A Filha das Mães, de Giselle Ribeiro

A Filha das Mães, de Giselle Ribeiro
A Filha das Mães, de Giselle Ribeiro

Em A Filha das Mães, Giselle Ribeiro nos entrega uma narrativa potente, contada com a sutileza que só a literatura infantil bem-feita consegue carregar. A história, publicada pelo selo TAUPinha da Editora Toma Aí Um Poema, acompanha Mariana, filha de Maria e Ana, em sua descoberta do mundo — um mundo que, apesar do amor que a rodeia em casa, ainda impõe durezas e exclusões quando ela cruza os muros da escola.

O enredo é simples e profundamente simbólico: Mariana, ao entrar na escola aos sete anos, depara-se com a crueldade infantil estruturada por preconceitos sociais. Suas colegas zombam do fato de ela “não ter pai”, e constroem uma cantiga de roda para ridicularizá-la:

“♫ Mariana, filha de Maria e Ana / porque não tem pai / não tem força, não tem gana ♫”​

Uma história de amor e resistência bordada com fios de ternura e coragem

A autora transforma essa cena dolorosa em um ponto de inflexão delicado. O texto não apela para dramatizações exageradas, mas constrói um campo de sensibilidade poética e política onde a infância e a luta se entrelaçam. A fala de Mariana à mãe é direta, honesta, e revela um amadurecimento precoce diante da violência simbólica que vivencia.


🧵 A metáfora do novelo: costurar, desfiar, refazer

A metáfora central do livro é o novelo de fios: a vida como trama frágil, que pode puir com o tempo, com os embates, com a exclusão. Mariana, ao se confrontar com o mundo, passa a ver sua história como um “novelo com pontas soltas, emboladas na grande confusão das espécies humanas”​.

A escolha de usar essa metáfora têxtil se conecta diretamente às ilustrações bordadas de Jéssica Iancoski, que transformam o livro em um objeto de arte. As personagens, as paisagens e até as cidades são representadas por linhas costuradas sobre tecido, em tons de amarelo, preto e laranja. O efeito visual é poético, tátil e profundamente simbólico: é como se cada página costurasse, literalmente, a narrativa com as mãos.


🌻 Diversidade e reencantamento

Outro destaque da obra é a forma como ela reposiciona a ideia de família. Sem precisar explicar ou justificar, a existência de duas mães é apresentada com naturalidade, beleza e afeto. Maria e Ana são mães presentes, amorosas, e, diante da dor da filha, oferecem acolhimento — mas também história e ancestralidade:

“Ali, as duas mães, contam para a filha,
a história de Lilith, a mulher mais forte que Adão.”​

Essa escolha narrativa é brilhante: ao evocar Lilith, Giselle Ribeiro coloca Mariana em contato com a potência feminina original, invertendo o lugar da falta para o lugar da força.


🎯 Um livro essencial para todas as idades

Embora seja apresentado como literatura infantil, A Filha das Mães é um livro intergeracional. Serve tanto para crianças quanto para educadores, famílias homoafetivas, escolas, bibliotecas e leitores adultos que desejam repensar o modo como enxergam a infância, a diversidade e a estrutura social.

É um livro que não grita, mas firma posição. Que não doutrina, mas emociona. Que não suaviza a dor, mas oferece afeto como resposta.


📘 Ficha técnica

  • Título: A Filha das Mães
  • Autora: Giselle Ribeiro
  • Ilustrações: Jéssica Iancoski (bordado)
  • Editora: Toma Aí Um Poema — Selo TAUPinha
  • Ano: 2024
  • Páginas: 26
  • Formato: 20 x 20 cm
  • ISBN: 978-65-982120-2-5
  • Público-alvo: crianças de todas as idades — e adultos que ainda sonham com um mundo mais justo

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *