
Quando se fala em literatura paranaense, dois nomes costumam surgir de imediato: Dalton Trevisan e Paulo Leminski. Embora fundamentais, eles não representam sozinhos a riqueza e diversidade da produção literária do Paraná. Hoje, uma nova geração de escritoras e escritores do estado tem se destacado com obras que transitam entre a poesia, a prosa, o ensaio e a performance, renovando o modo de narrar, sentir e imaginar o Brasil a partir do Sul.
Esses autores contemporâneos escrevem desde perspectivas plurais, trazendo para o centro da escrita temas como identidade, território, gênero, corpo, ancestralidade, neurodivergência e experiências periféricas. Muitos deles atuam também como editores, artistas visuais, músicos e produtores culturais, o que torna sua literatura ainda mais conectada com as múltiplas linguagens da arte e com os debates mais urgentes do nosso tempo.
A força da literatura feita no Paraná está, justamente, na sua diversidade. Entre as vozes que se destacam hoje estão mulheres, pessoas LGBTQIA+, indígenas, neurodivergentes e artistas de diferentes regiões do estado. São autorxs que atuam fora do eixo Rio-São Paulo e, mesmo assim, têm conquistado espaço em premiações, eventos literários e coletâneas nacionais. Seu trabalho mostra que a cena cultural paranaense vai muito além do que os manuais escolares registraram.
Muitos desses nomes circulam em editoras independentes, em zines, nas redes sociais e em saraus — espaços que desafiam a lógica comercial do mercado e apostam na bibliodiversidade. A produção paranaense é marcada por um lirismo que dialoga com a política, por um experimentalismo que respeita a oralidade e pela coragem de abordar as dores e delícias do existir. Ler esses autores é também um gesto de escuta e abertura para outras formas de viver e escrever o mundo.
Nesta seleção especial, destacamos 12 escritoras e escritores paranaenses que integram a antologia 100 Poetas Vivos. Eles representam diferentes gerações, estilos e trajetórias, mas têm em comum a potência de uma escrita viva, corajosa e necessária. Para além de Dalton e Leminski, é hora de conhecer — e celebrar — outras vozes que estão redesenhando o mapa literário do Paraná.
1. Mabelly Venson
Mabelly Venson é uma matemática que se apaixonou pela escrita — e desde então não parou de criar. Escritora, editora e articuladora cultural, é uma das responsáveis pela curadoria e produção da Editora Toma Aí Um Poema, onde atua como parteira de livros que priorizam a diversidade de vozes. É autora das obras Tudo Que Queima, apenas mãe e GELO, nas quais investiga, com sensibilidade e contundência, as camadas e contradições da experiência de ser mulher. Sua escrita atravessa o corpo, a maternidade, o trauma e o silêncio, em uma poética que arde, expõe e acolhe. Além da literatura, Mabelly também se dedica à formação de novos escritores e ao fortalecimento do mercado editorial independente no Brasil.
2. Jéssica Iancoski
Jéssica Iancoski (Curitiba, 1996) é escritora, poeta, designer gráfica, psicóloga e editora. Finalista do Prêmio Jabuti 2022 e vencedora do Prêmio Candango de Literatura, é autora de mais de dez livros, entre eles A Pele da Pitanga, América Xereca, Fábulas de Anansi e TeXtosterona. Fundadora da Editora Toma Aí Um Poema — a primeira ONG-editora do Brasil —, já publicou mais de 2 mil autorxs, com foco em mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas, neurodivergentes e em situação de vulnerabilidade. Sua atuação no mercado editorial se destaca pela união entre literatura e impacto social, com projetos que somam mais de 1 milhão de visualizações nas plataformas digitais. Além de editar, Jéssica ministra oficinas, organiza prêmios literários e atua como curadora em projetos culturais que promovem a bibliodiversidade no Brasil.
