15 Poemas de Isabel Furini

Quinze poemas de Isabel Furini para o Toma Aí Um Poema.

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Por um mundo com mais poesia!


Isabel Furini é escritora, poeta e palestrante. Autora de 35 livros, entre eles, “Os Corvos de Van Gogh” (poemas). Participou de Antologias poéticas em Portugal, Argentina e Chile; é criadora do Projeto Poetizar o Mundo;  acadêmica da AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia); coeditora da Revista Carlos Zemek de Arte e Cultura; recebeu Comenda Ordem de Figueiró, Artes e Cultura do Brasil; Realizou um recital poético na 36a. Semana Literária do SESC & XV Feira do livro da UFPR, em 2017, e um Recital Poético bilingue (espanhol traduzido ao inglês pela senhora Barbara, organizadora do evento ) na Biblioteca Pública de Burlingame, Califórnia, USA, em 2018. Seus poemas foram premiados em Brasil, Espanha e Portugal.

“O Poeta” conquistou 1º lugar no Concurso de Poesia de São José dos Pinhais, PR, em 2002. Escolhido para o Projeto Leitura no Metro de Belo Horizonte (MG) parceria entre o Programa da A tela e o texto da UFMG e a CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos.

DONS

a poesia possui dons ocultos
:
transforma ideias contaminadas
em água pura
e ajuda
a exorcizar os fantasmas do passado
que dormem no precipício das paixões.


Natureza humana

prisioneiros do espaço-tempo
somos seres precários
impermanentes
cientes de estar condenados à lapide
– no contexto da galáxia somos insignificantes
menores que amebas
mas nada desfaz a arrogância humana.


Medo primitivo

as vezes a luz da Lua
sobre o cabelo da Medusa

as vezes o olho da Lua
sobre os túmulos

ora o coração acelera
seu passo noturno

ora os olhos ficam fixos
na linha do horizonte

sempre os ponteiros do relógio
e o renovado medo
de permanecer na margem 

da página do ontem

para observar as letras de um poema
e perceber a barca de Caronte


O PRANTO DOS RELÓGIOS

as guelras do tempo respiram

e transpiram infinitos sonhos

e os relógios moles

em seu descontrole derrem e choram

choram as tristezas de todos os homens.


Depressão


não é pieguice, não
depressão
é o vazio interior
flutuando
sobre as farpas da solidão.


DUALISMO

a claridade do céu
opõe-se à  penumbra

pulam algumas gotas de chuva
em um belo dia de Sol

permanecem corpo e alma
como um grande paradoxo

nada escapa à oposição:
existem o ódio e o amor

e as sombras e a luz das estrelas
no âmago do coração.


Com o olhar do corvo

Na penumbra
o grito do corvo nos acorda
para novas realidades

entre as sombras, o relâmpago
assusta as retinas
e o músculo cardíaco

é preciso esculpir a palavra amor
apelando à memória
e aos sentidos

guardamos esse sentimento afetuoso
nos campos floridos
do passado

agora, o mundo mudou
– esta é a época
do relâmpago e do terror

é preciso chamar o amor
e cultivar algum ideal
com intensidade

como um corvo em um dia outonal
podemos observar o mundo
com o olhar profundo fixo no futuro.


O Anjo ambivalente

Um anjo desceu do lado escuro

da Lua crescente,

e invadiu meu subconsciente

enquanto eu sonhava com as areias do deserto.

Arrebatada perguntei de maneira impertinente:

– Anjo, você acha que no túmulo

acaba a vida como um sol poente?

Sua resposta foi ambivalente:

– Pode ser que a alma continue

ou desapareça no túmulo silente.

Sou um Anjo, nunca esquadrinhei

os meandros da criação divina;

eu não conheço todas as respostas,

mas sou um Anjo e o mundo me fascina.

Depois, apoiou-se no zodíaco de Dendera e falou:

– A vida humana é como uma trilha na selva.

O homem é só um microcosmo e até as paixões

estão escritas com tinta nas estrelas.

São as estrelas as grandes condutoras

deste Universo de papel e fantasia

que ancora sonhos e esperança e amor e ódio e poesia.

É preciso ser um leitor das estrelas muito atento,

perscrutar o céu, contemplar auroras,

compreender os relatos mitológicos,

pensar no zodíaco, nos quadrantes,

analisar as sinastrias e os círculos astrológicos.

É preciso avançar com cautela

(calmamente)

e perseguir o rasto da sincronicidade

entre os gestos humanos e as estrelas.


As novas invasões bárbaras


Os bárbaros invadiram
barbaramente armados de ilusões
e mentiras
sentiram-se heróis

mas terminou o Carnaval
e a realidade os desarmou
e voltaram a ser
aquilo que sempre foram
ingênuos
refréns da emoção
senhor
e senhora
ninguém.


Ainda …


Ainda tenho a memória do musgo
enrolada nos tornozelos do tempo
e nos dias cinzentos
a memória sucumbe ao silêncio
e se torna remota
e ressurgem as lembranças
das palavras que ouvia no berço

depois o destino adverso
espalhou tristezas
e caminhei pela praia dos versos
e descobri  a luz das estrelas e a voz do universo.


O rio de Heráclito


A dança do tempo
dos ciclos, da vida…
a maçã mordida
o copo quebrado
a xícara vazia

os anos passam
e a alma ferida
os sonhos oxida

o riso e a ausência
chega a velhice
é a  impermanência

mais um passo
e o tempo devorará
os sonhos e os ossos

já falou o filósofo
“somos e não somos”
somos as águas do rio
a dança do tempo
e o sonho da vida
– além do rio de Heráclito
nada somos 

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POESIA: FUNÇÃO

a solidão avança entre espelhos quebrados

e se alimenta de exílios voluntários

por isso precisamos da poesia

– a poesia auxilia e nos salva dos naufrágios

a poesia nos ajuda a abrir as asas

ela coloca em nossos olhos

o brilho incandescente da esperança.


Chuva de sentimentos
 

quando chovem negativos sentimentos
e as palavras rodopiam com o vento
e sem arrependimento avançam
pela hipotenusa da memória
precisamos do guarda-chuva do discernimento
e de um pouco de talento para reunir as palavras
poetizar a nossa história
e vencer o desalento
escondido nas espirais do tempo.


VIDAS DE PAPEL


A vida parece um pincel
retratando barquinhos de papel

pois o ser humano é efêmero
e muitas vezes o ser anônimo
revela que a vida é vela acesa
e que o tempo engessa os sonhos

mas na próxima primavera
sobre as flores do cemitério
ressurgirá a vertigem das borboletas
e serão refeitos sonhos e quimeras


O POETA 

Sonha com poemas e acorda na noite, 

escrevendo com os dedos versos no ar. 

Adora navegar sobre ondas de folhas em branco,

velejar nos cadernos novos, 

pular sobre areias de palavras,

correr na praia procurando o Verbo.

Livros, cadernos, papéis e mais papéis… 

Continua a lutar com ondas indomáveis, 

organiza os termos, 

mas só ancora no oceano dos sentimentos. 

Nesse instante, o poeta compreende 

o poder do caos primordial.


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2 Comentários em “15 Poemas de Isabel Furini”

  • Flavia Ferrari

    diz:

    Que maravilha! Adorei! Parabéns Isabel Furini!

  • Isabel Furini

    diz:

    Muito obrigada pelo espaço poético, Jéssica Iancoski.

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