Nota importante sobre este texto: Este artigo tem caráter analítico e ensaístico. Propõe uma reflexão crítica sobre dinâmicas digitais contemporâneas, com base em referências teóricas e observações gerais do campo cultural. Ao abordar fenômenos de comunicação violenta nas redes sociais, não nos referimos a indivíduos ou episódios específicos, mas sim a padrões amplos de comportamento digital incentivados por estruturas algorítmicas. Qualquer semelhança com casos concretos deve ser compreendida como ilustração de processos coletivos. Não se trata de acusação, julgamento de caráter ou ataque pessoal. Trata-se de uma análise das lógicas de visibilidade, engajamento e poder que permeiam o espaço público digital e impactam diretamente o ecossistema literário e cultural.
Nos últimos tempos, tem se tornado comum o surgimento de postagens nas redes sociais denunciando publicamente editoras independentes ou outros agentes do campo cultural. Muitas dessas publicações seguem um mesmo padrão: tom acusatório, linguagem generalizante e ausência de espaço para diálogo ou contraponto. Embora abordem questões legítimas do mercado editorial, sua forma costuma priorizar o embate à escuta, convertendo denúncias em espetáculo digital. O resultado é previsível: uma enxurrada de comentários inflamados, compartilhamentos em cadeia e a rápida ascensão do conteúdo ao status de trending topic, impulsionado pela indignação coletiva.
Essa estratégia de comunicação — consciente ou não — tende a capitalizar sobre o conflito. Em vez de promover uma discussão construtiva, ela se alimenta da lógica algorítmica que premia a polarização e o ataque. O engajamento é convertido em capital simbólico: mais curtidas, mais visibilidade, mais poder de influência. Neste artigo, examinamos criticamente como os mecanismos das plataformas digitais incentivam esse tipo de engajamento baseado no ódio e como essas dinâmicas se conectam a fenômenos mais amplos, como o fascismo digital e a lógica neoliberal da atenção. Para isso, recorremos às reflexões de pensadores contemporâneos – como Byung-Chul Han, Wendy Brown e Evgeny Morozov – que nos ajudam a compreender os riscos culturais e políticos envolvidos nesse modelo de comunicação.

Cultura de ódio instantâneo: ataque em vez de diálogo
As redes sociais digitais criaram um ambiente propício à tempestade de ódio instantânea, o que o filósofo Byung-Chul Han chamou de shitstorm, um fenômeno autêntico da comunicação digital atual. Nessa cultura, falta respeito e predomina a indiscrição, pois a internet permite reações emocionais instantâneas, sem o filtro da reflexão. Ao descrever a lógica das redes, Han nota que diferentemente da comunicação analógica – em que o ato de escrever uma carta ou artigo dava tempo para a raiva esfriar – “a comunicação digital permite a descarga afetiva imediata”, transmitindo reações impulsivas e viscerais. Isso significa que, diante de um post provocativo, usuários podem reagir com fúria quase em tempo real, amplificando um coro de ataques antes que qualquer diálogo ponderado se estabeleça.
Em situações recentes, redes como o Instagram têm sido utilizadas para expor experiências negativas com editoras independentes. Em muitos casos, essas publicações adotam um tom de ironia e generalização, com slogans que procuram ao mesmo tempo acusar e isentar, como “Nem toda editora pequena” — fórmula que, embora tente marcar exceções, acaba reforçando uma lógica irônica de denúncia coletiva. O impacto costuma ser imediato: comentários inflamados, compartilhamentos em larga escala e a formação de um ambiente de linchamento simbólico direcionado a agentes culturais com menor poder institucional. Essa postura – de chamar ao palco da vergonha um suposto inimigo coletivo – não convida à conversa, mas à execração pública. Como observa Han, o público online muitas vezes se comporta como um “enxame digital” fragmentado, incapaz de formar um debate orientado a soluções; ele concentra-se em indivíduos ou grupos apenas para convertê-los em objetos de escândalo e ataque. Temos, assim, uma massa conectada que age mais como um motim do que como uma esfera pública racional. Os envolvidos nesse tipo de polêmica digital frequentemente não buscam compreender ou dialogar, mas sim vencer a disputa de narrativas pela agressão e pelo volume de vozes indignadas. Trata-se de uma “comunicação de ruído”, nas palavras de Han, um turbilhão que destrói qualquer hierarquia ou autoridade que pudesse moderar a conversa. Em suma, a plataforma se torna um palco de guerra simbólica, na qual o engajamento é medido pela intensidade do ódio expresso, e não pela qualidade dos argumentos.
