Paraty Não É Banca de Feira, por Jéssica Iancoski

Ou: como desperdiçar uma grande oportunidade achando que você só veio pra vender livro

Foto Jéssica Iancoski | Divulgação
Foto Jéssica Iancoski | Divulgação

A cena tá aqui, diante dos meus olhos: mesa de plástico, pilha de livros, marcadorzinho artesanal, QR Code colado com fita, e aquele sorriso de quem tá tentando, com toda a dignidade do mundo, fisgar um leitor no meio do caos. Eu vejo isso todo ano. E cada vez que vejo, fico com vontade de dizer, com carinho: será que é pra isso que a gente veio?

Porque, vamos combinar: Paraty não é só vitrine. É palco. E palco, pra mim, é lugar de presença. De gesto pensado. De deixar marca. Enquanto alguns estão ali, de cabeça baixa conferindo se o PIX caiu, o Brasil literário tá passando ao redor: curadores, editores, livreiros, jornalistas, produtores, escritores, organizadores de prêmio. Gente que muda destinos. E tem autor focado… na próxima venda.

Não me entenda mal: vender livro é legítimo. É o nosso trabalho. Eu também quero que meus livros circulem, que paguem minha estadia, que encontrem leitores. Mas não é isso que me move até aqui. E, se for só isso, talvez a gente esteja perdendo o que Paraty tem de mais precioso.

Na FLIP, o que eu tento vender é a mim. Minha presença. Minha ideia. Meu percurso.
Porque quem entende isso, volta com contatos, colaborações, propostas que duram mais do que cinco dias.
Quem não entende… volta com a lombar detonada e quatro exemplares a menos na mochila.

É impressionante como vejo autores que passam cinco dias inteiros sentados, com medo de levantar e perder uma venda — e, no processo, perdem tudo o que poderia realmente virar chave: o debate improvisado, o café que vira convite, o encontro que parece pequeno mas muda tudo depois.

E olha, não tô falando de puxar saco. Tô falando de estratégia.
Quem sabe fazer networking na FLIP não grita “compra meu livro”.
Sussurra: “posso te ouvir?”, “vamos conversar?”.

Sim, é lindo ver um livro indo embora. Mas eu, honestamente, não quero voltar pra casa só com a bagagem mais leve. Quero voltar com nome lembrado. Com um e-mail pra responder. Com uma escuta que se abriu.

E aí eu me pergunto — e te pergunto também, com todo respeito:
Você veio pra vender ou pra construir caminho?

Porque quem só vende, passa.
Quem se articula, fica. Cresce. Cria laço.

A FLIP não é uma banca. É um ecossistema.
E se a gente a vive apenas como ponto de venda… perde o que ela tem de mais potente: as relações que florescem nas entrelinhas. Entre um encontro e outro. Entre um silêncio e uma escuta.

Por isso, se posso te dizer algo de dentro da minha experiência, é:
Pense com carinho sobre sua presença aqui.
Porque as estratégias são diferentes. E os resultados também.

Paraty não exige apenas livros na mesa.
Exige presença ativa, escuta aberta, inteligência emocional.
E, acima de tudo, exige que a gente entenda que estar aqui… é muito mais do que fazer caixa.

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