uma escrita com forte tradição oral e dramática, com permeios poéticos e abordagens que transitam do terror à fantasia, do mistério ao drama familiar jocoso, do teor infantil aos temas adultos.
2. Quais autores, autoras ou obras foram referências importantes para você ao longo da sua vida e da sua carreira?
São várias referências: desde as poesias épicas de Homero à romances chik-lit da Marian Keyes. Perpassa também por Creepypastas, pela poesia de Cruz e Sousa, pela inventividade controversa do Dadaísmo, por mitos e lendas de diversas culturas de diversos povos, dos dramalhões do Victor Hugo, pelo retrato regionalista de Graciliano Ramos, pelo ultrarromantismo de Álvares de Azevedo… Enfim, como disse tenho inúmeras referências, mas as principais estão na minha aconchegante e exótica cidade natal, com seus encantos paisagísticos e com sua fraternidade alheia familiar.
3. Que experiências, temas ou questões pessoais costumam aparecer na sua escrita?
Varia muito de obra para obra, mas gosto muito de versar sobre infância, injustiças e tradições culturais. Gosto de propor dilemas e provocar reflexões, como também rebobinar memórias afetuosas e abraçar a saudade.
Sobre o livro
4. Como nasceu a ideia do seu livro e por que você escolheu exatamente esse título?
Bom… A intenção era escrever um livro de poesia épica, onde havia somente um poema contando a história de um homem que se apaixonava pela filha de uma bruxa. A poesia era longa e se sustentava sozinha, mas eu vi que havia a necessidade em expandir essa história e aproveitar todas aquelas pontas soltas para contar um pouco sobre cada personagem e suas relações. E dessas relações foram se criando mais pontas soltas que demandaram de mais carinho para destrinchar melhor a trama.
Inicialmente, tentei criar tudo com poesias, mas com o tempo percebi que algum texto prosaico facilitava o desenrolar de algumas situações. Por exemplo, para retratar uma briga entre a bruxa, o rapaz e a moça, decidi escrever um documento de Boletim de Ocorrência de modo esdrúxulo e espalhafatoso. Para dar um ar épico a uma parte da trama, construí ela em formato de lenda. Em certa parte da história, ocorre um conflito de situações esquisitas e ilógicas, aí decidi escrevê-lo inspirado em trava-línguas. Sem contar alguns outros textos, como as poesias em formato de cartas/bilhetes para retratar um desabafo, ou o poema em formato de caça-palavras para concretizar a desorientação duma personagem em meio a tantas definições.
Com isso, construí esse balaio doido (risos), claro tem suas imperfeições, mas a gente ama como filho mesmo.
Quanto ao título, ele contrasta a rigidez e a longevidade do jabuti com a fragilidade e o início que o ovo retrata. Mas o principal motivo se relaciona com uma experiência pessoal: eu cuidava com todo carinho de um ovinho enterrado em uma lata de ferro enferrujada, torcendo para que um dia eu pudesse nomear aquele novo bichinho com o nome de meu gato que havia desaparecido. Cuidei com muito afeto todo santo dia, com chuva ou sol, noite ou dia… Até que em um certo dia, do nada, o ovo rachou misteriosamente, e eu me senti muito – desculpem o termo – burramente imbecil em pôr tanta diligência em algo que não teve frutos. Acho que todos nós cuidamos ou já cuidamos de algum ovo enterrado em uma lata de ferro, colocando esperanças e/ou afeto em algo muito frágil (des)protegido por algo igualmente frágil. A questão é reconhecer isso o quanto antes e aprender com essa situação, tocando a bola para frente para vermos como a vida se segue.
5. Se tivesse que resumir esse livro em uma palavra, qual seria e por quê?
Criatividade! E não é prepotência minha o definir assim, uma vez que misturar contos, lendas, poemas, tirinhas, fábulas, cordéis para contar uma história apenas é uma tarefa que demanda bastante inventividade.
6. Durante o processo de criação deste livro, houve algum momento que te surpreendeu ou que mudou a forma como você via a história?
Com o feedback de alguns amigos, me surpreendia quando eles me contavam sobre o quão vívida e movimentada era a cidade de Lagoa e seus habitantes, local onde se passa a trama. Eu não havia percebido, mas, inconscientemente, eu havia construído uma espécie de enciclopédia de uma cidade fictícia, reunindo documentos e textos que falam acerca de sua política, seus costumes, conflitos, de sua produção cultural, sobre seus moradores célebres, de seu clima, relevo, folclore. Mesmo que a obra possua uma personagem principal, boa parte do enredo é sobre Lagoa e suas vivências e tramoias interioranas.
7. Que parte da sua obra você acredita que os leitores costumam se identificar mais? E por quê?
Acredito que todo o Ato IV seja o mais identificável por retratar o ruir de uma relação amorosa pérfida e instável. Ao versar sobre ódio, solidão, desespero e angústia, acredito que o leitor consegue se relacionar com as dissonâncias conflituosas daquela relação perturbada, podendo extrapolar até para relações familiares, amizades, platônicas.
8. Que convite de leitura sua obra oferece a quem se dispõe a atravessá-la?
Acredito ser um convite instigante ter a oportunidade deliciosa de ler tantos tipos textuais em um só livro
9. Onde os leitores podem encontrar ou adquirir seu livro?
O livro está sendo vendido pela Amazon em versão física e, muito em breve, terá uma versão digital.
Mensagem final
10. Que reflexão ou provocação você gostaria de deixar aos leitores que se aproximem do seu livro?
Nunca é tarde para abrirmos o coração para o perdão. Todos nós podemos alcançar esse bálsamo e reavivar nosso carinho com o abraço da compaixão misericordiosa.
11. Se pudesse deixar uma última palavra ou gesto aos leitores do seu livro, qual seria?
A literatura, como toda boa arte, é livre e não possui regulamentos. Vamos ser mais fora da caixinha para assim (re)construir a contemporaneidade da literatura.