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Nos últimos anos, o universo literário — tradicionalmente visto como território do pensamento livre — passou a ser palco de intensos debates sobre censura, reavaliação moral de autores e campanhas de “cancelamento” cultural. Em tempos de polarização e redes sociais, o livro não escapa às chamadas “culture wars”: ele entra nelas com força.
Autores clássicos vêm sendo questionados por conteúdos considerados racistas, machistas ou moralmente problemáticos. Obras contemporâneas são retiradas de circulação após pressão popular. E até escritores do século XX, como Franz Kafka, viralizam entre jovens leitores — não por seus textos, mas por aspectos de sua vida pessoal, às vezes deturpados.
O que está em jogo, nesse debate, é o próprio papel da literatura na sociedade: devemos preservar todos os textos em nome da memória e da liberdade de expressão, ou é legítimo repensar o que ensinamos, publicamos e aplaudimos?

📌 O caso Monteiro Lobato: entre o clássico e o racismo
Um dos exemplos mais emblemáticos desse conflito é Monteiro Lobato, autor consagrado da literatura infantil brasileira. Suas obras, escritas nas décadas de 1930 e 1940, continuam populares — mas enfrentam críticas crescentes por retratar personagens negros com estereótipos racistas, como é o caso de Tia Nastácia.
Nos últimos anos, diversas entidades acadêmicas, educadores e movimentos sociais passaram a questionar o uso das obras de Lobato em escolas, especialmente sem mediação crítica. Em resposta, o Ministério da Educação chegou a incluir notas explicativas sobre o contexto histórico e os preconceitos da época nas edições distribuídas em escolas públicas — o que, por sua vez, gerou nova onda de críticas, com setores mais conservadores acusando o Estado de “interferência ideológica”.
A pergunta que paira é: ensinar Monteiro Lobato é racismo? Ou apagá-lo das escolas seria censura?
A resposta talvez esteja no meio-termo: não se trata de apagar o passado, mas de ensinar a ler o passado com olhos abertos.
⚠️ O MEC e o caso do livro recolhido: “Enquanto o sono não vem”
Outro episódio marcante ocorreu em 2017, quando o Ministério da Educação recolheu o livro infantil “Enquanto o sono não vem”, de José Mauro Brant. A obra — que incluía um conto adaptado do folclore, com temática de abuso sexual — foi retirada das escolas após pressão de famílias e políticos.
O debate dividiu opiniões. De um lado, havia quem defendesse que o tema não era apropriado para o público infantil. De outro, muitas vozes da educação e da cultura acusararam o MEC de censura e negacionismo, por ignorar que o livro trazia justamente uma oportunidade de mediação cuidadosa de um assunto real, doloroso, mas presente na vida de muitas crianças brasileiras.
Esse caso levantou um dilema importante: proteger a infância é silenciar as dores que atravessam a vida de tantas famílias?
Ou é justamente falar sobre elas que permite que deixem de ser tabu?
🔥 Cultura do cancelamento: autores na mira digital
Nas redes sociais, o ambiente é ainda mais instável. Autores são frequentemente “cancelados” por declarações passadas, posicionamentos ideológicos, ou mesmo por trechos de obras mal contextualizados. Não faltam exemplos de linchamentos virtuais, críticas infladas por trechos soltos e julgamentos que se espalham mais rápido do que a leitura real dos textos.
O fenômeno atinge até nomes do cânone internacional: recentemente, Franz Kafka virou meme nas redes por supostos comportamentos considerados problemáticos, gerando debates acalorados sobre se “ainda vale a pena ler autores machistas, racistas, transfóbicos, etc.”
A pergunta que fica: é possível separar autor e obra?
E mais: será que devemos?
✊ Crítica não é censura — mas há uma linha tênue
Fazer uma leitura crítica de um autor é necessário. Questionar o que ensinamos às crianças é um dever pedagógico. Denunciar preconceitos disfarçados de clássicos é um avanço social.
Mas entre a crítica e o silenciamento existe uma fronteira delicada — e cada vez mais borrada.
Censura é quando a crítica vira proibição. É quando a leitura é interrompida antes de começar. É quando a obra é retirada do debate, em vez de ser lida com mais atenção.
E é importante reconhecer quando esse limite está sendo ultrapassado — seja por instituições, governos ou militâncias digitais.
📌 Conclusão: literatura é desconforto — e isso não é um problema
A literatura nunca foi um lugar de conforto. Grandes livros nos transformam justamente porque nos expõem ao incômodo, à dúvida, ao espelho do tempo. Não é preciso concordar com tudo o que se lê. Mas é preciso entender o que se está lendo, de onde vem, e por que existe.
Proteger leitores não pode significar empobrecer o repertório cultural.
Ensinar a pensar não é esconder livros, mas apresentá-los com contexto, escuta e pensamento crítico.
A solução para o desconforto literário não é o silêncio — é o debate.
E, sobretudo, a liberdade para ler, questionar, e continuar escrevendo.