3. Guilherme Eisfeld
Guilherme Eisfeld busca nas palavras uma forma de se reconciliar com o mundo e consigo mesmo. Curitibano não-praticante, é editor, escritor e leitor contumaz. Em 2023, publicou seu primeiro livro de contos, Pedaço de pano para secar enxurrada, obra que transita entre delicadeza e desassossego, e desde então tem se dedicado a explorar novas formas de escrita e escuta. Também atua como editor na Toma Aí Um Poema, onde acompanha o nascimento de livros de autorxs das mais diversas origens, contribuindo para um mercado literário mais plural e acessível. Sua trajetória é marcada por uma constante transformação — como quem escreve não para afirmar verdades, mas para seguir perguntando.
4. Gisela Maria Bester
Gisela Maria Bester é escritora das letras jurídicas e literárias (poeta livre, haicaísta, cronista e contista). Possui Mestrado em feminismos, sufragismo e ações afirmativas, Doutorado em ditaduras brancas e Pós-Doutorado em sustentabilidades. Seu livro de poemas Pinte-me de Azul! (Mondru), é finalista no Prêmio Literário da Cidade de Curitiba 2024. @giselabesterescritora
5. Denise Lisboa
Denise Lisboa, nasceu em 1985. É mãe, psicóloga e gateira. Paranaense, não por escolha. Escreve umas coisas quando as palavras chegam, em geral em meio ao caos.
Segue sobrevivendo exausta ao capitalismo tardio e à crise estética que nos assola.
6. Rodrigo Domit
Autor dos livros Colcha de Retalhos, Ruínas da Consciência e Coisa Pouca.
Teve contos e poemas selecionados em concursos literários e publicados no Brasil, em Portugal, na Alemanha e na Argentina.
Criou e mantém desde 2011 o projeto voluntário Concursos Literários.
7. Sandro Sedrez dos Reis
Paranaense erradicado, natural de Rio do Sul (SC), Sandro é formado em Filosofia e em Gestão de Sistemas de Saúde. Participou do grupo do Varal Literário (UFSC) na década de 1980. É autor de contos, novelas e poesias. Acredita que histórias e versos criam pontes entre os sonhos e os caminhos humanos. E isso nos faz perseverar na aventura da existência, transformando a jornada.
8. Taíssa de Nadai
Taíssa de Nadai é formada em direito e graduanda em letras pela UFPR. Apaixonada pela busca de caminhos interiores e oníricos às realidades hostis, sempre se mostrou bastante afeita à utilização da arte como ferramenta de mudança social. Em 2023, publicou seu primeiro livro de literatura, Restos do devaneio, pela Editora Patuá.
9. Andrey Cechelero
Andrey Cechelero é Músico, multi-instrumentisma, filmamker e escritor de Curitiba, Paraná. Como artista da gravadora AZUL MUSIC já lançou 24 álbuns desde 1998. Como escritor já editou 4 livros. Andrey tem um trabalho intenso nas redes sociais com poemas que falam à alma.
10. Fialco de Oliveira
Fialco de Oliveira escreve há cerca de quinze anos e, recentemente, descobriu o desejo de compartilhar publicamente seus pensamentos mais internos — especialmente aqueles que ganharam forma poética. Formado em Letras pela UEL, considera a palavra escrita a expressão da subjetividade por excelência.
11. Manoel Lima
Manoel Lima, poeta, músico de Curitiba-PR.
Escreve desde o Ensino médio.
As inspirações vem das vivências da periferia, leituras e as ideias que surgem do ócio.
12. Sandra Pinto
Sandra Pinto é carioca da gema e, em 2019, realizou um antigo sonho ao se mudar para Curitiba. Amante de gente, crianças, bichos e das artes em geral, é graduada em História e trabalhou no Arquivo Nacional, onde se aposentou em 2014. Após a aposentadoria, reacendeu uma paixão da juventude: a psicologia de Carl Gustav Jung. Especializou-se em Psicologia Analítica e em Arteterapia. A escrita sempre esteve presente em sua trajetória, atravessando momentos de tranquilidade, paixão e turbulência. Para Sandra, escrever é vital — um gesto de acender uma lanterna e iluminar os esconderijos secretos da alma.