Engajamento algorítmico: a lógica lucrativa da indignação
Por trás desse cenário está a arquitetura das próprias redes sociais, cujo algoritmo valoriza o engajamento acima de tudo – e descobriu-se que nada engaja mais do que conteúdos que despertam raiva, choque ou antagonismo. Estudos e auditorias de plataformas comprovam que mecanismos de recomendação baseados em engajamento amplificam conteúdo divisivo e hostil a out-groups (grupos vistos como “outros”) muito mais do que conteúdos neutros ou positivos. Em outras palavras, posts que provocam revolta tendem a ser exibidos para mais pessoas, gerando um ciclo vicioso: indignação gera cliques, cliques geram destaque, destaque gera mais indignação. Um relatório do Integrity Institute (2022) constatou que publicações com linguagem ofensiva dirigida a grupos “inimigos” tinham probabilidade significativamente maior de serem compartilhadas e de receber reações de raiva dos usuários – indicando que o ódio é recompensado pelo algoritmo em forma de visibilidade. Conforme sintetizou um analista, “a raiva e a indignação, especialmente contra aqueles ‘diferentes de nós’, são o que melhor capturam nossa atenção”. Logo, vemos proliferar nos feeds exatamente esse tipo de conteúdo extremado: aquilo que provoca outrage tende a dominar a timeline de todos. Os próprios executivos e fundadores de redes sociais reconhecem, retrospectivamente, os efeitos perversos dessa lógica. Evan Williams, cofundador do Twitter, chegou a comparar o botão de retweet a “dar uma arma carregada a uma criança de 4 anos”, referindo-se ao poder de viralização instantânea de mensagens indignadas e potencialmente tóxicas, O imediatismo é crucial: a postagem que obtém mais respostas e compartilhamentos nos primeiros minutos/horas é impulsionada exponencialmente, e para isso não há nada melhor do que um conteúdo que desperte reação visceral imediata. Nuances, contextos e reflexões ponderadas raramente viralizam – são lentas demais para o jogo algorítmico. Em vez disso, a máquina incentiva achatar toda nuance, tornar tudo binário, e usar táticas ultrajantes para obter uma resposta imediata. Essa engenharia da atenção acaba premiando quem se dispõe a ser mais estridente, provocativo e até desonesto, contanto que prenda os olhos e dedos dos usuários na tela.
No âmbito individual, isso significa que criadores de conteúdo – incluindo escritores e figuras públicas – enfrentam a tentação de adotar estratégias de comunicação cada vez mais agressivas para se manter relevantes. O sistema de likes, compartilhamentos e comentários vira uma moeda simbólica valiosa; e como qualquer moeda, é disputada. Evgeny Morozov, crítico da internet, lembra que a tecnologia não é inerentemente emancipadora: as mesmas ferramentas digitais que prometem dar voz aos oprimidos podem ser empregadas para manipular, vigiar e incitar violência. As redes oferecem às personalidades públicas um palco direto ao público, sem mediação institucional – o que pode ser libertador, mas também elimina freios e incentivos à moderação. Quando as recompensas algorítmicas (visibilidade, trending topics, aumento de seguidores) estão alinhadas com comportamentos polarizadores, muitos acabam, conscientemente ou não, se tornando cúmplices desse jogo de extremar posições. Postagens críticas que atacam editoras menores, ainda que apresentem a intenção de prestar um serviço de alerta, muitas vezes acabam moldadas pela lógica algorítmica da negatividade – o que transforma a denúncia em combustível para visibilidade e autopromoção involuntária. Esse tipo de engajamento atua como estratégia de marketing camuflada: gera burburinho, angaria apoiadores fervorosos de um lado (e detratores do outro), e mantém o nome da pessoa em voga – tudo isso potencialmente se convertendo em vendas de livros, convites e capital simbólico no mercado cultural.
