“eu investigo qualquer coisa sem registro”, contemplado em 2º lugar no concurso Poesia InCrível, de 2021, promovido pela Crivo Editorial, está disponível para download gratuito“
“Os poemas de Thaís não poderiam ter sido escritos por outra pessoa: como uma boa forasteira, ela passeia por aí de mãos dadas com suas percepções sempre à procura de boas suspeitas. Estes registros estão em textos que não obedecem nenhuma regra, mas se comprometem a nos mostrar, de forma particular e muitas vezes quase cômica, as noções que surgem dos deslocamentos que acompanham suas cidades, opiniões, pessoas e a si mesma.”
(Nina Rocha, jornalista e escritora, na orelha de “eu investigo qualquer coisa sem registro”)
Quem são as testemunhas da presença de cada um de nós na cidade em que vivemos? Como o tempo se manifesta nesse espaço que ocupamos e nas nossas vidas cotidianas e urbanas? Quais cenários compõem o nosso lugar no mundo? Como a junção disso tudo afeta nossa identidade?
É o que questiona a escritora mineira Thaís Campolina em seu livro de estreia “eu investigo qualquer coisa sem registro” (Crivo Editorial, 2021, 74 pág.). Os poemas se concentram em histórias, impressões e olhares considerados banais ou desimportantes, abordando aspectos da vida ou vida comuns que costumam ficar fora dos registros oficiais ou passam despercebidos na cidade.
A autora trata temas do cotidiano com humor, perpassando por relações humanas, micropolítica, utilizando também elementos comuns da contação de histórias, como cenário, personagens, autoria, tempo e ação. A orelha é assinada por Nina Rocha, jornalista e autora de “Em obras” (Urutau) e “Papéis” (Independente).
A obra foi contemplada em 2º lugar pelo concurso Poesia InCrível, de 2021, promovido pela Crivo Editorial. Com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, o concurso publica obras de poetas iniciantes residentes em Belo Horizonte e região metropolitana. “eu investigo qualquer coisa sem registro” está disponível gratuitamente nos formatos ebook e audiobook e seus exemplares físicos podem ser alugados em bibliotecas, escolas e centros culturais da capital mineira.
Thaís Campolina nasceu em Divinópolis (MG) em 1989, mas vive em Belo Horizonte desde 2014. Apaixonada por temas relacionados a direitos humanos, mulheres, memória, literatura, arte, compartilhamento e criatividade, já criou e participou de vários projetos e coletâneas que dialogam com esses assuntos. Pós-graduanda em Escrita e Criação pela Universidade de Fortaleza (Unifor), medeia, organiza e faz curadoria do Leia Mulheres Divinópolis e é a criadora e “faz-tudo” do clube de leitura online Cidade Solitária.
Atualmente faz parte da equipe da Mormaço Editorial e da Fazia Poesia, integra coletivos literários como o Zarafas e o Escreviventes, e também atua com leitura crítica de obras literárias. Em 2020, publicou de forma independente o conto “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija”, via Amazon. Escreve frequentemente sobre literatura em seu site, newsletter e redes sociais.
O que se investiga no abstrato?
Em seu livro de estreia, Thaís Campolina reuniu poemas escritos ao longo de anos. Foram organizados juntos quando percebeu que a sua escrita, assim como sua leitura, procura investigar o universo ao seu redor. “Esse tipo de busca me move como escritora e leitora e acabou me levando ao que é invisibilizado por ser cotidiano, por estar embebido de memória e aparente desimportância e subjetividade”, reflete a autora.
“É difícil olhar para o que está perto demais. É como contemplar um retrato de um momento, de quem fomos, somos ou podemos ser, mesmo quando a gente parte de um personagem qualquer. Só que investigar evoca também escavar, o que acabou me levando também para aquilo que está escondido simplesmente porque o mundo soterra certas vozes, certas histórias, certas percepções. Pensar no cotidiano, no banal, no que se perde no meio dessa ideia de memória coletiva é também se abrir para perceber o aspecto político disso”, frisa Thaís.
A poeta gosta de pensar no seu livro como um “caderno de investigação”. “Cada poema é como se fosse uma captação da prova de alguma coisa e nem tudo que se coleta faz sentido no fim de uma investigação, ainda que no durante se mantenha uma possibilidade. E, no fim das contas, o que se examina no abstrato é sempre o deslocamento das coisas, das pessoas e dos autores, porque é isso que nos faz olhar para as mais diferentes situações.”
Para Nina Rocha, que escreve a orelha do livro, “transformar cenas banais que estão ao nosso redor em palavras escritas exige a curiosidade e estranheza que dificilmente quem está confortável há tempo demais em um espaço é capaz de manter”.“Thaís percorre suas vias sem pressa, em um ritmo próprio. Suas observações do mundo banal e extraordinário, comum a todos e ainda assim tão singular, estão impressas de uma forma tão sensorial que quase poderia ser tocada – se pertencessem à algum lugar”, observa a escritora.
Entre Angélica Freitas, Adília Lopes e Ana Martins Marques
De acordo com a autora, “eu investigo qualquer coisa sem registro” foi diretamente influenciado pela autora gaúcha Angélica Freitas. “Além da poesia dela estar sempre comigo, em 2020, ano que organizei e comecei a editar o livro, eu fiz uma oficina com ela que me marcou demais. Nesse sentido, posso falar também das oficinas que fiz com a Carina Gonçalves e com a Maraíza Labanca no Estratégias Narrativas, ateliê de escrita belo-horizontino. Todas elas foram essenciais pra eu descobrir que eu queria falar do cotidiano, do banal, do que a gente pode acabar deixando passar batido”, conta Thaís, que também cita em sua obra a escritora e tradutora argentina Cecília Pavón.
Também menciona como referências, na poesia, Adélia Prado, Drummond, Fernando Pessoa, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Matilde Campilho, Mila Teixeira, Natasha Felix, Nina Rocha, Erica Martinelli, Letícia Miranda, Fernanda Charret, Amanda Magalhães, Olivia Gutierrez, entre outras.
Seu segundo livro de poesia já está em fase final de desenvolvimento. Além desse projeto poético, Thaís está escrevendo um romance, tem um livro de contos em andamento e possui um livro ilustrado de poesia infantil sendo construído junto à ilustradora carioca Ana Letícia Lira. O maior desafio de Thaís, segundo ela mesma, é conseguir terminar seus projetos, porque ela sempre se encanta por algo novo no meio do caminho.
“[…] quase tudo que amo olhar nessa cidade não tem qualquer vínculo comigo. pelo menos não ainda. serei sempre uma forasteira aqui, enquanto me torno uma turista onde a memória está.”
(Trecho do poema “Entre territórios”, que integra “eu investigo qualquer coisa sem registro”, de Thaís Campolina, p.17)
Leia alguns poemas que integram o livro no site da autora:
www.thaisescreve.com/2021/08/16/tres-poemas-belo-horizontinos
www.thaisescreve.com/2021/10/31/tres-poemas-insolitos
Siga a autora no Instagram: www.instagram.com/thacampolina