Quatro poemas de Rafael M. Mendes, para o Toma Aí Um Poema.
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Por um mundo com mais poesia!
Sou um jovem de 16 anos residente de Santo André, São Paulo, Brasil. Comecei a escrever há mais ou menos dois anos após anos questionando meu valor em relação aos outros e a mim mesmo. A escrita ressignificou muitas de minhas dificuldades e maiores problemas, mesmo que eu ainda os possua. A satisfação de colocar uma parte de mim no papel, florescendo o que sinto, é sempre incomensuravelmente prazerosa e gratificante.
Sóbri algo
Uma sombra entra em um bar
Ninguém olha horrorizado
O vulto ambiente faz dela altar
Nenhum dado é parado
Atravessando indistintamente o salão
Ninguém a encara com a mão no coldre
Senta-se devagar, se colocando sobre o balcão
Ninguém fica intrigado e levanta, fazendo ranger o podre
A sombra pede o habitual, uma dose dupla de desvanecer
Ninguém decide sentar ao lado e ordena o mesmo
O copo demora a ficar cheio sob a garrafa entornada
Ninguém engole seco e tenta arrancar o nome, a esmo
Relutantes momentos depois vem resposta: Nada
Ninguém ouviu sobre Nada enquanto a lua não se punha
Ninguém falava e Nada respondia
Nada gesticulava e Ninguém entendia
Ao fim da noite, Nada nem Ninguém saíram do bar
Prometendo, um ao outro, ali para sempre ficar
Ninguém precisava de Nada
Nada pertencia a Ninguém
Seu filho, Vazio, recita esse uivar
E para sempre há de recitar,
Enquanto ao coração compenetrar
A memória de Nada e Ninguém irá se eternizar.
Sóbri algo
Uma sombra entra em um bar
Ninguém olha horrorizado
O vulto ambiente faz dela altar
Nenhum dado é parado
Atravessando indistintamente o salão
Ninguém a encara com a mão no coldre
Senta-se devagar, se colocando sobre o balcão
Ninguém fica intrigado e levanta, fazendo ranger o podre
A sombra pede o habitual, uma dose dupla de desvanecer
Ninguém decide sentar ao lado e ordena o mesmo
O copo demora a ficar cheio sob a garrafa entornada
Ninguém engole seco e tenta arrancar o nome, a esmo
Relutantes momentos depois vem resposta: Nada
Ninguém ouviu sobre Nada enquanto a lua não se punha
Ninguém falava e Nada respondia
Nada gesticulava e Ninguém entendia
Ao fim da noite, Nada nem Ninguém saíram do bar
Prometendo, um ao outro, ali para sempre ficar
Ninguém precisava de Nada
Nada pertencia a Ninguém
Seu filho, Vazio, recita esse uivar
E para sempre há de recitar,
Enquanto ao coração compenetrar
A memória de Nada e Ninguém irá se eternizar.
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Ínfimo
Línguas mortas eu almejo ditar
Para que assim talvez consiga expressar
Meu canto
Meu pranto
Meu humilde e, deveras passageiro, encanto
Palavras antigas eu gostaria de entender
Para que, no emaranhado de siglas e glifos, eu possa reconhecer
As que me sustentam
As que me esquentam
As que, a mim, entoam o alvorecer
Desejo sabê-las para ter algo a passar
Algo a ensinar
Algo com que eu possa cativar e
Algo que, a ti, eu possa dar
Algo que me faça incomum
Que me faça deixar de ser apenas algum
Que me faça transparecer a integridade de Ogum
Ao fim, só procuro não ser banal
Em meio a tantos de essência surreal
Temo não ser digno do teu voto
Temo assemelhar-me a um devoto
E não poder juntar-me a tua grandeza magistral
De me desfazer ao teu ver
Ou que me julgues desinteressante
Poderia roubar-lhe um instante?
Para tentar provar meu valor
Transcreverei uma língua morta
Responderei à perguntas sem resposta
Serei, do que julgas vívido e belo,
Um praticante desenvolto
Mas acho que novamente cumpri minha sina:
Falara demais.
Dissera muito pouco.
Plano de Coelho
Toda vez que sento sedento diante desta seca seiva
Procurando incessantemente, angustiosamente e inexoravelmente
Expurgar um trecho dessa fabulosa estória
Receio ter de lembrar-me da verdade do conto
Não há tantas maravilhas, nem tanto brilho ou redenção
Raramente há sequer perdão
Desço dez tons
Opaco-a gradativa, graciosa, violenta
Mente
Até um sfumato púrpura batido, ralado, sangrando
Jogado, arfando, suando, caindo
Cansado, insinuando, proclamando, acabando
“Ando, ando e ando”
Mais uma volta no labirinto
“Parando, procurando, correndo”
A mesma curva
“Respirando, gemendo, recompondo”
Mudando
Mundano
Mancando
Achava muito, sentia pouco, não era nada
Portava guia, retinha sopro, selava entrada
Guardava mapas, buscava em outro, rasgava a cada
Amava o mundo, ignorava o todo, se fazia estrada
Ensaiava tudo
E nenhum espetáculo dava
Vaias
Covil vazio, cheio de lacraias
Não por opção, minhas lacaias
Escondidas no bordado da veste
Saia
Mancando
Mundano
Mudando
Achava muito, sentia pouco, não era nada
E, tateando pela quadringentésima vigésima sexta vez,
O mesmo teixo
O mesmo trecho reverberava:
“Tentando, tentando, tentando”
E, sem sombra, penumbra ou feixe
De dúvida, com dúvida, na dúvida
Tentava.
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