Olá, pessoa que escreve.
Espero que tudo esteja bem por aí.
Hoje escrevo essa news no final de uma madrugada gelada, sentada no sofá da sala, com o computador no colo, uma xícara de café quase fria e dois gatos que me olham com olhos de vai, fala sobre isso de uma vez.
Entre o silêncio da escrita e o brilho do palco, há um território inteiro que merece ser iluminado. Vem comigo?

Quando pensamos em um artista, logo nos vêm à mente uma bailarina em cena, uma atriz sob os refletores, um cantor no palco, um pintor diante da tela. O gesto é visível, o corpo está presente, o espetáculo acontece diante dos olhos. É arte que se vê, que se ouve, que se consome com os sentidos.
E o escritor?
Infelizmente, quem escreve muitas vezes é visto como alguém à margem da ideia tradicional de arte. Sentado, silencioso, entre cadernos ou teclas, parece não performar. Parece não compor. Parece não criar. Mas será que isso o torna menos artista?
Escrever é criar mundos.
É desenhar com palavras, compor com frases, coreografar ideias.
A matéria do escritor é o idioma, e sua arte é feita de ritmo, forma, intenção e silêncio.
Mesmo assim, não é raro que o escritor tenha que explicar (ou justificar) sua escolha:
“Mas você não trabalha? Vive só disso?”
“Ah, que bonito, mas o que mais você faz?”
“Quantos livros você já vendeu?”
Há um certo apagamento do gesto artístico de quem escreve.
Talvez porque, ao contrário do palco, a literatura exija silêncio.
Talvez porque o impacto de um texto não seja imediato, e sim íntimo e lento.
Talvez porque para a escrita seja difícil encontrar platéia.
Mas o escritor é artista, mesmo que nem sempre a sociedade o reconheça assim, mesmo que precise lembrar disso para si mesmo, todos os dias.
O escritor trabalha com o invisível, lida com a dúvida, com o intervalo, com a linguagem em estado de busca. Escreve para tocar o outro sem ser palpável, para ser ouvido por alguém que ainda nem chegou.
Cada frase criada, cada história contada, cada texto que pulsa é arte também.
É gesto criador, é artesania e entrega, é resistência e poesia.
E talvez escrever, mais do que tudo, seja isso:
fazer arte com o que não se vê.
E você?
Se reconhece como artista quando escreve?
Já teve que explicar demais o que faz ou justificar por que escreve?
Me conta. Quero muito ouvir suas entrelinhas também.
Eu tinha um sonho e dei um salto no escuro
Sou uma pessoa sonhadora, meio distraída, que acredita em mundos possíveis. Pra piorar a minha situação de pessoa-utopia, ouvi no filme Bohemian Rhapsody a frase “A sorte favorece os ousados”. Ela ficou entalhada na minha cabeça por uns três anos, até que pedi uma licença não remunerada do trabalho, vendi minha casa, coloquei meus 2 filhos e meus 4 gatos no carro e mudei de cidade para aprender a escrever de verdade.
Eu tinha o sonho de ser escritora e ele precisava sair do papel.
Foi um salto no escuro, noites em claro, dúvidas, bloqueios criativos e mais do que persistência, estudo. Quando a insegurança financeira apertava, eu lembrava que a qualquer momento poderia encerrar a licença e voltar para o emprego seguro que havia deixado de lado. Mas não queria. E não, não aconselho ninguém a fazer isso. É uma escolha difícil, que exige coragem e também uma boa dose de loucura. Eu fiz, e deu certo porque a sorte favoreceu minha ousadia.
Apesar de todas as dificuldades, minha jornada de aprendizagem e criação tem me levado a momentos muito especiais.
Estou lançando meu quinto livro, que é meu primeiro livro ilustrado para infâncias: Lili Descobre a Beleza.

Esse livro fala sobre a despadronização do conceito de beleza, sobre aceitação, diversidade e o respeito às diferenças. Ele começa com padrões (aqueles que a sociedade impõe) e termina com um coração mais aberto, mais atento ao que realmente importa. Com ilustrações sensíveis e cheias de vida da talentosa Camila Souza dos Santos e revisão pedagógica cuidadosa da Jéssica Iancoski, Lili celebra o encantamento do olhar e a magia das pequenas descobertas.
Mesmo trabalhando em uma editora e tendo suporte técnico, escolhi fazer uma publicação independente. Preciso ser honesta: não é bolinho não. Publicar um livro por conta própria exige muita energia, atenção a detalhes, burocracia, divulgação, e uma fé constante no trabalho.
Se você quiser conhecer Lili Descobre a Beleza e ajudar a fortalecer a literatura independente, clique no link abaixo. Cada compra é um abraço e um incentivo para seguir criando.
Obrigada por fazer parte dessa caminhada comigo.
Pra continuar escrevendo
Um olhar de dentro da arte
A proposta de hoje é misturar linguagens — e mergulhar em outra obra de arte com o olhar de quem escreve.
Abaixo, você vai encontrar uma imagem de Las Meninas, de Diego Velázquez.

Observe com atenção. Percorra cada detalhe. Agora, escolha um elemento dentro da cena: pode ser uma personagem, um objeto, uma sombra, uma cor, até algo que quase ninguém repararia.
Depois, escreva um texto breve a partir do ponto de vista desse elemento.
O que ele vê? O que sente? Como interpreta o que está acontecendo naquela cena?
A ideia aqui é escrever de dentro da imagem, emprestando voz a algo (ou alguém) que está ali, mas que normalmente ficaria em silêncio.
Pode ser poético, pode ser divertido, pode ser melancólico. Não há regras. Apenas um convite: veja como artista, escreva como quem vive ali dentro.