Entrevista com Clarice Rin Yamahuti, autora de “Plantando tâmaras” | Coleção Gralha Azul

Clarice Rin Yamahuti é autora transfeminina, sáfica e amarela, cujas experiências corporais e subjetivas são matéria-prima para sua escrita potente, indócil e profundamente poética. Psicóloga de formação e atualmente mestranda, ela pesquisa a vivência transgênera a partir da arte — uma linguagem que, segundo Clarice, é capaz de dar forma ao que escapa às estruturas normativas da linguagem e da existência.

Sua estreia literária, Plantando tâmaras, publicada na Coleção Gralha Azul, é um conto atravessado pela dor, pelo delírio e pelo desejo de permanecer. O texto nasce de uma vivência limítrofe e assume a forma de um borrão: narrativo, existencial, estético. Escrito entre a mania e a lucidez, Plantando tâmaras desafia a lógica da perfeição para propor uma escrita que respira, escorre, erra — como um corpo que insiste em ser, apesar de tudo.

Clarice nos convida a ler uma subjetividade que não se encerra em si, mas transborda em direção ao outro. Entre areia, vento e palavras, sua personagem varre o chão na esperança de um dia limpá-lo — um gesto mínimo, absurdo e profundamente humano, como escrever.

Nesta entrevista exclusiva ao blog da Toma Aí Um Poema, Clarice Rin Yamahuti compartilha o processo criativo de Plantando tâmaras, suas vivências com a escrita e a transgeneridade, e como a arte se torna possibilidade de permanência, escuta e reinvenção de si.

Clarice Rin Yamahuti | Divulgação
Clarice Rin Yamahuti | Divulgação

Fale um pouco sobre você — quem é Clarice Rin Yamahuti na vida cotidiana e quem se revela quando você começa a escrever?

Olá! Sou Clarice Rin Yamahuti, psicóloga e mestranda em Psicologia pela UEM. Minha perspectiva literária traz muito do pós-estruturalismo para dentro das minhas fantasias — ou talvez minhas fantasias para dentro da teoria. Escrevo a partir da desconstrução: de sentidos, do corpo, dos conceitos. Trabalho em torno da palavra, da fantasia, da palavra-fantasia e da fantasia-palavra, às vezes escrevendo páginas inteiras em torno de um único termo.

Como nasceu a ideia do seu livro “Plantando tâmaras” e por que você escolheu exatamente esse título?

Meu livro nasce de um momento de extrema fragilidade, em que eu sequer sabia se estaria viva para finalizá-lo. A obra narra, de forma metafórica, a desconstrução do meu corpo — um processo necessário para que eu pudesse chegar ao fim. Foi preciso desfazer-me, desmontar quem eu era, para continuar sendo. Tornei-me uma abstração, e o livro carrega essa condição em sua própria forma.

Se tivesse que resumir sua livrete em três palavras, quais seriam e por que elas capturam a essência da obra?

Mancha, feitiçaria e tinta. Escolheria essas três palavras, começando pela figura da feiticeira — esse xamanismo deleuziano que atua na potência da metamorfose, no devir-algo como um devir-tudo. A tinta seria o material com o qual, enquanto feiticeira de mim mesma, componho meu ser em constante transformação. E a mancha, enfim, é aquilo em que me torno: vestígio, traço, presença que escapa às formas fixas.

Durante o processo de escrita, houve algum momento em que a o livro te surpreendeu — uma descoberta sobre você ou sobre o tema que capturou sua atenção? Você poderia compartilhar com a gente?

Escrevi o livro inteiro sem olhar para trás — de um fôlego só, permitindo que os erros e falhas se tornassem parte dele, expressando com honestidade o momento em que eu vivia. Por conta dessa dinâmica, terminei de escrever sem reler o que já havia feito, e só voltei ao texto depois de muito tempo. Foi então que, ao reunir as partes, percebi que já havia escrito um final… mesmo sem me lembrar disso. Assim, o livro acabou com dois finais: um, fruto do impulso e da urgência; outro, da tentativa posterior de encerramento. Ambos coexistem como registros distintos de uma mesma travessia.

Qual sentimento você mais espera despertar nos leitores ao ler seu livro: inquietação, nostalgia, esperança ou outro? E por quê?

Gostaria, na verdade, de incentivar com que o leitor tenham sentimentos novos. Sentimentos ainda inomeados, que não cabem nas caixas do conceito. Sentimentos que ainda não foram inventados e que não poderão ser.


📖 Onde comprar Plantando tâmaras, de Clarice Rin Yamahuti

A Coleção Gralha Azul apresenta uma obra potente e visceral com Plantando tâmaras, de Clarice Rin Yamahuti — um conto híbrido, entre delírio e lucidez, que transforma dor em estética e reinventa os limites da linguagem, do corpo e da existência.

Narrado como um borrão de tinta sobre a areia, o texto percorre memórias em fratura, experiências transgêneras, manias e reinvenções. Uma escrita marcada por falhas, repetições e desvio, que justamente por isso, transborda de verdade.

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