Como lidar com a sensação de que tudo já foi dito?

E por que isso não precisa te impedir de escrever

A ideia de que tudo já foi dito é uma sombra que, vez ou outra, paira sobre quem escreve. Você senta diante da página, sente vontade de criar algo novo, mas a dúvida te paralisa: “será que ainda vale a pena escrever sobre isso?”, “e se for mais do mesmo?”, “quem sou eu no meio de tantas vozes?”
Essa sensação não é exclusividade sua — é quase um rito de passagem no caminho da escrita.

Mas e se, em vez de um obstáculo, essa angústia fosse um convite?

A originalidade não está no assunto, mas no olhar

A maior parte dos temas já foi, sim, abordada: amor, morte, memória, identidade, política, pertencimento, dor, esperança… No entanto, ninguém jamais os disse como você pode dizer.
É o seu ponto de vista — atravessado pela sua história, sua linguagem, seus afetos e referências — que torna um texto único.
Um poema sobre o mesmo amor pode soar completamente diferente se dito por vozes distintas.
Assim como numa canção, não é só o que se canta, mas como se canta.

Repetir é uma forma de reescrever

Muitas obras que admiramos são, na verdade, reinterpretações de outras. Shakespeare recontou histórias antigas. Clarice Lispector redescobriu o cotidiano. Racionais MC’s ressignificaram o protesto.
A criação é feita de ecos — e a sua escrita pode ser o próximo a ressoar.

Não há problema em partir de algo já explorado. Ao contrário: reconhecer o que veio antes é parte do ofício. A diferença está em como você se apropria, mistura, recorta, costura e transforma essas referências.

Tudo já foi dito, mas não por você

Essa frase — muitas vezes atribuída a Paul Valéry — é um dos maiores conselhos para quem se sente bloqueado pela ideia de que a arte precisa ser absolutamente inédita para ter valor.
A sua voz, o seu tempo, a sua vivência: isso sim é original. E isso ainda não foi dito. Ou, se foi, não do jeito que você pode dizer.

Dica prática: escreva mesmo assim

Se a ideia parece repetida, vá fundo. Escreva. Depois leia em voz alta. Veja onde pulsa. Veja o que é seu e o que é ruído. Às vezes, no meio do que parecia uma repetição, surge uma frase que nunca existiu antes. E é ela que te move adiante.

Escrever é insistir

Escrever é uma forma de resistência. À mesmice, ao silêncio, à própria dúvida.
Escrever é conversar com o passado e com o futuro, com os vivos e com os que virão.
Por isso, não se intimide com a sensação de que tudo já foi dito.
Lembre-se: você não está escrevendo para ser o primeiro — está escrevendo para ser verdadeiro.

E isso, no fim das contas, nunca é velho demais.

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