6 Livros Decoloniais Escritos por Mulheres Latino-Americanas que Reescrevem a História

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A literatura tem sido, ao longo dos séculos, uma das ferramentas mais potentes de reprodução do poder colonial. Mas também tem sido — e cada vez mais — um espaço de insurgência, reescrita e enfrentamento.

Nos últimos anos, autoras latino-americanas vêm ganhando espaço (e atenção internacional) ao proporem uma literatura que não só contesta o colonialismo, mas o desconstrói desde dentro: linguagem, corpo, mito, território e memória são tensionados, redesenhados e devolvidos ao leitor com voz própria, crítica e radicalmente feminina.

Este artigo reúne seis livros fundamentais para quem deseja conhecer a potência da literatura decolonial escrita por mulheres latino-americanas. São obras que atravessam o romance, a poesia, o ensaio e o manifesto — e que desafiam, com coragem e beleza, a história única imposta à América Latina.

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🌺 Flor de Gume — Monique Malcher (Brasil)

Vencedora do Prêmio Jabuti na categoria contos, Monique Malcher constrói narrativas breves e cortantes sobre mulheres amazônidas, seus afetos, dores e resistências. Flor de Gume mistura lirismo e crueldade em cenas do cotidiano de mulheres comuns: que vendem mingau, dançam forró, criam filhos sozinhas e carregam em seus corpos o território do abandono.

É uma literatura que rompe com o imaginário exótico da Amazônia, devolvendo a palavra às vozes silenciadas por séculos de apagamento.


🌎 América Xereca — Eugênia Uniflora (Brasil)

Finalista do Prêmio Mix Literário (2024), América Xereca, publicado sob o heterônimo Eugênia Uniflora da escritora Jéssica Iancoski, é um poema-manifesto de erotismo político e crítica colonial.

A autora transforma o corpo feminino e latino em território de confronto, denunciando a exploração histórica da América sob uma ótica crua, sensual e insurgente. A xereca, aqui, é símbolo e linguagem — lugar de nascimento, terra invadida, força ancestral. Uma obra que incomoda, provoca e, justamente por isso, permanece.


🐚 Bastarda — Trifonia Melibea Obono (Guiné Equatorial)

Embora escrita por uma autora africana, Bastarda integra essa lista por seu impacto entre mulheres negras latino-americanas, especialmente por sua tradução ao espanhol e recepção na América do Sul.

Trifonia denuncia o patriarcado e o colonialismo em Guiné Equatorial, única nação africana de língua espanhola. Sua protagonista, uma jovem lésbica em luta contra as imposições culturais da tradição, se torna símbolo da interseção entre colonialismo, gênero e identidade. Uma leitura curta, porém explosiva.


🌊 Ch’ixinakax utxiwa: Una reflexión sobre prácticas y discursos descolonizadores — Silvia Rivera Cusicanqui (Bolívia)

Silvia Rivera Cusicanqui é uma das maiores referências do pensamento decolonial indígena na América Latina. Neste livro, ela mistura teoria, memória, sociologia e crítica cultural, rompendo com os paradigmas ocidentalizados do saber.

Sua proposta parte da ideia aymara de ch’ixi — aquilo que carrega em si contradições, coexistências e misturas — para criticar a lógica binária e hierárquica do pensamento colonial. É uma leitura densa, mas essencial para compreender os fundamentos da resistência decolonial.


🔥 Nuestra piel, nuestra arma — Daniela Catrileo (Chile)

Poeta mapuche, Daniela Catrileo escreve com sangue e sopro sobre o corpo indígena feminino. Neste livro, seus versos confrontam a brutalidade do Estado chileno, o apagamento dos povos originários e a fetichização do corpo mapuche.

Com imagens potentes e linguagem híbrida, Daniela afirma que a pele é também resistência. Seus poemas caminham entre o corpo e o território, entre a cicatriz e a reexistência.


🌿 Las cosas que perdimos en el fuego — Mariana Enríquez (Argentina)

Embora muitas vezes lida como autora de horror contemporâneo, Mariana Enríquez mergulha, nesta coletânea de contos, nas profundezas do trauma social argentino — com mulheres pobres, jovens, violentadas, esquecidas.

A violência colonial e de gênero aparece nas entrelinhas: nas casas abandonadas, nos corpos em combustão, nas histórias que ninguém quer ouvir. A escrita de Mariana é crua, mas profundamente literária — e carrega em si o grito contido de séculos de opressão.


📌 Conclusão: Ler mulheres é reescrever a história

A literatura decolonial feita por mulheres latino-americanas não está apenas contando outras histórias — ela está desenterrando camadas inteiras de silenciamento, apagamento e imposição.
Ela reconta a história da América Latina com sangue menstrual, com luto ancestral, com língua bifurcada e voz insubmissa. Por outras mãos, outros corpos, outros vocabulários — que não pedem licença, porque nunca tiveram espaço.

Ler essas autoras é abrir o ouvido ao que foi negado. É ouvir a terra falando, os mitos vivos, os corpos violentados que ainda estão em pé.
É uma forma de lembrar que a colonização não foi apenas um processo político — foi também linguístico, simbólico, afetivo.
E que escrever, para essas mulheres, é uma forma de descolonizar o mundo de dentro para fora.

Essas obras não cabem na lógica do consumo rápido, nem na estética da neutralidade. Elas incomodam, deslocam, rasgam o idioma.
E justamente por isso, permanecem.

Ler essas mulheres é também reaprender a ler o próprio corpo, o próprio país, o próprio lugar no mundo.
É um exercício de desaprendizagem colonial.
É, acima de tudo, um gesto político de aliança e escuta.

Cada livro dessa lista é uma fresta aberta num muro que já não nos serve mais.
E quando essas mulheres escrevem o território, ele não apenas deixa de ser colônia — ele volta a ser chão. Com sangue, com suor, com voz.
Incontrolável. E por isso mesmo, tão necessário.

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