5 Livros que Provam que o Centro da Literatura Mudou

A literatura brasileira pulsa onde antes só havia silêncio. E ela está reescrevendo o mapa.

Palavras-chave SEO: livros de autores marginalizados, literatura contemporânea brasileira, autores fora do eixo, literatura periférica, novos centros da literatura

Por muito tempo, disseram que o centro da literatura brasileira estava em poucas mãos, em poucas ruas, em poucas estantes. Mas basta olhar em volta para perceber que esse centro já se deslocou — e está cada vez mais potente, plural e urgente.

Esses cinco livros não são exceções. São prova. São manifesto. São a nova literatura brasileira sendo escrita onde antes só havia margem. E mais: estão sendo lidos, premiados e compartilhados por quem entendeu que o centro nunca foi geográfico — sempre foi simbólico.

Aqui vão cinco obras que reafirmam essa virada:

Foto de Oladimeji Ajegbile: https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-usando-oculos-sentado-ao-lado-da-mesa-3556533/

🧨 1. América Xereca — Eugênia Uniflora (Jéssica Iancoski)

📍 Paraná

Publicado sob o heterônimo Eugênia Uniflora, este poema-manifesto latino-americano transforma corpo em território e palavra em insurgência. Finalista do Prêmio Mix Literário 2024, o livro costura feminismo, erotismo e crítica anticolonial em um texto que arde — e liberta.

🗣 Por que prova que o centro mudou?
Porque diz que o continente tem uma vulva. E que a história pode (e deve) ser contada desde o corpo de quem foi silenciado.


🛖 2. Ay kakyri tama – Eu moro na cidade — Márcia Kambeba

📍 Amazonas / Povo Omágua-Kambeba

Uma poeta indígena que escreve com a floresta na voz e a cidade nos pés. Com uma linguagem que mistura poesia, oralidade e denúncia, Márcia é um dos nomes mais importantes da literatura originária brasileira contemporânea.

🗣 Por que prova que o centro mudou?
Porque desloca a ideia de Brasil literário para dentro da Amazônia — onde a palavra não é só escrita, é ancestralidade viva.


🧡 3. Ninguém Quis Ver — Bruna Mitrano

📍 Rio de Janeiro (zona oeste)

Um livro de poemas que fala sobre amor lésbico, apagamento, abandono e sobrevivência — com delicadeza e força. Publicado pela Companhia das Letras, é também um exemplo de como a poesia marginal tem chegado a novos espaços sem abrir mão de sua origem.

🗣 Por que prova que o centro mudou?
Porque a literatura queer, feita na beira da cidade e da linguagem, agora ocupa o centro do debate — e da prateleira.


✊ 4. Racismo no Brasil e afetos correlatos — Cidinha da Silva

📍 Minas Gerais / São Paulo

Crônicas incisivas, atuais e necessárias sobre o racismo, a política e o cotidiano negro brasileiro. Com mais de 20 livros publicados, Cidinha é uma das intelectuais mais relevantes do país — e sua obra ainda é ignorada por muitos espaços hegemônicos.

🗣 Por que prova que o centro mudou?
Porque a crônica preta, política e direta já não pede passagem: toma a palavra e reconfigura o que entendemos por literatura brasileira.


🌇 5. O sol na cabeça — Geovani Martins

📍 Rio de Janeiro (Vidigal)

Revelado pela Festa Literária das Periferias (FLUP), Geovani retrata com maestria a juventude das favelas cariocas em seus contos. Sua linguagem inventiva, urbana e sensível rompe com o clichê e oferece literatura feita no calor do asfalto.

🗣 Por que prova que o centro mudou?
Porque mostra que o melhor da literatura brasileira pode nascer de dentro do morro — e ser lido no mundo inteiro.


📌 Conclusão: a literatura brasileira não cabe mais no eixo

Esses livros não são apenas obras. São sinais. Sinais de que o centro da literatura brasileira já não está onde diziam que estava. Ele se moveu. Se descentralizou. Se espalhou. Se multiplicou. E, o mais importante: ele se libertou.

A literatura brasileira não mora mais apenas nos salões climatizados, nos cafés parisienses da zona sul, nos editoriais com sobrenomes repetidos ou nas prateleiras que nunca mudam de rosto. Ela mora nas vielas com asfalto rachado. Nas cozinhas onde se escreve entre panelas e boletos. Nas escolas públicas que, com xerox mal impressa, ainda insistem em ensinar poesia. Mora nas aldeias onde a palavra é ancestralidade. Mora nas bocas que rimam com fúria em slams. Mora nos corpos que escrevem o que nunca lhes permitiram dizer.