Importante frisar que essa estratégia do ódio é lucrativa não apenas para o indivíduo, mas para as plataformas. Redes sociais como Facebook, Twitter (X) ou Instagram lucram ao manter-nos rolando o feed irritados: nossa atenção prolongada significa mais anúncios vistos e mais dados coletados; O algoritmo, assim, não tem compromisso com a verdade, com a saúde do debate ou com o bem-estar coletivo – seus critérios são comerciais. Nessa economia da atenção, “os sem-vergonha levam vantagem, porque a máquina se importa apenas com atenção”, nas palavras do jornalista Charlie Warzel.
Ou seja, atores dispostos a ultrapassar limites éticos – espalhar desinformação, atacar pessoas, fomentar teorias conspiratórias – costumam se sair bem nesse sistema, pois não têm pudores em manipular emoções para ganhar cliques. Essa realidade ajuda a explicar por que discursos de ódio, trolls organizados e campanhas de difamação prosperam online: há incentivos estruturais para a violência simbólica, porque ela gera engajamento e engajamento vira renda para alguém. No limite, a timeline de qualquer usuário tende a se tornar uma arena onde outrage e sensacionalismo competem pela nossa atenção, muitas vezes à custa de conteúdos ponderados e informativos que acabam soterrados ou preteridos pelo algoritmo.
Neoliberalismo, ressentimento e fascismo digital
A explosão dessas dinâmicas de ódio algorítmico não ocorre em um vácuo histórico – ela está inserida em um contexto maior de neoliberalismo e crise da esfera pública, que prepara o terreno para tendências autoritárias e fascistas emergirem também no meio digital. Teóricos políticos como Wendy Brown e Henry Giroux argumentam que décadas de políticas neoliberais – com sua exaltação do mercado e desmonte de proteções sociais – erosionaram os valores democráticos e o senso de comunidade, deixando os indivíduos atomizados, inseguros e ressentidos. Quando a lógica da competição total substitui a solidariedade, o resultado é uma sociedade mais cínica e propensa ao rancor: perdas materiais e desamparo social se traduzem em raiva difusa, buscando alvos para descarregar-se. Brown observa que esse ressentimento facilmente se volta contra grupos vulneráveis ou inimigos fabricados, numa reação apocalíptica que pavimenta o caminho a discursos de ódio e projetos antidemocráticos. É nessa conjuntura que idéias e princípios fascistas voltam a se tornar atraentes, normalizando retóricas de intolerância e violência como se fossem soluções legítimas.
Nas redes sociais, vemos um reflexo preocupante desse fenômeno. Plataformas originalmente celebradas como democratizantes – dando voz “a todos” – hoje hospedam legião de movimentos reacionários e campanhas de linchamento virtual, muitas vezes impulsionadas por esse caldo de ressentimento social. O ambiente digital, combinado à crise econômica e política, gera o que Giroux denomina “cultura cruel”: um espaço onde se cultiva “um apetite pela malícia que compromete a capacidade de empatia, tornando as pessoas indiferentes ao sofrimento alheio ou, pior, participantes ativas da exclusão violenta do outro”. Essa descrição ecoa as características do fascismo histórico adaptadas ao presente: desumanização de grupos inteiros, incitamento das massas contra bodes expiatórios e justificação da crueldade em nome de uma suposta justiça ou purificação. Agora, esses processos são facilitados e amplificados pelos algoritmos e pela conectividade permanente. Como analisa o crítico Daniel Trilling, aquilo que no fascismo clássico exigia partidos de massa e líderes carismáticos para mobilizar multidões, hoje é reproduzido funcionalmente pelas plataformas sociais: elas fazem a ponte direta entre “líderes” (influenciadores, demagogos) e “multidões virtuais”, estabelecendo um nexo fatal de lealdade e ódio. “As redes sociais cumprem o papel antes exercido pelos partidos de massas em criar a dialética fatal entre líder e massa; empreendedores políticos engajam-se em ‘campanhas algorítmicas permanentes’, direcionando a raiva e o sadismo de seus seguidores contra os oponentes”. Essa análise – que Trilling aplica sobretudo à nova extrema-direita – pode também ser estendida a outras esferas: qualquer figura capaz de inflamar uma base de seguidores contra um “inimigo” nas redes está, em alguma medida, lançando mão de uma estratégia protofascista de mobilização, ainda que o conteúdo ideológico alegado seja outro.
