Deconstruindo a Linguagem Colonial na Poesia: Quando a Palavra Também É Território

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🗣 O Poder das Palavras: Como a Linguagem Molda o Mundo

Desde a colonização, a linguagem tem sido uma ferramenta central na imposição de poder. Através do que chamamos de imperialismo linguístico, as potências coloniais impuseram suas línguas às populações indígenas, africanas e asiáticas, apagando culturas, memórias e formas próprias de nomear o mundo.

No Brasil, por exemplo, centenas de línguas indígenas foram extintas ou silenciadas após a colonização portuguesa. A língua tornou-se um mecanismo de dominação, estabelecendo hierarquias de saber, cultura e humanidade.

Quem não dominava a língua do colonizador era tido como “atrasado”, “irracional” ou “inferior”.

Com isso, palavras deixaram de ser apenas palavras — tornaram-se armas. E até hoje, carregam resquícios dessa estrutura. Entender o impacto da linguagem colonial é essencial para reconstruir identidades, rever histórias e propor outros futuros.


✊ A Poesia Como Espaço de Resistência: Narrativas que Rompem o Silêncio

Ao mesmo tempo que a linguagem pode oprimir, ela também pode libertar. E a poesia é um dos lugares mais férteis para essa reviravolta. Poetas de todo o mundo têm usado o verso como território para desconstruir o vocabulário colonial, questionar padrões linguísticos herdados e revalorizar suas raízes culturais.

O que significa chamar um território de “descoberto”?
Quem nomeia o outro como “selvagem”?
Quantos sotaques, expressões e línguas foram apagadas em nome da “civilização”?

Através da poesia, muitos autores denunciam essas imposições e constroem novas linguagens, mais conectadas com seus corpos, suas terras e suas histórias. A palavra, antes colonizada, torna-se agora ferramenta de insurgência e cura.


📚 Poetas que Reescrevem a Língua

Alguns exemplos de autores e autoras que atuam na decolonização da linguagem poética:

  • Márcia Kambeba (Omágua/Kambeba) – escreve em português e em Nheengatu, valorizando a oralidade ancestral e reterritorializando o discurso poético.
  • Gloria Anzaldúa (EUA/México) – mistura inglês, espanhol e náuatle em seus textos, criando uma poética de fronteira que resiste à homogeneização cultural.
  • Conceição Evaristo – com sua escrevivência, mostra como a oralidade negra pode desafiar a norma culta e criar uma nova estética da palavra.
  • Victoria Santa Cruz (Peru) – em seus poemas performáticos, denuncia o racismo e exalta a força da negritude com um ritmo que subverte a forma tradicional.
  • Jéssica Iancoski (Eugênia Uniflora) – com o livro América Xereca, propõe uma linguagem erótica, descolonial e anticolonial ao reinventar o corpo como território de resistência.

Esses poetas não apenas escrevem — eles reconfiguram o idioma, dando voz a experiências silenciadas e multiplicando os sentidos do que é ser, falar, resistir.


🌐 Além da Gramática: A Colonização do Pensamento

A linguagem colonial não está apenas nas palavras, mas também na forma como estruturamos o pensamento. As regras gramaticais, os cânones literários, a exigência por uma “norma culta” e a valorização de determinados estilos são todos resquícios de um sistema que exclui e hierarquiza vozes.

Por isso, decolonizar a linguagem poética não significa apenas mudar o vocabulário, mas questionar quem define o que é “bom”, “belo” ou “literário”.
A poesia, nesse sentido, torna-se um ato político: escrever “errado” pode ser a forma mais certa de reivindicar espaço.


📌 Conclusão: Reescrever É Reexistir

Deconstruir a linguagem colonial na poesia é reivindicar o direito de nomear o mundo com outras palavras, outros ritmos, outros silêncios.
É dizer que não aceitamos mais falar apenas com a língua do opressor — queremos escrever com a nossa história, com os nossos corpos, com a nossa terra.

A poesia é uma prática de resistência e de imaginação. Ao reconstruirmos o idioma, reconstruímos também o futuro.

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