A Editora Como Espaço de Acolhimento, e Não de Hierarquia

Foto: Jéssica Iancoski
(Divulgação: Jéssica Iancoski)

Durante muito tempo, as editoras foram tratadas como torres: inacessíveis, verticais, distantes. Do lado de fora, os autores batiam à porta com medo de não serem aceitos. Do lado de dentro, sentavam-se os “curadores do bom gosto”, os guardiões da literatura. Mas essa lógica — excludente, autoritária e cansada — não serve mais.

É hora de derrubar as torres.
E transformar a editora em espaço de acolhimento — não de hierarquia.

Na Toma Aí Um Poema, acreditamos que a relação entre editora e autor não deve ser pautada por validação, mas por escuta, parceria e cuidado. Não estamos aqui para ditar regras absolutas sobre o que é “literatura boa”. Estamos aqui para caminhar junto, ajudar a organizar ideias, respeitar a intenção de quem escreve e construir, em diálogo, a melhor versão possível de um livro.

Claro que há técnica, revisão, planejamento. Mas tudo isso pode (e deve) ser feito sem apagar o autor. Sem reduzir sua linguagem. Sem tentar transformá-lo num produto.

Quando um autor nos procura, ele está oferecendo não apenas um texto — está confiando em nós o que tem de mais íntimo. A escrita é, muitas vezes, ferida aberta, memória costurada, corpo impresso. O mínimo que uma editora deveria oferecer, nesse caso, é cuidado.

Mas o que vemos no mercado tradicional, na maioria das vezes, são processos editoriais marcados por silêncio, distanciamento, arrogância técnica e pouca transparência. Muitos autores nem sabem o que acontece com seu livro depois que entregam o original. Não são consultados sobre capa, projeto gráfico, tiragem, circulação. Apenas recebem o resultado final, como se tivessem que se conformar com o que vier.

E o mais grave: quando essa relação é marcada por hierarquia, o autor é educado a se calar. A sentir que deve “agradecer pela oportunidade”, mesmo que não esteja feliz com o processo. Isso não é saudável. Nem ético. E certamente não é literário.

Uma editora de verdade não é um trono. É uma mesa com mais de uma cadeira. É lugar de escuta, de troca, de construção coletiva. Não se trata de romantizar o trabalho editorial — ele é técnico, complexo, e exige decisões difíceis. Mas essas decisões podem ser tomadas com diálogo, com transparência, com humanidade.

Literatura não é só conteúdo. É também como se chega a ele. O caminho que percorremos até o livro importa tanto quanto o livro pronto. E um livro que nasce de um processo gentil, respeitoso e horizontal carrega essa vibração em cada página.

Eu acredito em editoras que acolhem, não que filtram.
Editoras que perguntam, não que impõem.
Editoras que olham o autor nos olhos e dizem:
“vamos construir isso juntos?”

Porque no fim das contas, publicar um livro não é só lançar um objeto no mundo.
É lançar alguém. E isso merece ser feito com o maior dos cuidados.


Jéssica Iancoski

Jéssica Iancoski (1996) é editora, poeta e articuladora cultural. Presidente da Associação Privada Sem Fins Lucrativos Toma Aí Um Poema, a primeira editora no modelo ONG do Brasil, já faturou mais de R$ 1 milhão no mercado editorial, consolidando-se como referência em inovação e impacto social. Graduada em Letras (UFPR) e Psicologia (PUCPR), com especializações em Gestão de Projetos e Negócios, é autora de mais de 10 livros, incluindo A pele da pitanga (finalista do Prêmio Jabuti). Reconhecida por sua atuação inclusiva, publicou mais de 2 mil autores e produziu mais de 1.500 poemas audiovisuais, alcançando 1 milhão de acessos. Jéssica também recebeu prêmios como o Candango de Literatura (GDF) e Sérgio Mamberti (MinC) e, atualmente, é curadora do Prêmio Literário da Cidade de Curitiba.

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