Em contextos recentes do debate literário digital, observa-se que, mesmo quando os discursos se alinham a pautas progressistas, algumas estratégias de comunicação acabam por reproduzir dinâmicas retóricas que evocam a lógica do “nós contra eles”. Ao tratar grupos como antagonistas coletivos — como no caso das editoras pequenas, frequentemente representadas de forma homogênea e negativa — esse tipo de narrativa pode incentivar reações indignadas e contribuir para um ambiente de hostilidade simbólica no campo cultural.
Ainda que não haja apelo à violência física, o vocabulário utilizado e o clima emocional gerado muitas vezes remetem à ideia de eliminação simbólica do outro: a deslegitimação pública, o apagamento reputacional, a exclusão do debate. A disposição de atacar segmentos mais vulneráveis da cadeia produtiva — como pequenas editoras, que atuam com menos recursos e visibilidade institucional — em nome de uma suposta “higienização” do mercado cultural, ressoa com o alerta de Judith Butler sobre o risco do fascismo lógico: “uma vez que se admite que uma minoria vulnerável pode ser sacrificada, já se opera dentro da lógica fascista”.
Aqui, o conceito de “minoria” extrapola recortes étnicos ou identitários e se aplica também a agentes frágeis do ecossistema cultural, especialmente quando tornam-se alvos preferenciais de discursos inflamados. O que está em jogo é uma dinâmica em que o algoritmo e o contexto neoliberal fornecem a engrenagem — e impulsos coletivos de ressentimento oferecem o combustível emocional: identificam-se culpados, direciona-se o ódio, e capitaliza-se simbolicamente a partir dessa polarização.
Ademais, essa convergência entre neoliberalismo e fascismo se expressa também na própria transformação do discurso público em espetáculo de violência simbólica e degradação da linguagem. Como nota Giroux (inspirado por Brown), a união perversa do hiper-capitalismo com valores autoritários criou “uma cultura que promove mentiras, espetáculos, o bode expiatório do outro, um discurso em deterioração e violência brutal”. Esse tipo de dinâmica ilustra com clareza uma tendência preocupante: em vez de debate honesto sobre problemas estruturais do mercado editorial (como baixa sustentabilidade das pequenas editoras, falta de políticas públicas, etc.), observa-se, com frequência, a substituição do debate por performances personalistas marcadas por ataques, generalizações e slogans virais. A esfera digital transforma-se, assim, em um campo de batalha simbólico onde o deboche agressivo suplanta a argumentação racional, e hashtags provocativas ocupam o lugar de propostas reais de transformação. Isso não apenas empobrece o discurso – tornando-o incompatível com os princípios de uma democracia saudável – como normaliza a ideia de que a força bruta (ainda que só verbal, por enquanto) é o meio legítimo de resolver disputas. Estamos diante de um colapso da deliberação pública, em que ganha quem berra mais alto ou causa mais comoção, um cenário que lembra as condições nas quais prosperam projetos autoritários.
Considerações finais: resistir ao ciclo do ódio
A análise desse tipo de ocorrência, à luz de seu contexto teórico, revela uma sobreposição preocupante entre os imperativos do capitalismo digital e as pulsões mais obscuras da psicologia política coletiva. Os algoritmos, projetados para maximizar o tempo de permanência nas plataformas e a intensidade do engajamento, incentivam comportamentos extremados e discursos de ódio, pois descobriram que a indignação é altamente rentável. Autores, influenciadores e mesmo usuários comuns, imersos nessa ecologia, muitas vezes acabam reproduzindo essas dinâmicas — ora por oportunismo estratégico, ora por uma espécie de coerção sistêmica que torna difícil escapar da lógica do “engajamento a qualquer custo”.
O resultado é uma esfera pública online cada vez mais marcada pela beligerância, pela radicalização e pela perda de nuances e empatia. A curto prazo, essa dinâmica pode beneficiar determinados indivíduos, que ganham visibilidade ao se posicionar de maneira contundente e polarizadora, muitas vezes assumindo o papel de figuras públicas “justiceiras” em nome de uma causa. Contudo, os impactos para o ecossistema cultural como um todo são profundos: vínculos profissionais se deterioram, agentes independentes (como editoras de pequeno porte) tornam-se alvos fáceis de ataques e suspeitas infundadas, e instala-se um ambiente de desconfiança e hostilidade onde antes havia espaço para colaboração, crítica construtiva e diálogo.