A literatura brasileira mora na diarista que publica seu primeiro livro aos 60. Mora no homem trans que transforma dor em conto. Mora na mãe solo que escreve entre o cuidado e o cansaço. Mora na juventude preta que escreve sem saber se será lida — mas escreve mesmo assim, porque escrever é respirar quando o mundo tenta te calar.

A literatura brasileira não está se democratizando. Ela já se democratizou.
Ela já encontrou seus caminhos: pelas editoras independentes, pelos saraus, pelos coletivos, pelos financiamentos coletivos, pelos blogs, pelos podcasts, pelas vozes que se organizam e se publicam porque ninguém nunca fez isso por elas.

O que falta não é democratizar.
O que falta é reconhecer.
Falta que as portas se abram de dentro, não só de fora.
Falta que o leitor médio saiba que há Brasil para além do eixo.
Falta que os prêmios deixem de premiar sempre os mesmos.
Falta que o currículo escolar pare de fingir que o Brasil cabe em quatro autores e dois séculos.
Falta que a crítica pare de tratar autores negros, indígenas, periféricos, LGBTQIA+ como “exceção” ou “tendência”.
Eles são a regra. São a vanguarda. São o presente.

Se o eixo ainda se sente dono da literatura, é porque não percebeu que o Brasil literário já foi embora. Já mudou de estação. Já mudou de tom. Já mudou de idioma.
E quem não mudar junto, vai ficar falando sozinho.

Cabe a nós, leitores, editores, educadores, formadores de opinião, abrir os olhos, os ouvidos — e principalmente as estantes.
Porque o Brasil que escreve já escreveu. E continua escrevendo.
A pergunta agora é: você vai ler ou vai fingir que não viu?

10 Comentários em “5 Livros que Provam que o Centro da Literatura Mudou”

  • Acredito que 99.9% das pessoais que fazem referencia a Machado de Assis, jamais leram uma só de suas Obras. O fazem apenas com o proprósito de se auto-declararem-se intelectuais e agredir os escritores atuais, seguindo a tendência de má utilização da internet, de agredir tudo e todos, indiscriminadamente, como se as redes sociais fossem psicoterapeutas naturais, prontas à assimilar os desencontros individuais dos usuários… Esses extremismos têm origem e nome: Distúrbios Psicanaliticamente Ativos. Lamentável. Parabéns aos autores , editores e Site! Um tema atual e interessante!

  • Literatura Universal. Observo todos os oontos do artigo quanto as colocações daqueles que comentaram, como uma somatória importante, sobretudo para deflagrar reflexões de todos envolvidos no conjunto da literatura. Aplaudo a todos e esforço-me em contribuir… … A complexidade, como li em um dos comentário, de fato, faz-se imensa. Sendo o olhar individual e próprio dos seres o ponto de partida para quaisquer análises. A complexidade do tema em tela é tanta que pensamos em nem mesmo adentrarmos em pretensa análise de confluentes profundidades. Ultrapassarei importantes pontos, para conseguir contribuir, sem tocar nos múltiplos estádios que exigiriam atenção. Assim, chego aos objetivos do escritor, iniciante, intermediário, experiente e profissional, sobre o que escreve: – dinheiro, fama, status, prazer, ou oferecer visibilidade ao seu pensamento? Permitam-me, continuarei saltando, sem aprofundar ponto-a-ponto. Tudo depende muito do que objetiva o escritor… Uma forma intermediária, que atende e projeta, tanto os escritores ainda sem publicações, quanto aqueles com maiores experiências e profissionais – ‘em nossos dias’ – conciliando os múltiplos interesses, encontra-se em otimizar as modernas tecnologias, dando vasão à criatividade e ao mesmo tempo viabilizando suas publicações, ou, simplesmente, firmando-se no mercado literário profissional. Isto, ao colocar seus sonhos em uma plataforma que possibilita, tanto publicar virtualmente, quanto vender seus livros. Refiro-me a Amazon. Ali, você consegue, com extrema facilidade, resultados concretos, sem depender de recursos maiores para colocar suas produções no mercado. Particularmente, ao lado da Hotmart, a Amazon, firma-se entre as maiores vitrinas literárias do Mundo… Quanto a escritores premiados, deve-se considerar não haver, no mundo, uma só premiação verdadeiramente indiscriminada. Isto, por todos os concursos dependerem de ‘auto-inscrição’. Milhares de excelentes escritores, não inscrevem suas Obras em concursos. Logo, os premiados, encontrar-se-ão entre àqueles inscritos. O que significa dizer, não necessariamente, tratarem-se das melhores produções literárias. Os concursos julgarão ‘as Obras inscritas’. Estas, não têm raça ou gênero. Os Membros das Comissões, não observam estes aspectos. Julgam tão somente os trabalhos inscritos. Escritores com E-book’s, para participarem de concursos com livros fisicos, podem, com custos baixíssimos, imprimirem e encadetnarem, com suas lindas capas, um, dois ou três livros, sem perda de qualidade. Hoje, em qualquer centro especializado, existem profissionais capazes dr imprimir as capas, em papel especial e fazerem a colagem do dorso intetno das páginas, grampeadas ou com cartão de dorso. Os livros podem assim, serem produzidos por unidades, atendendo as necessidades do escritor. Falo na Amazon, por cincentrar produção, divulgação, visibilidade e venda das Obras. Perdoem limitar este aprofundamento… Toda caminhada exige esforço e dedicação. Somente um de meus livros se fez ‘best-seller’. Exatamente um que escrevi em um final de semana, sem pretensão alguma. Um livro de 120 páginas, romance, que resultou de um sonho… Prof. Dr. Mário Carabajal (Presidente/ Academia de Letras do Brasil ‘Da Ordem de Platão).

