A Baleia Azul e a Formiga: Por que o Problema do Mercado Editorial Não São as Editoras Independentes

Foto: Jéssica Iancoski
(Divulgação: Jéssica Iancoski)

Vivemos em um mercado editorial que, cada vez mais, culpa quem menos tem poder. O olhar se volta com desconfiança para as pequenas editoras, como se fossem elas as responsáveis pela crise do livro, pela baixa vendagem, pela falta de leitores, pela ausência de critérios. Como se publicar gente fora dos padrões fosse um problema — e não parte da solução.

Mas vamos falar com clareza: o problema do mercado editorial não são as editoras independentes.

Não faz o menor sentido comparar o impacto de uma ação feita por uma grande editora com o impacto gerado por uma pequena casa editorial, quando os capitais sociais, econômicos e simbólicos são incomparáveis. É como exigir que uma formiga arraste o oceano, enquanto a baleia azul apenas boia com conforto.

A grande editora tem acesso às vitrines, às redes de livrarias, aos prêmios, aos canais de imprensa, aos financiamentos corporativos… Ela dita as regras, molda o gosto e ocupa o centro da cena. Tem força para criar tendências e derrubar outras. E, mesmo com todo esse poder, escolhe priorizar o lucro do patrão.

Já a pequena editora — geralmente independente, autofinanciada, sustentada por paixão e sobrecarga — é acusada de “publicar qualquer coisa”, de “banalizar a literatura”, de “desequilibrar o mercado”. Quando, na verdade, é ela quem coloca gente nova no mapa. É ela quem investe tempo, afeto e risco em autores desconhecidos, minorias, vozes à margem.

Nós, editoras pequenas, acreditamos que a literatura é uma ferramenta de transformação, não apenas um produto. E somos justamente por isso tratadas como as vilãs da história. Porque, no fundo, não aceitamos o jogo de sempre. Propomos outros jeitos de fazer, de pensar, de circular. E isso incomoda.

Mas não somos a crise. Somos a resposta.

O que realmente poderia fazer a diferença — os gigantes — decide não fazê-la. Poderiam bancar livros gratuitos em escolas. Poderiam financiar autores periféricos. Poderiam investir em acessibilidade, em diversidade real, em formação de leitores. Mas preferem, quase sempre, os mesmos nomes de sempre. O mesmo público. O mesmo lucro.

Enquanto isso, a formiga segue carregando folhas, construindo pontes invisíveis, empurrando catálogos inteiros com o próprio corpo. Não por vaidade. Mas por convicção.

Eu sigo com as formigas. Sigo com quem publica por amor e urgência. Sigo com quem acredita que a literatura não é uma mercadoria de luxo, mas uma linguagem viva. Sigo com quem tenta — mesmo sem estrutura — fazer da palavra um lugar possível.

A baleia pode ser enorme. Mas o mundo também é feito de formigas.


Jéssica Iancoski

Jéssica Iancoski (1996) é editora, poeta e articuladora cultural. Presidente da Associação Privada Sem Fins Lucrativos Toma Aí Um Poema, a primeira editora no modelo ONG do Brasil, já faturou mais de R$ 1 milhão no mercado editorial, consolidando-se como referência em inovação e impacto social. Graduada em Letras (UFPR) e Psicologia (PUCPR), com especializações em Gestão de Projetos e Negócios, é autora de mais de 10 livros, incluindo A pele da pitanga (finalista do Prêmio Jabuti). Reconhecida por sua atuação inclusiva, publicou mais de 2 mil autores e produziu mais de 1.500 poemas audiovisuais, alcançando 1 milhão de acessos. Jéssica também recebeu prêmios como o Candango de Literatura (GDF) e Sérgio Mamberti (MinC) e, atualmente, é curadora do Prêmio Literário da Cidade de Curitiba.

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