Mais amplamente, o que está em jogo é a saúde da própria democracia e do debate público em tempos digitais. A lógica do engajamento pelo ódio configura uma forma de psicopolítica perversa, na qual nossos afetos negativos são explorados e amplificados por máquinas que visam lucro, minando deliberadamente a possibilidade de entendimento mútuo. Byung-Chul Han alerta que a multidão digital enfurecida não consegue constituir um “nós” político com projeto de futuro – ela é volátil, focada no presente imediato da raiva, e facilmente manipulável pelo poder. Assim, apesar de toda a aparência de “movimento” e “agitação”, esses shitstorms não produzem verdadeira transformação estrutural; ao contrário, servem muitas vezes como válvulas de escape que preservam o status quo (afinal, a energia social é gasta em brigas online estéreis, ao invés de organização concreta). Do ponto de vista crítico, podemos enxergar nessa economia da atenção odiosa uma continuidade dos mecanismos de dominação: o capital dita o que consumiremos em termos de informação e emoção, e nesse cardápio, a indignação é o prato preferido porque vicia e fideliza. Tal como Wendy Brown argumenta, estamos colhendo os frutos amargos de décadas de neoliberalismo que dessubstanciaram a política e converteram tudo – até nossos laços sociais e comunicativos – em mercadoria e competição. Nesse ambiente, o discurso fascistoide deixa de ser um tabu para se tornar apenas mais um estilo eficaz de engajamento, prontamente absorvido pelos mercados midiáticos.
Romper esse ciclo vicioso é um desafio premente. Implica repensar o desenho das plataformas (sua governança algorítmica), mas também reeducar nossa sensibilidade enquanto público. Significa recusar o prazer perverso da participação em linchamentos virtuais, denunciar os incentivos ao ódio e cobrar responsabilidade tanto de quem lucra com ele quanto de quem o propaga. A crítica cultural e política das redes sociais – como a que esboçamos aqui, apoiada em Han, Brown, Morozov e outros – precisa chegar ao grande público, para desnaturalizar o que vem sendo tratado como “normal” online. Precisamos lembrar que controverso e viral não é sinônimo de verdadeiro ou justo. Em vez de priorizar o diálogo público e o enfrentamento coletivo de questões estruturais — como os desafios enfrentados pelas editoras independentes — é comum vermos caminhos que favorecem a lógica algorítmica da exposição e do conflito. É nosso papel, como sociedade, questionar essas escolhas e os sistemas que as recompensam. Caso contrário, arriscamos reforçar um modelo de esfera pública degradada, refém da “cultura do ódio” e vulnerável a projetos autoritários. Que a vigilância crítica nos impeça de normalizar o inaceitável – seja na política, seja na literatura, seja em qualquer âmbito onde o humano dependa da capacidade de escutar o outro e de viver em comum.
⚖️ Este artigo está amparado pelo direito à liberdade de expressão, de pensamento e de crítica cultural, garantidos pela Constituição Federal do Brasil (Art. 5º, incisos IV e IX), bem como pelo direito à produção científica e artística (Art. 5º, inciso IX e Art. 220, §1º). Seu conteúdo não configura difamação, calúnia ou injúria, pois não há identificação de pessoas, julgamento de caráter ou imputação de fatos específicos. Trata-se de reflexão impessoal sobre fenômenos estruturais da vida digital contemporânea.
Fontes utilizadas:
Columbia JIA – “The Ungovernability of Digital Hate Culture” (Bharath Ganesh, 2018)
Byung-Chul Han – No Enxame: Perspectivas Digitais (2013)
Byung-Chul Han – In the Swarm: Digital Prospects (MIT Press, 2017)
Blaze Currie – “The Algorithm of Outrage” (Medium, 2021)
Daniel Trilling – “Is this fascism?” (London Review of Books, 2025)
Henry A. Giroux – “Neoliberal Fascism and the Echoes of History” (2018)
Cory Doctorow – The Guardian (resenha de The Net Delusion, 2011)