    • Olá, Prof. Dr. Mário Carabajal! 👋📚

      Muito obrigada pelo comentário tão generoso e cheio de reflexões! É sempre enriquecedor quando alguém se propõe a pensar conosco — especialmente com a disposição de somar, como o senhor tão bem faz.

      A complexidade do tema realmente exige muitos olhares, e ficamos felizes que o senhor tenha escolhido o nosso espaço para compartilhar o seu. Concordamos: os caminhos e objetivos de quem escreve são diversos — e todos eles merecem ser levados a sério, seja o desejo de reconhecimento, a necessidade de sobrevivência ou o impulso profundo de dar visibilidade ao próprio pensamento.

      Obrigada mais uma vez pela contribuição respeitosa e pela partilha da sua própria trajetória. Que possamos seguir em diálogo — cada um com seu sonho na mão e a palavra na outra.

  • Rodrigo

    diz:

    É a literatura brasileira mudou mesmo. De machado de assis pra essas coisas

  • Natália

    diz:

    Belas palavras, mas na realidade é bem mais complexo, já que existem, hoje, um crescente número de autores que fazem parte das minorias sociais citadas, mas se vê refém ainda da etilização da escrita. Falo com autonomia, sou negra e periférica, ralei para publicar o meu livro por meio do financiamento coletivo, mas até hoje não colhi praticamente nenhum retorno, sendo que tive que pagar uma parte do valor para ser publicada. O problema não está em conseguir publicar, sim em ver após a publicação, a limitação por não ter condições financeiras suficiente para viver só de livro. Ainda preciso trabalhar para pagar conta, chego exausta do trabalho e quase não tenho ânimo de escrever. Por mais que tenhamos mais espaços na literatura, com a descentralização, se você não for alguém que não curte redes sociais e vire praticamente um influencer literário, não é reconhecido. Ainda a quantidade dos autores best seller são brancos e o reconhecimento vem pelo sobrenome e condições necessárias para dedicar tempo. Sim, publicar hoje é mais fácil pertencendo a algum grupo marginalizado, mas após isso, grande parte dos livros ficam nas estantes das prateleiras criando pó. O problema não é publicar e depois disso conseguir viver disso.

    • Maria da Graça

      diz:

      Muito bom seu esclarecimento: no mundo capitalista hegemônico criam-se as contra- estórias da verdadeira dificuldade dos despossuídos vencerem por seus méritos.
      Na real, quando esses vencem verifica -se o somatório de mérito mais também oportunidades públicas ou privadas .
      Por isso que os incentivos sociais são importantes.

    • Oi, Natália! 🌻

      Muito obrigada por compartilhar sua vivência com tanta honestidade e potência. A gente te lê com respeito e olhos atentos. O que você trouxe é real demais: publicar é só uma parte do caminho — e muitas vezes é a mais fácil perto do que vem depois, como você bem disse.

      Você não está sozinha nesse cansaço.

      Obrigada por puxar esse papo. Ele precisa continuar — com afeto, escuta e também ação. Que seu livro siga vivo e encontre leitores, porque ele — como você — merece.

  • Fátima

    diz:

    Amo livros, leituras e gosto qdo há resenhas fortes nas listas publicadas. Parabéns. Dessa lista li 2 livros: moro na cidade e o sol na cabeça

    • Oi, Fátima! 💛

      Que bom ter você por aqui — leitores que amam livros são sempre bem-vindos nessa casa! Também adoramos quando surgem resenhas potentes, que fazem a gente pensar com os pés no chão e a cabeça nas nuvens, rs.

      Volte sempre! O blog é feito com carinho pra gente trocar ideias e descobrir leituras que cutucam e abraçam ao mesmo tempo 📚✨

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