Quando fundei a Toma Aí Um Poema (TAUP), em 2020, eu não imaginava que, em poucos anos, estaria à frente da primeira editora-ONG do Brasil, publicando autores de todo o país, movimentando campanhas de pré-venda, recebendo prêmios e enfrentando — todos os dias — os desafios de fazer cultura no Brasil com ética, afeto e impacto real.
Com menos de 30 anos, poucos recursos e uma certeza: a literatura precisava ser mais do que um produto — precisava ser acesso, voz, reparação.
Hoje, depois de mil autores publicados, quase R$ 1 milhão arrecadado por financiamento coletivo, dezenas de oficinas, prêmios, feiras e projetos sociais, compartilho aqui cinco coisas que aprendi nessa caminhada intensa e transformadora pelo terceiro setor:

1. 📚 Você não precisa começar grande para causar impacto real
Comecei a TAUP com uma ideia na cabeça, uma rede de apoio pequena e nenhum investimento externo. O que eu tinha era urgência. Vontade de criar uma estrutura que acolhesse quem o mercado não acolhe. Aprendi que, no terceiro setor, o impacto não depende do tamanho do orçamento, mas da profundidade do compromisso. Projetos pequenos, com propósito, constroem raízes. E raízes sustentam florestas.
2. 🤝 Escutar é mais importante do que selecionar
No mercado editorial tradicional, tudo gira em torno da curadoria: quem é escolhido, quem “merece” publicar, quem passa pelo crivo. No terceiro setor, aprendi que escutar é um gesto mais potente do que filtrar. Quando você escuta de verdade — sem julgar sotaque, linguagem ou formação — você descobre potências que o mercado nunca soube reconhecer. A escuta é o alicerce do acolhimento.
3. 🧩 Afeto também é tecnologia
Gestão, captação, logística, planilhas — tudo isso importa. Mas nenhuma dessas ferramentas funciona se não forem atravessadas por escuta, empatia, cuidado. No terceiro setor, especialmente na cultura, o afeto é uma força de mobilização. Ele não é o contrário da profissionalização — ele é o que torna o processo profissional mais humano, mais ético, mais comprometido.
4. 📦 Distribuir livros é também redistribuir poder
Publicar mil autores em obras individuais não é só um dado bonito. É um movimento simbólico de reconhecimento de vozes, de descentralização, de reparação histórica. Quando um autor periférico vê seu nome numa capa, com ISBN, projeto gráfico, lançamento e presença em uma feira nacional, algo se reconfigura — nele e no mundo ao redor. Literatura também é ferramenta política. E publicar com consciência é redistribuir poder simbólico.
5. 🌱 É possível fazer diferente — mesmo que o mundo diga que não
No caminho, ouvi muitas vezes que uma editora-ONG não se sustentaria. Que não dava para viver de poesia. Que pré-venda era instável. Que apostar em autores estreantes era “arriscado”. Mas aprendi que, no terceiro setor, a força está justamente em romper com o que disseram que era impossível. Fazer diferente é mais difícil, sim — mas é também mais verdadeiro.
💬 Conclusão: não é sobre mim — é sobre o que estamos criando juntos
Liderar um projeto no terceiro setor antes dos 30 me ensinou que o mais importante não é o currículo, o cargo ou o CNPJ. É o compromisso diário com o que você acredita. E eu sigo acreditando que a literatura pode — e deve — ser um espaço de acolhimento, escuta e transformação.
Se você também acredita nisso, bem-vinde.
Tem lugar na nossa história pra você também.
Jéssica Iancoski
Jéssica Iancoski (1996) é editora, poeta e articuladora cultural. Presidente da Associação Privada Sem Fins Lucrativos Toma Aí Um Poema, a primeira editora no modelo ONG do Brasil, já faturou mais de R$ 1 milhão no mercado editorial, consolidando-se como referência em inovação e impacto social. Graduada em Letras (UFPR) e Psicologia (PUCPR), com especializações em Gestão de Projetos e Negócios, é autora de mais de 10 livros, incluindo A pele da pitanga (finalista do Prêmio Jabuti). Reconhecida por sua atuação inclusiva, publicou mais de 2 mil autores e produziu mais de 1.500 poemas audiovisuais, alcançando 1 milhão de acessos. Jéssica também recebeu prêmios como o Candango de Literatura (GDF) e Sérgio Mamberti (MinC) e, atualmente, é curadora do Prêmio Literário da Cidade de Curitiba.